Jorge Cruz – “Barra 90”
Ponto de partida: Aveiro - cidade de moliceiros, de doces e de paisagens singelas com dunas e mar. Tem também um farol que ilumina o limite entre o fim da terra e o princípio das aventuras marítimas. Foi nesta cidade que Jorge Cruz nasceu, cresceu e absorveu toda a aprendizagem empírica da vida.
Em “Barra 90”, o mais recente álbum editado em 2011, Jorge Cruz dá uma nova vida a letras que já tinham visto as ondas da rádio e que substancialmente foram sobrevivendo aos tempos, mas que necessitavam de uma mutação. Ao longo de 30 minutos e nove canções, reconhecem-se as diferenças e as cicatrizes de melodias que passaram a ter mais alma e com tendência a perdurar ainda por mais tempo no imaginário dos ouvintes mais distraídos.
«Praia da Barra» (de 1999) deixou de ser uma canção vazia apenas com acordes de guitarra audível em “O Pequeno Aquiles” para se tornar uma verdadeira paisagem sonora, com o mar como pano de fundo, onde se escuta a partida, o vaivém das marés e das recordações. Em «Um de Nós» (1996) ouve-se uma ode ao pop com diversos sintetizadores e, segundo declarações do próprio, “esta foi a primeira canção minha que ouvi passar na rádio”. Foi uma das canções que sobreviveu ao longo dos anos e que neste disco se destaca automaticamente. «Tornados» (1998) acaba com os ritmos cortantes para contribuir com a sua melodia simples e bela da qual conta com a colaboração de Márcia para as vocalizações.
O primeiro single deste disco, chama-se «Entre Iguais» (1993), é uma canção que, reportando à época, se torna provocatória. Inspirada pelo amor homossexual de um amigo da irmã de Jorge. Li, numa explicação escrita pelo próprio Jorge Cruz que “numa fase anirvanada dos Superego tocávamo-la em locais hostis e eu e o baixista dávamos um beijo na boca – o público ficava enraivecido”. Para a incluir em “Barra 90”, o cantautor convidou B Fachada, outro artista irreverente nas suas composições, para emprestar a sua voz, dando assim outra tonalidade à melodia. “A gente no nosso país é livre… O nosso país é lindo” é umas frases que podemos escutar em «Filipa, NY/T-Shirt» (1995). Uma canção que funde as palavras de sua irmã, que se encontrava em Nova Iorque, e de uma senhora chamada Luzia, que dá sábios conselhos sobre a vida nada fácil.
Nesta viagem ao percurso ilustrado por Jorge Cruz, encontramos ainda «36» (1994) e «Exausto» (1997), segundo single do disco, que tem uma roupagem completamente diferente da que é audível em “O Pequeno Aquiles” e que se prolonga com a sequela melódica de «Roupas – parte 1» (1997). Para terminar, aquela que é, segundo o próprio autor, a sua canção favorita do álbum, «Lugar Privado» (1998) surge totalmente revigorada por B Fachada, que lhe dá o toque enigmático, de algo verdadeiramente privado que não pode ser revelado.
Sendo Jorge Cruz “um tipo que faz canções”, estas canções em específico foram escritas por um tipo que gosta de mostrar o que lhe vai no subconsciente e que se preocupa com a linguagem de uma mensagem clara e simplificada. Todos os ingredientes estão aqui. Basta sentar, fechar os olhos e deixares-te levar nesta viagem sonora que depressa ganha forma tal qual géneros cinematográficos.
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