La Parisienne – Carpaccio de robalo com azeite de pistachio

La Parisienne

A cozinha é um modo de amar os outros

“Xavier cozinha bem porque cozinha com o coração”. É assim que se despede Lumir Ardant_Leverd, a mulher do proprietário, Olivier Vallancien, e decoradora do restaurante. É visivel o agradecimento que tem pelo cozinheiro. Cliché, dirão vocês. Pois cliché será, meus senhores. Só cozinha bem quem cozinha com o coração, mas serve a entrada deste texto para realçar as palavras com as quais não poderiamos deixar de concordar. Testemunhámos que Xavier cozinha bem. Em alguns casos, e quanto a nós, com verdadeira distinção. É porque tem prazer no que faz, certamente, e isso sente-se na forma como fala da sua arte à medida que apresenta cada prato, servido pela mais simpática das empregadas.

A complexidade parece tão simples

Não se trata de um restaurante de alta cozinha francesa. Afinal de contas, um bistrô “é um restaurante com um tipo de cozinha simples”, como explica Xavier. Sim, a comida mais simples também pode ser de elevada qualidade – quem já comeu em Paris atesta esta afirmação – mas o La Parisienne não é assim tão simples. Pelo menos, não nos sabores. A fusão entre os vários ingredientes demonstra alguma complexidade.

La Parisienne

Essa complexidade distingue os seus pratos, mas o sabor de cada um também deve muito à qualidade dos produtos frescos provenientes da nossa terra (excepto as vieiras, que vêm directamente de França, pois em Portugal só encontram congeladas).  O pão vem da Tartine à hora de almoço e jantar; o peixe chega do Mercado 31 de Janeiro; a carne é comprada na Tito Carne; e os legumes e ervas aromaticas têm o selo de qualidade da Quinta Biológica do Poial, de Maria José Macedo, em Azeitão. A forma como combina as ervas aromaticas é, alias, uma das principais razões pela qual ficámos apaixonados por algumas iguarias que provámos e que merecem destaque:

Carpaccio de robalo com azeite de pistachio. Mais maracujá, flôr de borracho, pimento rosa, lima e sal. Parece muito? Não é. Tudo combinado de forma super equilibrada, mas com um toque especial do azeite de pistachio, a pimenta rosa e da lima, que lhe dão personalidade. Textura muito suave do robalo, tornando-o num prato delicado. Para acompanhar, foi-nos aconselhado um Sauvignón Blanc 2012, fresco, frutado e leve, a combinar bem com tal delicadeza.

La Parisienne - Carpaccio de robalo com azeite de pistachio

Oeufs en Meurette. Ovos escalfados em redução de vinho, com bacon, cebola caramelizada, alho e salsa. Prato doce, mas equilibrado. Ovo aveludado, cozinhado no ponto, com a gema a desfazer-se por nós.

La Parisienne - Oeufs en Meurette

Sopa de abóbora, com parmesão e bacon grelhado. Mais azeite de trufas e ervas aromaticas. Cinco estrelas. Quero repetir. Equilibrio perfeito entre o parmesão, o bacon, o azeite e as ervas aromaticas. A textura aveludada do creme estava no ponto, bem como o bacon crocante. O tempero das ervas e da pimenta rosa ajudaram a tornar esta sugestão vencedora! Nham!

La Parisienne - Sopa de abóbora, com parmesão e bacon grelhado

Folhado de codorniz recheado com fois gras, legumes biológicos e couve lombarda recheada com fois gras.  Parece demasiado para um prato, mas para quem este é a única escolha do menu, fica com o estômago bem aconchegado (e ainda bem, porque o prato é caro). É o orgulho de Xavier – com o qual ganhou um concurso de cozinha aos 18 anos, em França – e a próxima novidade do menu, já que é um prato sazonal. Perfeito para apreciadores de fois gras – naturalmente – e da textura quase crua dos legumes. Uma boa combinação de sabores. Atenção ao detalhe, com a codorniz desossada.  Prato acompanhado com um vinho tinto suave de Bordéus, Château de Camarsac, bem aconselhado, para não entrar em conflito com os sabor intense do fois-gras.

 

La Parisienne - Folhado de codorniz

Teríamos ficado satisfeitos só com o folhado de codorniz. Para quem tem atenção às quantidades, até os ovos escalfados chegavam (são servidos dois ovos). As doses são bem servidas – pelo menos dos pratos que provámos – mas ainda assim achamos que os preços são um pouco elevados. De qualquer maneira, nada que choque num restaurante deste tipo.

culpa é do sol

O La Parisienne é um restaurante muito giro. Perdão, charmoso. Tons escuros, a denunciar a elegância e que combina com o azul claro das paredes, os quadros e alguns livros expostos (Julio Verne ao poder), figuras de artistas portugueses na pequena montra para o exterior e uma arcada romântica. É fancy. Mas temos um fraquinho pela esplanada. É só uma esplanada, mas fica num dos largos mais agradáveis de Lisboa – o Largo Rafael Bordalo Pinheiro – principalmente desde que foi parcialmente fechado ao trânsito. E de dia podemos mesmo deitar um olhinho sobre o Tejo.

Não somos de intrigas, mas achamos que a esplanada também é a menina dos olhos de Olivier. Principalmente depois de nos confessar: “Eu tinha que ter um restaurante com esplanada em Lisboa”. Parece que o sol desta cidade voltou a fazer das suas e tornou mais um visitante em gente cá da terra. Olivier visitou-nos, apaixonou-se e, felizmente para nós (80% dos clientes são portugueses) decidiu abrir um restaurante bistrô, apoiado por Xavier, que deixou a sua charcutaria em Sintra, para se juntar a este projecto, em Junho de 2014. O charme é lançado também em algumas festas temáticas que organizam – a próxima é dia 19 de Novembro e chama-se Beaujolais, uma festa temática que celebra o vinho novo do ano.

Um ano e meio depois, o sol continua a brilhar em Lisboa, mas desta vez fomos nós que saímos apaixonados  daquela esplanada!

 

 

La Parisienne Bistrô Français
Largo Rafael Bordalo Pinheiro, 18
Seg a Quar | 12h30-22h30
Qui a Sáb | 12h30-23h30
Dom | 12h30-15h

 

 

 

Fotografia de Pedro Rodrigues

 



There are no comments

Add yours

Pin It on Pinterest

Share This