Linda Martini @ Santiago Alquimista – 8 de Maio
Concerto de re-edição de "Olhos de Mongol".
Não é que aprecie especialmente gastar tempo com lamúrias, mas vou “aproveitar p’ra dar uma queixadinha”, como dizia Raúl Seixas. Diz-se que os nórdicos são frios e não têm emoções, mas a capacidade do povo português para choramingar é impressionante. Eu próprio já dei por mim, qual Bonga, a esconder a lágrima no canto do olho, num qualquer almoço de família de sábado, vendo a Mariza no Top+ a entoar “…Ó gente da minha terra…”. Enquanto heroicamente forçava a lágrima a não cair pensava “WTF? Mas que travadinha é esta que me está a dar?” De onde virá esta nossa constante pré-disposição para a choraminguice? Quem souber, que me ajude a solucionar este dilema. O concerto de 8 de Maio dedicado à re-edição do primeiro álbum de Linda Martini, “Olhos de Mongol”, fez-me cogitar sobre esta questão e outras que tais. Mas já lá vamos.
Nesta noite em que o concerto ia ser transmitido via web, o Santiago Alquimista estava cheio. Já não o via assim há uns tempos. Havia fãs de todas as idades e credos. Das betinhas radicais ao metaleiro da t-shirt preta com o habitual nome imperceptível de uma banda satânica qualquer. O ambiente era bem diferente do de um concerto de Linda Martini a que assisti no Clube Mercado, há cerca de dois anos, mais estilo festarola erasmus. Achei enfadonho esse concerto. Não percebia o entusiasmo daquela gente aos saltos. Não conseguia ver a banda e a repetitividade do som não me incentivou ao furanço.
Hoje, sou forçado a admitir que mudei de opinião. O concerto foi bom. Um pouco comprido demais, talvez, mas definitivamente bom. Os músicos estavam com feeling. Apesar de alguns problemas técnicos ao início, souberam descalçar bem a bota sem o público se importar muito com isso. Começou com «Nova» e «Cronófago» e a baixista deu uma trabalheira infernal aos amplificadores. Estava em altíssimas, a dançar de um lado para o outro. Os guitarristas estiveram mais calmos, mais atentos à sua tarefa. É imperativo enaltecer o trabalho deste baterista. É um tipo capaz de conjugar criatividade, feeling, velocidade e técnica. Tem uma atenção fabulosa ao detalhe e uns requintes de malvadez que não lembram ao diabo. Se esta banda é alguma coisa, o baterista é nela uma peça fulcral. As letras são de cortar os pulsos, não haja dúvida, tal não é o drama. Mas o público sabia-as de cor e acompanhou os cantantes, inebriados com aquele ecoar de vozes durante «Dá-me a tua melhor faca». O concerto acabou com um encore de «Este Mar», «Partir para ficar» e «Adeus tristeza». Os Linda Martini foram instrumentalmente intocáveis. Todos são dotados e produziram juntos um som forte e raivoso.
Entretanto, acabou o concerto. Comprei o “Olhos de Mongol”. Ouvi-o avidamente durante uma semana a fio. Este disco conseguiu fazer-me questionar o meu preconceito anti-emo convicto. Mas não foi por muito tempo. Desenganem-se meus caros. Não estou a colocar um rótulo emo nos Linda Martini. Primeiro, porque a musicalidade não tem nada a ver. Depois, porque essa é a pior ofensa que se pode fazer a qualquer ser musicalmente vivo, e eles até nem merecem isso. Esta banda chora, tudo bem. Mas chora com raiva. Como um lobo que gane e rosna a seguir. É distinta das pertencentes ao surto insuportável de bandas portuguesas choronas, que têm brotado como cogumelos nos últimos anos e que deviam pensar em dedicar-se à pesca. Não consigo levá-las a sério. Nem quero.
Se é para chorar, que seja de felicidade. Se tiver de ser de tristeza, ao menos que se chore de pêlos eriçados e que se parta qualquer coisita pelo meio. Um pratito, uma loicita mais feia lá de casa. Assim sendo, fico descansado. Mantenho o meu ódio de estimação anti-emo. A ouvir Linda Martini.
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