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Jameson Urban Routes S01 @ Musicbox (02.11.2023)

O Jameson Urban Routes ofereceu doses concentradas dividas algo longo de seis sessões, por isso não é de estranhar um início bem cedinho, logo pelas 20h30. Estivemos na sessão inaugural, que foi o espelho perfeito daquilo que é a identidade do JUR; eclético, irreverente e exemplarmente programado. Três registos distintos e dissonantes, mas que no final encaixam na perfeição.

Romeu Bairos traz-nos um cancioneiro das ilhas açorianos, num registo muito próprio, com um sotaque de São Miguel, muito bem vincado e uma viola, que pese embora não fosse campaniça, tornava impossível não trazer B Fachada à memória e que foi inclusivamente referido durante o concerto. A acompanhar Romeu Bairos esteve, Paulo Borges, exímio executante da arte de tocar acordeão, diretamente chegado de Macau e que pareceu sempre existir num plano superior, durante todo o concerto e, em simultâneo tornar a sua presença imprescindível. Um concerto que surpreendeu pela frontalidade, pela boa disposição e pelas interpretações apresentadas. Colocar o Musicbox a cantar com o devido sotaque, “És linda, és linda, és engraçada/ Tudo o que é bom tens contigo /Só te falta ser constante”, é digno de nota, tal como os agradecimentos feitos a… ninguém, porque assim o quis e estava no seu pleno direito. A fechar uma versão de «Para Ti Maria», dos Xutos, criada para os alunos de Romeu, rebaptizada como «Mochila», simples, fantástica, didática e bem-humorada.

R&B low key é realmente uma expressão que assenta como uma luva a Eddie Chacon, que traz um registo mais subtil, mas sempre com personalidade, secundo por uma banda altamente competente e com uma voz imaculada e sempre com a projecção adequada. As canções soam intemporais, polidas e com cirúrgicas imperfeições pelo meio que as tornam mais orgânicas e, de certa um reflexo daquilo que Chacon é como pessoa e artista, com um percurso que teve um longo hiato. O R&B de Eddie Chacon tem momentos em que revela uma faceta fringe, procurando territórios mais limítrofes usando, e bem, a percurssão, os teclados e o baixo, ora individualmente, ora combinando e equilibrando tudo no ponto.

Ana Faria Fainguelernt, rainha do Musicbox, e que responde como Ana Frango Elétrico em palco convocou e o público respondeu em massa. O Musicbox está à pinha para receber a carioca que não perde tempo e arranca com o funk de «Coisa Maluca» do recém-editado “Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua”. «Camelo Azul» é MPB apontada ao futuro no presente e «Insista Em Mim» enche-nos, enquanto que «Nuvem Vermelha» nos convida a levitar, mesmo tendo pouco espaço em redor para o conseguir fazer. Há detalhes e nuances nestas canções novas, que ao vivo parecem diluir-se um pouco, talvez pela pouca rodagem que as canções ainda têm (naturalmente) ou quiçá se não será mesmo uma escolha deliberada, conferindo-lhes um toque mais orgânico na sua existência em palco. Note-se que soam bem em ambos os formatos. «Promessas e Previsões» leva-nos ao incrível registo de 2019, “Little Electric Chicken Heart” e sentimo-nos inundados por um sentimento algo bucólico enquanto se canta em uníssono “Céu azul, longe na estrada”.

É fácil ver esta geração a ocupar nomes consagrados da música brasileira. Não duvidem. Daqui a 20 ou 30 anos falamos. «Chocolate» mostra como se pode pegar num registo típico e refiná-lo, inserindo pequeno elementos, que desafiam a norma, que esticam um pouco aqui e ali. Aquele meta esticadinho ali no meio faz maravilhas, faz avançar. Quando «Electric Fish» chega, apenas uma palavra vem à cabeça, “FESTÃO!”. E de seguida termina, porque as coisas boas são assim, raios parta…



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