Kirby Star Allies | SWITCH | Análise
Uma experiência sem igual na biblioteca das consolas modernas.
Masahiro Sakurai é conhecido por trabalhar arduamente com a sua equipa nos seus jogos. O seu novo jogo do Kirby, anunciado em Junho de 2017, chegou, em Março, para a Switch e o novo Smash Bros. também sairá este ano. Com o lançamento quase simultâneo de dois títulos das suas mais prezadas criações, terá Sakurai sucumbido ao stress? Ao jogar Kirby Star Allies, percebe-se como ele desanuvia depois de uma longa jornada de trabalho. Os jogos do Kirby contém um charme único entre qualquer franchise. Desde a jogabilidade aos menus, à música e às personagens, todo o seu conceito se resume à acessibilidade e diversão acima de tudo. É um jogo que procura entreter mais do que desafiar, com mundos construídos para encorajar o jogador a chamar um amigo para partilhar a aventura. A história é orgulhosamente cliché e os níveis são fáceis e encantadores onde se encontram inimigos quase sempre com um olhar ingénuo. Vivemos num tempo em que os jogos têm cada vez mais armas e menos sorrisos, mas são protagonistas como o Kirby que nos lembram que a diversão continua a ser o ingrediente principal em qualquer jogo. E esta nova aventura mantém-se fiel a essa máxima. Trabalhar neste jogo deve ser algo como uma bola de stress para Sakurai, algo que lhe lembra de levar as coisas com calma.
Apesar de ser visto como um jogo infantil, Kirby tem fãs de todas as idades. O vídeo de abertura mostra o protagonista a ser celebrado pelos seus amigos, sem parar de sorrir para a câmara. A música bem-disposta acompanha a progressão dos menus até começarmos a aventura, onde a narrativa se desenrola em pouco mais de um minuto. Um ser malvado quer espalhar a sua malvadez pela galáxia, por motivos incertos, e infecta todas as personagens com uma animosidade contagiosa. Todas excepto Kirby, que, para salvar os seus conterrâneos, faz exactamente o contrário e usa o seu poder para brotar amizades e recrutar aliados. Esta é a grande mecânica em Star Allies – atirar corações para transformar certos inimigos em amigos – oxalá fosse tão fácil na vida real. Cada um tem poderes especiais que se podem combinar para obter upgrades e completar puzzles, dando acesso a mais níveis e itens coleccionáveis. É um sistema interessante e adequadamente implementado, já que obriga o jogador a criar equipas diferentes e a experimentar várias combinações. E a profundidade das acções de cada personagem é surpreendentemente extensa, o que convida o jogador a absorver o seu poder e explorar os seus ataques. O único problema é quando um obstáculo nos obriga a reformular a equipa inteira para ter um combinação específica, o que, ocasionalmente, abranda a experiência. Para além disso, há momentos onde precisamos da equipa completa para formarmos uma roda, um comboio ou até uma corda-bamba, um acontecimento espectacular que é bem sucedido ao refrescar a jogabilidade.
Por outro lado, o prazer de passar os níveis não se resume às novas habilidades de cada personagens. Os próprios mundos têm um detalhe e estilo artístico deliciosos para o olhar, e a sensação de controlar o Kirby com os seus aliados complementa esta qualidade. Ainda mais quando descobrimos que o lobby, o mundo de onde acedemos aos níveis, evolui de uma maneira fantástica. Prefiro não revelar spoilers, mas gostava de deixar claro que é um dos melhores que já vi, e não demora muito até vermos a sua profundidade. Os puzzles são fáceis de ultrapassar, mas sentimo-nos realizados ao completá-los com outra pessoa. Mesmo que seja alguém inexperiente, o jogo é acessível o suficiente para que ninguém se sinta confuso com o que fazer, o que torna a comunicação entre jogadores particularmente agradável. No entanto, se nos encontrarmos sozinhos durante uma sessão, os aliados em CPU são surpreendentemente competentes e sabem logo o que fazer para avançar. Há segredos por descobrir, mas devem ser vistos como extensores de conteúdo, já que não desbloqueiam nada essencial para além da conclusão a 100%. Finalmente, os bosses consistem, maioritariamente, nos veteranos do universo Kirby, exceptuando algumas caras novas e carismáticas, embora sejam vítimas fáceis para uma equipa completa. A curva de dificuldade não aperta muito, pelo que fica ao nosso critério o desafio que nos queremos propôr – para uma experiência mais difícil façam sessões a solo ou apenas com o número necessário de aliados para os puzzles.
Quem está à procura de uma experiência leve, sem espinhas, irá gostar da nova aventura da bola cor-de-rosa.
Tendo dito isto, um dos possíveis defeitos do jogo é a ausência de dificuldade. A aventura principal é simples e os mais experientes acaba-la-ão em algumas horas. Felizmente, o pós-jogo oferece mais modos desafiantes. No entanto, creio que o objectivo de jogar Kirby não é realização pessoal por superar obstáculos, mas sim pelo prazer da sua simplicidade. É como ver um desenho-animado antigo e gostar dele pelo que é. Infelizmente, nesse aspecto, Kirby sofre um outro problema relativamente à sua competência gráfica. A falta de fluidez visual magoa particularmente um jogo como o Star Allies. Quando numa luta, os inimigos e os aliados muitas vezes se confundem numa bagunça irreconhecível, onde só encontramos o Kirby depois da poeira assentar. Neste caso, 60 fps (frames-per-second) teriam ajudado a tornar a acção mais fácil de seguir. Reservo a última queixa para a falta de mini-jogos adicionais, que neste jogo são só há 2, quando, em títulos anteriores, tínhamos mais e melhores. Contudo, sabemos que haverá DLC, com novas personagens para experimentar no jogo principal e repetir a aventura. Eu espero que também tragam mais mini-jogos.
Ainda assim, e concluindo, o jogo funciona perfeitamente e é um título refrescante para a Switch. Quem está à procura de uma experiência leve, sem espinhas, irá gostar da nova aventura da bola cor-de-rosa. Também é adequado para os jogadores mais novos, seja em idade ou em anos de experiência, pois o jogo consegue comunicar claramente os seus objectivos. Os inexperientes descobrirão vários elementos basilares de jogos de plataforma sem nunca comprometer a diversão com desafios frustrantes. A abundância de vidas que o jogo distribui garante que nunca se verá um Game-Over, nem um dedo apontado a acusar-nos de levar a equipa abaixo. Além disso, a música e os cenários estão sempre a torcer por um sorriso e “boas vibes”, e alguns dos segredos do jogo recompensam o jogador com referências e mensagens positivas. Não é um jogo tradicionalmente longo mas o conteúdo é algo único no mundo dos vídeo-jogos, uma experiência sem igual na biblioteca das consolas modernas. Afinal, depois de tanto trabalho, o que Masahiro Sakurai precisa é de um grande abraço e o seu próprio Kirby consegue replicar o sentimento no seu novo jogo. Apesar de alguns soluços, a receita ainda funciona. Talvez, para alguns, não valerá o preço total, mas, se procuram um mimo para partilhar com amigos, Kirby Star Allies é a sobremesa perfeita.
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