Lil B @ ZdB | 9 de Maio de 2012
Fez-se história
É estranho olhar para o tão despido palco do aquário da Galeria Zé dos Bois (ZdB). Então Lil B, esse mesmo, o Based God, o tipo que criou o seu próprio fenómeno “internauta”, ele que diz ser isto (Deus, o maior) e aquilo (gay, feliz), ele, rapper que sampla gente como Celine Dion, Eminem, Goo Goo Dolls e Janélle Monáe, rapper que ama todos os seus fãs e que acha que todos os fãs o amam de igual forma, ele, Lil B, para além de ter o palco à sua espera despido, ainda surge de lá de baixo, da rua?
Uma hora e qualquer coisa depois do previsto, soam sirenes, disparos, um “Are you ready?” que se repete até à exaustão – A introdução de quase cinco minutos leva a paciência de qualquer um ao limite. “Hey, Portugal! What the fuck is going on?”, pergunta. De óculos escuros e com um gorro que se viria a manter estoicamente na cabeça do rapper durante quase todo o concerto, Lil B incita o público pela primeira vez: “Swag, swag, swag!”, repete-se.
Lil B tem andado ocupado – este ano são já cinco as mixtapes. Em tempos de tanta informação, esta é uma manobra perigosa – Lil B é um tipo difícil de acompanhar. Mas também um tipo suficientemente inteligente para chamar a si toda a atenção necessária. Há coisa de um ano, “I’m Gay (I’m Happy)” ganha o jogo da atenção mediática só com o título – a propósito, é um excelente disco, o melhor de todos, arriscamos.
Mas o tipo já está noutra. Durante o concerto, afirma que os seus tempos no hip hop acabaram e que, à imagem de Lil Wayne, vai investir no álbum rock – “California Boy” foi anunciado há um mês. Terreno pantanoso, este – sabemos que a experiência de Lil Wayne não foi feliz e sabemos também que, quando Lil B tenta cantar, fá-lo num registo sofrível.
Mais coisas que nos levam a perguntar: Afinal, quem é Lil B? O homem parece gostar de ter os holofotes para ele virados, mas o espectáculo da ZdB não joga com as luzes. Mais: a única luz que vislumbramos vem da câmara de filmar que acompanha o rapper em palco. Por outro lado, acha que está constantemente a fazer história. Somos levados a acreditar neste rapper incansável, intenso, comunicativo, cheio de entusiasmo que nos traz um som sujo e que, a certa altura, nos grita aos saltos: “Ellen Degeneres!”, essa mesma, a do programa televisivo, na canção com o mesmo título.
Lil B é todo amor; ele é amor por Portugal, ele é amor pelos fãs, ele é amor por toda a gente – não existe ódio neste personagem (?) criada por Brandon McCartney. “Hey, estamos apenas a passar um bom momento”, repete ao longo de todo o concerto. E, depois de tanta loucura, de tanto corta e cola, de tanta chungaria, chegamos à conclusão que este foi um grande concerto.
“Portugal, we did it”, atira, se afinal quisesse apenas dizer, “Portugal, fizemos história”, como diz em «Gon Be Okay», canção do último disco em que sampla Obama. Não estamos seguros de que a estreia em Portugal de Lil B tenha a mesma importância histórica que a eleição do primeiro do primeiro presidente afro-americano, nos Estados Unidos da América, mas é, seguramente, um dos momentos altos deste primeiro semestre de 2012.
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