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Load Aspas Aspas #3

O RPG "The Last Story" na Wii, o refresh HD das clássicas aventuras de "Jak and Daxter" na PS3 e um regresso à velhinha Nintendo e ao eterno "Ninja Gaiden" no Cantinho dos Cotas.

“The Last Story”

Nem sempre fui um admirador de RPGs. O meu primeiro contacto com o género deu-se com o “Final Fantasy IV” e levou-me na altura a concluir que “aquilo tinha demasiado texto e pouca acção”. Mas qual disco ambiental do Brian Eno que requer uma certa maturidade para ser apreciado, também este género necessitou de um empurrãozinho para entrar na minha lista de preferências.

Este empurrão acabou por chegar na forma de “Paper Mario”, e a partir daí os RPGs, em especial os provenientes do país dos Maid Cafes (os outros são demasiado complicados e implicariam coisas como não ter namorada, falta de capacidades sociais e gostar de “Family Guy”) passaram a figurar entre os meus favoritos.

Ora, como qualquer fã de JRPGs sabe, muitos são os gloriosos títulos que não chegam a ver a luz do Ocidente, mantendo-se para sempre exclusivos de quem dedicou algumas horas da sua vida a decorar 3000 kanjis para poder perceber alguma coisa.

Mas felizmente “The Last Story” teve direito a um lançamento europeu, ainda que dois anos após a sua aparição original.

Criado por um senhor chamado Hironobu Sakaguchi, que é uma espécie de pai do RPG japonês (não fosse ele o criador de “Final Fantasy”), o jogo segue a história de um tipo chamado Zael que é mercenário mas queria ser era cavaleiro, sendo portanto fácil estabelecer um paralelismo com os dias que correm em que os jovens não podem fazer planos a longo prazo e vêem-se obrigados a ir trabalhar noutras áreas que não a de formação. Depois claro que há uma princesa e a típica história épica. No entanto, e apesar destes parecerem lugares comuns em qualquer JRPG, o enfoque dado às personagens, conjuntamente com a atmosfera cinematográfica e os altos gráficos, dá-nos empatia por este mundo, querendo constantemente voltar ao jogo para desenrolar a história!

Deixo aqui também um forte abraço à equipa de localização pela dobragem por actores britânicos (Europa 1 – Estados Unidos 0), conferindo um travo “Eastenders” a toda a aventura.

O sistema de batalha poder-se-ia localizar entre o clássico turn-based e o Action-RPG. Controla-se a personagem com o thumbstick, sendo os golpes automaticamente deferidos quando nos encontramos próximo de um inimigo. A progressão também é bastante linear, com o jogo a tender para o lado mais fácil da coisa! Há ainda espaço para as tradicionais side-quests, desenrolando-se a aventura numa média de 30 horas de jogo.

Durante o jogo , confesso, não pude deixar de pensar constantemente que tudo se poderia tratar de uma aventura oldschool ao bom estilo dos velhinhos “Final Fantasy”, transpondo na minha mente o 3D envolvente para a clássica “vista de cima”. E pronto, a partir daqui comecei a admirar o quanto avançaram os jogos nestes últimos 30 anos, e qual o sentido da vida, etc, etc…

Francisco Abrunhosa

“Jak and Daxter Collection”

“Jak and Daxter Collection” é sem dúvida uma das melhores apostas nas tão controversas conversões HD, tanto para os fãs incondicionais da série da Naughty Dog, como para aqueles que nunca tiveram o prazer de conhecer esta já histórica dupla. Remasterizado para HD e convertido para 60 frames por segundo e com suporte para 3D, mesmo depois de mais de uma década os jogos continuam a impressionar.

O primeiro “Jak and Daxter: The Precursor Legacy” foca-se na colecção de itens e completar algumas quests um pouco datadas, e alguns dos problemas de câmara da altura surgem nos piores momentos, mas não deixa de ser um prazer enorme jogar o início da triologia.

