Legendary Tigerman
O homem colectivo.
Ele desdobra-se em diversas facetas, dedilha a guitarra, carrega no bombo, filma, passa para a tela, salta para cima do público mas não tem sete vidas nem é um gato. Ainda assim, adopta a pele de um felino para se apresentar à sociedade. Afinal de contas, trata-se de um dos artistas mais plurais que a música para cá de Badajoz soube oferecer nos últimos anos. Paulo Furtado, em versão solitária, ou seja The Legendary Tiger Man, tem um novo álbum. “Masquerade” podia ser resultado de um trabalho colectivo tal como acontece nos Wray Gunn mas de terceiros só se podem ouvir os coros de João Doce, a percussão de Mário Barreiros, o scratch de Nel’Assassin e a presença dos Dead Combo.
Tudo o resto é da autoria do músico mais marcante da actual geração coimbrã.”É o álbum que me satisfaz mais, não menosprezando os outros que eram reflexo das fases que eu passei”, começa por referir Paulo Furtado. Um efeito para o qual contribuiu o período de gravações nos estúdios MB de Mário Barreiros, com o antigo músico dos Já’Fumega e Nélson Carvalho. “Nesta fase eram as pessoas mais indicadas para separar o que era lo-fi do que é hi-fi. No fundo, é um álbum que reflecte melhor aquilo que eu sou ao vivo, com poucos artifícios. Não considero que o Paulo Miranda (produtor de Fuck Christmas Baby, I Got the Blues) seja pior produtor do que o Mário Barreiros. Apenas têm abordagens diferentes”.
A 29 de Abril, The Legendary Tiger Man apresentou-se no palco do Lux para tocar pela para estrear Masquerade. Um disco onde os blues se fundem com o rock sem perder as marcas retro que servem de bússola desde o primeiro disco. Só que há novidades. O estilo de composição é mais aberto, os ritmos variados e as abordagens distintas. Uma libertação que começou no disco de remisturas “In Cold Blood” e que se reflecte agora também numa lista de convidados bem recheada. “É um álbum muito mais aberto que os anteriores pelas próprias músicas. Nos outros, as coisas eram gravadas espontâneamente sem serem lapidadas e, embora também seja importante captar o momento, sinto-me muito mais à vontade agora na parte de execução, que era algo que já pretendia há algum tempo. Se ouvires o álbum, não notas que é uma one man band. Também integrei coisas electrónicas embora todas tocadas em tempo real”, explica.
Importante também para compreender Masquerade é a questão imagética. Desde logo pela capa, pelos fotos reproduzidas num Digipack luxuoso onde Tiger Man se faz acompanhar por um belo exemplar feminino nu, mas morto, e principalmente pela série de curtas-metragens incluídas no DVD que acompanha esta edição. Filmes assinados por Edgar Pêra ou Daniel Makosch. Depois do livro de fotografias de Pedro Medeiros – que acompanha In Cold Blood – desta vez o cinema. “Ao contrário dos Wray Gunn, este é um projecto solitário que me permite às vezes ter 20 colaboradores. Nesse aspecto, permite a interacção com outras artes como a fotografia ou o cinema. Já tinha feito a banda-sonora do filme do Rodrigo Areias, tinha realizado um vídeo e ajudado nos outros dois. Também entrei no filme do Rodrigo mas acho que não tenho muito jeito para representar. De qualquer maneira, interessa-me ser um artista multifacetado mas se na música isso corre bem, nas outras artes ainda sou um aprendiz”, lamenta Paulo Furtado.
Mas uma conversa com este poliglota das artes não poderia deixar de lado questões que se confundem como são o caso da internacionalização e dos Wray Gunn. Os esclarecimentos necessários numa fase crucial de afirmação. “Vai ser reeditado o disco de Wray Gunn, em França, com extractos de um concerto de Londres e outro de Paris e, no fim do ano, haverá uma digressão. Nessa altura, talvez já tenhamos o novo disco gravado. Quanto a Tiger Man “terá também o disco reeditado no mercado europeu em Setembro”. E assim acontece.
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