José James @ Museu Oriente
Blackmagic
No passado dia 24 de Fevereiro a sala do piso 5 do Museu Oriente lotou. O motivo veio de Nova Iorque via José James e exprime, em inflexão aprimorada, o cruzamento de linhas de raízes nova-iorquina e inglesa que combinam fervores urbanos da maior das simplicidades (hip-hop e drum n´bass respectivamente) com outros, de origens e certezas fortes e profundas (blues, soul), que apartaram pelos States, em tempos, lutas de direitos cívicos em vozes como Marvin Gaye, ou mesmo Otis Redding.
“Blackmagic”, o mais recente trabalho do músico nova-iorquino editado pela Brownswood Recordings, foi o pilar de um espectáculo que primou, antes de tudo, pelas vozes (José James e Jordana De Lovely) e virtuosismo instrumental dos músicos que o acompanham em tour (postos em evidência um a um, ressalvando-se a habilidade entusiasta do baterista).
O diálogo estabelecido entre os músicos foi uma constante ao longo da noite e serviu, nalguns dos momentos, como espiráculo a passagens menos prováveis ou vigia improvisada, no espectro dos hip-hop e soul, como aconteceu na intrusão de «Electromagnetic» em «Park Bevor People» ou na nova, e longa, abordagem a «Work Song», originalmente celebrizada por Nina Simone – em que abraçou também o jaz, ora livre ora circunspecto – já no encore.
«Code» e «Blackmagic» registaram dois, especialmente a última, dos momentos que mais iluminaram a orgânica público/músicos. Servindo uma espécie de talismã soul brother, manifestado pelo expandir de alguma, inevitável, sincronia de disco, as músicas ganharam ao vivo a dimensão vital que lhes conferem premonição de carácter e alma.
O músico meneou com bateria, sem descompensar timbricamente a espiral das raízes em que aconchega a sua musicalidade, fê-lo com o baixo, isolado, a duas vozes – com Jordana – e, em rotatividade, com o piano, contando sempre, no seu instinto participativo, com as demonstrações de agrado dos presentes.
O que se preserva na memória auditiva/visual talvez seja mesmo essa capacidade aparentemente nata em José James de, incorporando sons e ritmos referenciais os retorcer até ao limite, voltar a eles sem se despenhar, uni-los sem destroçar e fidúciar nas suas opções uma atitude performo-musical que o distingue dos demais do meio actual em que gravita.
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