Kumpania Algazarra @ República da Música (06.04.2013)

Kumpania Algazarra @ República da Música (06.04.2013)

A celebração de sempre

Com a edição do mais recente álbum prevista para o próximo dia 8 de Abril, os Kumpania Algazarra apresentaram “A Festa Continua” ontem, dia 6. Delineado como um trabalho beneficiante de cromatismo, de diversidade, flutuando entre sopros atrevidos e uma tropicalidade fluída, aguardava-se um espectáculo dos artistas para a audiência e vice-versa; uma ode à vida e a um nebulado carpe diem.

E, enfim, todos os elementos se verificavam a favor de tal acontecimento: o intimista ambiente que tomava conta da República da Música – note-se o palco de meio metro de altura -, onde por horas rastas conviveram com óculos vintage, onde o convívio se deleitava nos sorrisos expectantes e produzia um efeito de espectáculo de bairro, onde a consciente omnisciência do público se verificava uma constante informal. Lá fora, a rua escura, o beco monocromático da noite em contraste com a perene tolerância do recinto.

Começou, então, a música; não por termos de Algazarra, não por termos de instrumentos. O DJ batalhou agridocemente a sua mesa de mistura; se, no início, aglomerado às esforçadas boas-vindas gritadas pelo megafone, libertou constrições musculares, pés de dança e espíritos, por meio de timbres balcânicos, e passado hora e meia tomou como condição uma cáustica monotonia; as deambulações pelo drum n’ bass e seus derivados, principalmente, denegriram quem esperava pacientemente pelos Kumpania. O tempo tudo perdoa, mas quanto maiores eram as horas, mais dispensável se tornava a demora do DJ e da banda.

Apareceram. Posteriormente à “chegada de dois autocarros / camiões da azambuja”, os autores de «Maré», irreverentes de natureza, prostraram-se de alma frente à casa cheia da República da Música: foi precisamente essa música que firmou o início (ou, devo dizer, o segundo início?) da noite. Seguiu-se «Bachará»; seguiu-se a recepção menos persuasiva do que poderia ser. Realmente, a afável hostilidade que merecia a situação só se transformou em saltos alienados a partir de «Me No Slave», que fundiu a sua necessidade groovie com uma pulsação superior à da album version.

Foi correspondido; foi exponencial, minutos depois: pós-“acordeão estrangeiro momentâneo”, «Supercali» afirmou-se como o clássico capital que procurou a anarquia nesta sala tão cheia; entoava-se o refrão, Luís Barrocas vocalizava um gradiente sonoro menos amplo que o das pessoas. Pelo tempo esperemos, mas, entretanto, “A Festa Continua” aparenta desresponsabilizar-se da criação dos hinos de outrora; o desconhecimento efémero do novo trabalho contribui para tal.

Seguiu uma insipidez estranha em «A Festa Continua» que, pouco depois, deu lugar a «Pudim», num exagerado de sopros bem conseguido, e a «Será Chuva», convencendo, por fim, a personalização da música, a musicalização das pessoas. Seguiu «Oh Cidade», num crescendo subtil do trompete, aplaudido no seu silêncio; depressa escalou num êxtase esquizofrénico, depressa a audiência o incutiu; «Streching» assim se influenciou, inconscientemente, culminando eléctrica.

Tons depois, entre eles «De Roda do Tacho», beneficiando da aceitação pública, com «Rise Up And Get Ready» se despediram os músicos; depressa regressaram, apesar da recepção aquém das expectativas: quer por nichos do público, quer pela banda agora conformada. Regressou-se aos clássicos no encore e o público dançou; Barrocas incutiu à dança, incutiu à celebração: a constante interacção com a audiência revelou-se eficaz na construção do festim, nesse apelo incólume ao novo récord.

Foi, enfim, uma renúncia à misantropia; uma noite que augura novos espectáculos em cujo plano se encontram constantemente o calor humano. O lançamento (literal ou não) do álbum fixou-se como uma comemoração constante, uma panóplia de vibrantes vibratos dourados em que a sinceridade tomou um papel seguro. A festa continuou por meios acústicos camaradas de agudos e baixos, por agradecimentos ao crowdfunding, pela fresquidão musical auxiliada por luzes que mais luzes poderiam ser.

A festa continuou, feliz no palco e no chão feliz; a festa que não apelou à transcendência, mas que augura novas solenidades.

Conversa e showcase exclusivo para fãs

Com um novo álbum acabado de lançar, os Kumpania Algazarra apresentam “A Festa Continua” aos seus fãs em discurso directo e aberto a todos na próxima quinta-feira, 11 de Abril, no Bar do Teatro Rápido. Uma fantástica oportunidade de conhecer os membros da banda e fazerem-lhes todas as perguntas que sempre quiseram fazer. A conversa começa às 21.30 e vai ser moderada por Diogo Montenegro, da RDB. No final, os Kumpania Algazarra dão um showcase inédito e exclusivo para todos os presentes.

A entrada é gratuita, mas os lugares limitados. Garantam já o vosso lugar neste passatempo.

Evento no Facebook.

“A Festa Continua” será lançado amanhã, dia 8 de Abril: a RDB já ouviu e deixou a opinião aqui



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