Kooltuga

Entrevista.

A Rua de Baixo esteve à conversa com Kooltuga, produtor de Hip-Hop que lançou no passado dia 25 de Abril mais um trabalho, desta vez com o título de “Kooltugal”, sucedendo a “Cultuga Nacional”. Kooltuga produz todos os instrumentais recorrendo única e exclusivamente a samples de música portuguesa, é esse o seu grande mérito. Mas desengane-se quem pensar que a música de Kooltuga vale só por esta particularidade.

Quem é o Kooltuga e em que consiste o projecto?

O Kooltuga é um produtor de Hip-Hop e acima de tudo um amante de música. Comecei a produzir há alguns anos, mas acabei por sentir que faltava qualquer coisa… não em termos de vozes de MCs, mas em termos de musicalidade, um tipo de sonoridade que se distanciasse do resto do Hip-Hop que se ouvia.

Não é que me goste de rotular de alternativo, mas se formos todos a samplar Funk, Soul, e sons orquestrais, estilos dos quais é baseado a maioria do Hip-Hop até agora, torna-se um pouco mais do mesmo…

Eu decidi pegar por onde se devia pegar, pelas nossas raízes, que basicamente é como começou o Hip-Hop Norte-Americano. Não seria “verdadeiro” pegar nessas raízes que não são as nossas… Quem é que não passou a vida a ouvir José Cid?

Fala um pouco de “Kooltugal” e quais as grandes diferenças em relação a “Cultuga Nacional”, registo anterior.

Começando talvez pelo “Cultuga Nacional”, foi um primeiro registo, se calhar um pouco mais “inocente” que este “Kooltugal”. Os samples utilizados são de músicas bem mais conhecidas, samplo muito standards das músicas vencedoras do festival da Eurovisão, muito Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo, Simone de Oliveira, Carlos Mendes…

O “Kooltugal” tem como principais diferenças o facto de ir buscar coisas mais antigas, mais “escondidas”. As estruturas das músicas também foram alvo de um outro tipo de atenção, o outro trabalho mal passava dos quinze minutos, as músicas eram demasiado curtas.

Este “Kooltugal”, sendo apenas instrumental, fez-me arriscar mais ao nível de aguentar uma duração normal de cada música, de modo a não saturar e não perder por não ter MCs por cima das batidas.

Não passa pela tua cabeça o convite a mc’s?

Sim passa. O facto de eu não ter MCs nos meus álbuns é meramente casual, é uma questão de se ter os contactos certos e de haver disponibilidade da parte dos mesmos. Pretendo no futuro vir a “dar voz” ao meu trabalho.

Sendo um projecto todo construído sobre samples portugueses, é tua intenção construir algo genuinamente português e que possa servir de “música de exaltação” do nosso país?

A minha intenção é realmente construir algo que seja considerado como genuíno. Acho que é uma decisão lógica pegar na nossa cultura musical, tantas vezes criticada e posta de lado, para a tentar refazer para que seja novamente apreciada e valorizada.

A aproximação à revolução de Abril não é politica, mas serve de mote para que esta nossa cultura Hip-Hop “Tuga”, sendo música considerada de intervenção, não perca esse poder interventivo.

Considerar a minha música como música de exaltação se calhar é demais. Neste momento ainda estou a lutar para ser ouvido, mas tento ao máximo criar algo que traga força e inspiração a quem me ouve.

Notei que na tua música não exploras muito o Fado, música nacional por excelência, é de alguma forma propositado essa “ausência”, se sim porquê?

Isso é uma verdade. Por acaso é uma pergunta que me fazem muitas vezes e quero ser bem entendido nesta questão: o facto de ainda não haver Fado nas minhas composições é devido a uma questão de musicalidade.

O que eu vou à procura nos temas que samplo é uma sonoridade específica. O Fado, neste ponto de vista, é muitas vezes igual. É quase todo baseado na guitarra portuguesa e, não o menosprezando, torna-se complicado de utilizar. Dou o exemplo: Se eu samplar uma música de fado num tema, certamente vou pegar numa linha de guitarra portuguesa e alguma voz. Se quisesse fazer outro tema iria ter de pegar em algo muito parecido, e assim provavelmente teria dois temas com uma sonoridade muito parecida, porque o som base seria sempre a guitarra portuguesa. De modo a não me tornar repetitivo, ainda estou à espera de escolher “aquela” música, que irei usar de certeza, mas terei de escolher uma música que se valha pelas outras.

Agora um pequeno exercício de possibilidades: trabalhando tu sobre samples de músicos portugueses, gostarias de trabalhar com algum desses músicos para construir uma música original, se sim quem seria o eleito e porquê.

Hmmm… “Suponhamos”…

A minha intenção é fazer música. É por isso que eu luto todos os dias, faço tudo isto por amor à música. Não utilizo a música portuguesa como veículo para dar nas vistas. O grande sonho seria realmente regravar alguns dos clássicos que samplo, com os “mestres” originais.

No entanto, a minha humildade não me deixa sonhar com isso. Há que reconhecer quem fez a história, os grandes poetas e trovadores. Por enquanto já me contentaria em fazer chegar a minha música aos intervenientes e conseguir alguma aprovação com isso.

Mas enquanto sonhamos, o José Cid não me sai da cabeça!

Quais são os planos para o futuro, coisas concretas e abstractas?

Futuro próximo é tentar divulgar ao máximo o meu trabalho, tentar chegar às pessoas, tentar passar a minha mensagem e, quem sabe, fazer com que esta nova geração se interesse pelo Hip-Hop em geral e pela música portuguesa em particular.

Vou tentar também, em princípio, ver se finalmente consigo juntar aí alguns MCs portugueses para lançar uma mixtape com algum talento nacional. Seria óptimo lançar isso no dia 10 de Junho, por exemplo.

Mais abstracto era ser convidado para fazer algum trabalho com projectos mais dentro do que faço, remisturas de temas de bandas portuguesas, Álbuns tributo, Bandas Sonoras… Já lá vão os Revistados mas…a ver vamos, como diz o cego.

Palavras finais?

Deixo aqui o repto a quem ainda não teve oportunidade de ouvir, para dar uma visita ao site oficial: kooltuga.web.pt para se pôr a par destes trabalhos e de mais alguma coisa que vá aparecendo de novo. Quero também agradecer a oportunidade concedida para a realização desta entrevista, mandar aí uma força para todo o movimento da Zona Centro e para todos os que me têm ajudado nesta caminhada. Paz!



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