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John Zorn

O último génio dos nossos tempos?

É já dia 27 que John Zorn volta Portugal. Desta feita, inserido na 7ª edição do Portalegre Jazzfest, o conceituado músico que há bem pouco tempo lançou mais um álbum a solo, “The Crucible”, vem cá demonstrar o porquê de tanto alarido à volta dele.

Julgo que todos nós já ouvimos falar de John Zorn. Músico vanguardista que liderou projectos como os Cobra ou os Naked City. Autor, compositor e responsável por quase uma centena de discos. Produtor e colaborador em diversos projectos, a convite dos mais variados artistas. Fundador da editora Tzadik Records, intérprete de jazz, mero saxofonista… É difícil não encontrar o nome John Zorn se fores um regular consumidor de música. Mas para aqueles menos familiarizados com o mundo de Zorn, aqui fica um leve background.

John Zorn nasceu em Nova Iorque em 1953. Desde cedo desenvolveu um abrangente e diversificado gosto pela música. Do jazz ao rock, da world music ao country, foram diversos os estilos que de alguma forma tocaram e mais tarde moldaram a sua forma de escrever música. Teve algumas bandas, aquelas de miúdo, nada de importante. Já com 23 anos e na Webster College onde estudava música, o multi-instrumentista que agora tinha como arma predilecta o saxofone, começou a compor os seus primeiros temas. Mas, foi apenas quando desistiu da faculdade e regressou a Nova Iorque que John Zorn começou a ganhar notoriedade, tanto como performer nos vários clubes da cidade mas também como membro da nova “Downtown Scene”.

Embora Zorn já tivesse gravado algumas colectâneas que mais tarde seriam editadas, foi “The Big Gundown” de 1985 que ficou para a história como o seu primeiro álbum. Este disco contava com interpretações de vários temas de Ennio Morricone que tinham sido adaptados à sétima arte. Convém frisar que grande parte da música de Zorn serviu de banda sonora para inúmeros filmes independentes, documentários, cartoons… Bandas sonoras essas documentadas na interminável colectânea “Filmworks”.

Nos finais de 80, Zorn lançou dois álbuns importantes de mencionar, não só pela nova abordagem ao jazz, mas também pelas diferentes formas que encontrou para se estimular a si e aos músicos com quem trabalhava. “Spy vs Spy”, um tributo a Ornette Coleman em que Zorn, com músicos convidados e muita improvisação, apresentava versões bem mais punk das músicas do veterano saxofonista; e “Spillane”, um álbum também ele de tributos mas que se distinguiu pela forma como foi feito. Zorn escrevia em vários cartões uma ideia, um tema, um cartoon, tudo o que lhe viesse à cabeça, sem nunca escrever uma nota. A composição propriamente dita só começava depois da morosa tarefa de organizar as centenas de cartões segundo uma lógica. É como pegar aleatoriamente em 25 das vossas 1000 fotos e tentar fazer uma história.

Outro álbum digno de registo é “Cobra”, de 1985, da banda formada por Zorn com o mesmo nome. Um pouco duro de ouvir, é certo. No entanto, destaca-se mais uma vez pelo processo de composição pouco convencional. Desta vez a ideia era improvisar de acordo com certas regras. Exactamente como num jogo, existiam muitas regras e variantes que os músicos tinham que respeitar quando tocavam. Caótico, como só Zorn sabe.

Em 1988 forma os Naked City, talvez o trabalho mais conhecido de John Zorn. Graças a uma sonoridade mais rock, a banda atingiu um público mais vasto e o compositor era agora conhecido fora da esfera do jazz. Os Naked City ainda lançaram 6 álbuns, porém a banda dissolveu-se após o último, “Absinthe”.

Já nos anos 90 nascem os Masada. Projecto em que Zorn explorava as suas origens, misturando o jazz com sonoridades tradicionalmente judaicas. A banda que já veio a Portugal conta com uma série de discos lançados pela editora fundada por Zorn, a Tzadik Records.

Por incrível que pareça, este foi mesmo um pequeno resumo da contínua contribuição de John Zorn para o mundo da música. Ao longo dos anos, formou mais bandas, trabalhou com inúmeros músicos e lançou muitos mais discos. É impossível falar de todos os trabalhos do compositor, mas espero que tenham ficado com uma ideia.

John Zorn, que esteve em Agosto do passado ano em Portugal com Fred Frith, volta agora na companhia de Cyro Baptista, talentoso e carismático percussionista com quem Zorn já trabalhou nos Masada. Para quem nunca viu, ou para os tais menos familiarizados com estas lides, têm agora a oportunidade de se juntarem aos admiradores incondicionais de Zorn em Portalegre e assistirem ao vivo à actuação daquele que é considerado por muitos o último génio dos nossos tempos.



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