Kyle Hall, Joy Orbison & Ka§par
Tríplice Aliança.
Diversas expectativas se criaram em torno da noite de 15 para 16 de Outubro no Lux. E não era para menos, pois a afamada noite iria contar com, rezam há muito entendidos no território vasto da música de dança, três prodigiosos da senda em várias das suas frentes: Joy Orbison-via Londres- Kyle Hall-via Detroit- e o “nosso” KaSpar.
Três jovens senhores que na infinitude do panorama urbano em que mergulham assumem desvios variados pelo terreno dançante como,entre outros,dubstep,uk garage ,house,experimental,funk e jungle.
O sentido de simples arte musical dos três DJs esclarecerá ainda melhor o leitor menos indagado se , antecipando a noite de 15/16 no Lux , me propuser a uma breve retrospectiva no âmago do percurso elogioso destes jovens indiscutivelmente talentosos.
A disponibilidade sensorial de efeito hipnótico de Orbison é diferente da multipicidade expressiva de cenários miracolosos do estreante Kyle Hall- que envolvem as atmosferas tão sedutoras como dicotómicas de Detroit. A analogia entre ambos poderá ser feita pela nega clara que dão à linguagem rectílinea no que a uma certa música de dança diz respeito e prova disso foi a noite que proporcionaram no mês antecedente pela discoteca lisboeta. Ka§par representará possivelmente o sentido, dada à sua experiência como DJ ,da convergência de vários afluentes que ermergem não de uma, mas várias cidades que lhes estão na origem.
Kyle Hall é o mais novato dos três. Comparativamente, a sua discografia ainda é parca, mas consolida uma clara qualidade nos seus beats, sendo notório de que muita da sua energia se alimenta da intensidade da Motor Town ao mesmo tempo que rasga, funde e unifica fronteiras sónicas (dub,house,techno e hip-hop) , fazendo conviver harmoniosamente e permitindo-se criar, através dessa união, novas derivas.
“You Know What I Feel” é um tema que mostra a genuinidade Kyle. Indicia a necessidade de viagem por recantos novos que parecem coexistir em quase todos as faixas que vai produzindo. “The Perfect Skin”, alguma da crispação socio-racial patente na complexidade da cidade de onde vem, (Dances With a) “Sun Godess” cultiva o primado de osciladores de sons e sequenciadores que estão na base de todos os vôos de vanguarda electrónica.
Kyle permite-se beber todos os factores activos que integraram em Detroit uma matriz sonora ampla que regista as assimetrias , opressão e tradição/ raízes e daí cria uma energia particular que serve de tónico nos espectros da sensibilidade humana .
Joy Orbison revisita a cena Uk Funky e Jungle e imprime-lhes nova anímica.Emergências prematuras do techno têm nele um carácter tão dinâmico como repetitivo ,mas que faz crer nos seus synthesizeres como nata da nata da linha da frente de qualquer tecnologia.
Londres é uma cidade multifacetada, mais tensa que Detroit,apesar da mistura de raças, ideologias ou credos, mas Orbison mantém nas suas vagas telúricas algum minimalismo que poderá ser representativo do modo como é apreendida a sua vibração.
Peter O´Grady de nome próprio tem no single “Hyph Mngo/Wet Look” um dos expoentes máximos dessa dinâmica vs repetitividade propulsora de estados de alma plenos e que nos permitem ouvir repetidamente as mesmas faixas, encontrando (apesar da quase ausência de léxico)um motivo/reacção sempre novos a cada audição.
“The Shrew Would Have Cushioned The Blow” é simplesmente fantástica e cria uma envolvência e sensualidade únicas em qualquer pista de dança.
Ka§par é no seu território (entre Lisboa e Porto especialmente,em espaços como Lux, Frágil,Trintaeum,etc) que mais nos entretém com os seus sets,mas a sua linguagem é abrangente e interessante, detecta-se facilmente carácter conhecedor. Sente-se nele o conhecimento das raízes, tem gostos especiais que vão da soul, ao disco, do funk ao jazz,do prog ao kraut e aproveita-se/inspira-se de todas essas formas distintas de concepção para criar e enlevar o seu som. Tem na Grovement o seu porto de abrigo.
Os três estiveram de 15 para 16 no Lux numa noite extensa que foi justificadora do talento de todos eles.
Ka§par foi o primeiro a actuar.Pena foi que a qualidade dos seus sets não tivesse muita cumplicidade, de início, na pista de dança.
Com a chegada de Joy Orbison a noite ganhava mais ânimo e participatividade dos que acorreram à casa de Santa Apolónia com o intuito de lhes apreciar a natureza in loco.
Orbison prometia e proporcionou alguns dos melhores momentos da noite .”Hyph Mngo” e “Wet Look” teve pista agitada. Além de que cruzou os géneros em que se intromete e teve passagens relevantes da especificidade da cena de dança e já referidas em cima. “So Derobe” e a aclamadissima “Brkln Clln” retiveram cada vez mais interessados e muitos eram os que se aproximavam próximo da cabine em regozijo às suas passagens.
Mas, foi Kyle Hall quem mais jus fez ao rótulo “prodigioso” que lhes foi/é declarado. Se Ka§par estreava a pista e mal subiu à cabine mostrou a essência exacta que lhe (re)conhecemos , Orbison acomodava-a e Kyle deixaria-a explodir de emoções desenfreadas .”IC3 Dr Grilfriend”,”You Know What I Feel” e “Kaychunk”credenciam-no como rei duma noite em que fez soar em uníssono uma pista completamente rendida ao seu talento e destreza manipulativa e que nos fazem reconhecê-lo num baluarte concebido para seres especiamente dotados. Naquela cabine ele seria a Figura.
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O teu artigo sobre os três DJ's é meteórico, muito bom, começo a compreender algo mais destas Figuras musicais urbanas um pouco distantes dos meus sons de eleição.
Não vou perder o próximo!
beijos,
Cristina