“Jak II: Renegade” saiu dois anos depois dando mais que tempo aos developers para darem um salto enorme, tanto na tecnologia, como a nível gráfico. Jogando os dois jogos de uma ponta à outra, percebemos o quanto os developers da Naughty Dog evoluíram, parecendo explodir de criatividade, trazendo uma historia mais sombria, um gameplay mais aprimorado, melhor animação e gráficos surpreendentes comparados com o primeiro jogo. No terceiro jogo da série – “Jak 3” – os criadores resolveram revolucionar completamente a série introduzindo corridas de carros, tiroteios em arena, caçadas e até jogos de arcada, dando um pequeno vislumbre do que viria a ser a saga Uncharted.

A colecção é sem dúvida um must have para os fãs da Naughty Dog, dos jogos de plataformas e jogadores em geral!

João Rodrigues


Cantinho dos Cotas – “Ninja Gaiden”

Lançado em 1989 pela Tecmo para a NES, Ninja Gaiden, que se inspirou no universo cinematográfico da ‘Ninja-Ploitation’, é provavelmente o jogo mais conhecido do género. A inovação, aliada aos elevados níveis de dificuldade do jogo, contribuíram largamente para o culto, que se estende até aos dias de hoje.

Durante os vinte níveis, divididos em seis actos, encarnamos o ninja Japonês Ryu Hayabusa, que vai até à “América” para vingar a morte do seu pai. Pelo meio, o nosso herói viaja até à exótica Amazónia, é baleado pela sua futura amante, chantageado pela CIA e extermina todo o tipo de criaturas que cruzam o seu caminho. O enredo é bastante incoerente e ridículo, mas as cutscenes, usadas de forma nunca dantes vista num jogo da NES, fazem a experiência valer a pena.

Este side-scroller, recheado de plataformas e acção, bem ao estilo de um “Castlevania”, tem outro aspecto peculiar – uma dificuldade insana, capaz de fazer até o mais zen dos jogadores partir comandos e cuspir impropérios à sua querida NES. A ressurreição infinita dos inimigos e o facto de eles se posicionarem nos locais mais incómodos (início e fim das plataformas) faz com que cada salto tenha de ser calculado ao pormenor, e que cada padrão de movimento dos inimigos tenha de ser memorizado, de forma a dominarmos e ultrapassarmos o jogo. No entanto, “Ninja Gaiden” está longe de se tratar apenas de uma experiência angustiante. Os controlos são responsivos e polidos como poucos, aproximando-se bastante do nível de qualidade de jogos Nintendo como Mario, Kirby, Zelda ou Metroid neste capítulo. Graças a isso, este é um jogo viciante e difícil de pousar. No fundo, funciona como uma dose de crack para os ressacados pela falta de desafio dos jogos mais recentes da indústria.

Outro dos aspectos diferenciadores de “Ninja Gaiden” é a estrutura, muito similar à dos jogos actuais. Para além de nos depararmos com uma cutscene inicial e final, também temos direito a um desenvolvimento cinemático entre o início e o fim de cada capítulo. Por detrás desta ideia está uma dupla que, mais tarde, viria a ocupar o hall of fame dos videojogos. Falamos de Hideo Yoshizawa, director e responsável pelo conceito inovador de design do jogo, e que mais tarde criou a aclamada série de plataformas “Klonoa”, e de Masato Kato, ilustrador responsável por toda a arte que envolve o jogo – incluindo a capa, ilustração e animação das cutscenes e toda a parte gráfica. Só para ficarmos com uma ideia, Masato Kato criou a história de um dos maiores RPG de culto de sempre – “Chrono Trigger”, da então SquareSoft.

Finalmente, destaque-se a componente gráfica, bastante evoluída para a altura. Os fundos são detalhados e as plataformas interactivas, permitindo a Ryu agarrar-se ou saltar das paredes, de forma a alcançar partes que seriam inacessíveis de outro modo.

Já a banda sonora é composta por faixas enérgicas e rápidas, com melodias que ficam suficientemente no ouvido para justificarem a sua edição oficial no Japão.

Nuno Teixeira

ILUSTRAÇÃO DE JOÃO RODRIGUES



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