Lenine
Aula Magna, 22 de Março.
Passavam poucos minutos das 22h quando Osvaldo Lenine Macedo Pimentel e os três músicos da sua banda subiram ao palco, acompanhados por uma ruídosa manifestação de apoio. Não demorou muito para que a promoção do álbum “Labiata” se transformasse numa realidade entusiasmante ao som da batida sincopada de «Martelo Bigorna».
O famoso recinto lisboeta estava com uma óptima assistência para um domingo à noite e Lenine, no final do terceiro tema, confessou que “o melhor de tudo é você cantar e ter a certeza de ser compreendido”. A torrente de novas canções ressuscitou um poema de Chico Science no regresso às raizes de «Samba e Leveza» ou roçou o apocalipse na percurtiva «Lá Vem A Cidade».
Afinidades à parte, o novo trabalho do músico pernambucano é por si só gerador de empatia. O segredo reside nas letras inteligentes e nos elegantes arranjos musicais a que não é alheio o trabalho nas programações e samples do guitarrista Jr. Tolstoi. Em palco são apenas quatro executantes, mas o produto final lembra uma pequena orquestra que debita pop, samba, rock e música electrónica com categoria.
Os primeiros momentos altos do espectáculo surgiram com a sequência «A Rede» e «Jack Soul Brasileiro», ocasião para uma comunhão entre artista e público, traduzida num enorme coro de vozes e num forte acompanhamento com palmas. E, no caso da última música, faz todo o sentido declarar que a estrofe “Quem foi ?” teve a resposta merecida.
Um facto que salta à vista, encantando, resulta dos efeitos da passagem do tempo em Lenine. Sim ! O cidadão brasileiro tem 50 anos, mas quase não se nota a vetusta idade, tal é a ginástica de um cantor que sabe fazer duelos musicais com o seu elenco ou dançar com o balanço certo quando troca a guitarra pelo microfone.
Não faltou o muito requisitado hit «Hoje Eu Quero Sair Só» a um concerto que teve dois encores. Primeiro com a calmaria de «Paciência» e o rock em «Alzira», merecedor de citações a «Diabo No Corpo» de Pedro Abrunhosa, encerrando a festa com a costela nordestina do músico patente em «Leão do Norte».
Foram pouco menos de duas horas de diversão e confirmação para um referencial da música popular que prossegue a sua trajectória vencedora de reinvenção. Cá o esperamos na sua próxima digressão senhor Lenine.
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