La Cour de Babel
Um possível retrato da inocência.
“La Cour de Babel” estreou em França há cerca de 7 meses e é assinado por Julie Bertucelli, autora de vários documentários televisivos de reconhecida qualidade. Neste último documentário, assume protagonismo um grupo crianças, filhos de imigrantes, que uma vez chegados a França se deparam com a necessidade de adaptação e aprendizagem à nova língua deste país.
Chegam de Irlanda, Senegal, Marrocos, China e Brasil e é numa pequena sala de aula em território novo que, do alto dos seus poucos anos, vão ter de assumir a árdua tarefa de começar (quase) tudo de novo. Neste cenário académico é o mundo quem entra em cena, através de um intimista documentário sobre o quotidiano da adaptação, da inclusão, com todas as dificuldades e as contradições que lhe estão associadas.
É sem dúvida um filme inspirador pelo retrato da ingenuidade destes adolescentes mas, se inicialmente o título nos remete para um filme que eventualmente se propõe desmistificar algumas das principais diferenças culturais, apelando à necessidade de reivindicar direitos mínimos de liberdade e ao estabelecimento de relações com todo o tipo de pessoas em patamares de igualdade, no final percebemos que esse nunca foi o seu objectivo primordial.
A abordagem fílmica cumpre todos os cânones da tradição do documentário clássico, através de planos próximos e close-ups que servem para reforçar a dramaticidade da história, bem como da introspeção que nos sugerem os espaços fechados em que quase toda a história é filmada. No entanto, desta abordagem ressalta a necessidade em vermos sublinhado, de uma forma evidente, o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, numa altura em que temos assistido à lamentável e preocupante viragem do eleitorado francês para o partido de extrema-direita.
Se é um documentário a não perder? Talvez, pela fidelidade e sinceridade com que nos envolve, e pela forma com que projeta no grande ecrã os desvios, as contradições e as sobreposições da realidade destas famílias imigrantes. No entanto, parece-nos que podia ter ido bem mais longe e procurado personificar antes a mudança, o movimento e a busca pelos novos horizontes políticos de que a França de hoje tanto precisa.
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