“Lobos que foram homens: a história dos Moonspell” – Ricardo S. Amorim
Respeito.
Os Moonspell têm uma reputação de sobranceria, pelo menos em Portugal, e se isso normalmente pesa contra eles, o problema parece ser mais dos inseparáveis brandos costumes nacionais do que propriamente da banda. Obviamente há sempre dois pesos e duas medidas, e se o Cristiano Ronaldo disser que é o melhor do mundo toda agente acena em concordância, já se for o Fernando Ribeiro a fazê-lo a coisa parece cair mal. Regra geral essa intolerância para com músicos cheios de si, costuma deixar-nos orgulhosos como quando ensinámos aos Nickelback, aos Oasis ou ao Axl Rose com quantos paus se faz uma canoa. A questão é que, pelo menos até lerem “Lobos que foram homens” muitos não conseguem contextualizar o posicionamento dos Moonspell, porque apesar de a norma dos artistas nacionais ser a da humildade, por vezes falsa, nem todos têm de se pautar por ela e pelo menos e os Moonspell não o fazem.
E ainda que a Europa dos anos 90 esteja muito longe da América dos anos 80 dos Black Flag, as desventuras da banda lusitana enfiados numa carrinha durante semanas para tocar por países estranhos sem o que se pode chamar de condições mínimas, quase que se lêem da mesma forma. Não obstante o facto de antes dos Moonspell já haver algum historial de bandas punk portuguesas a aventurar-se fora de portas em pequenas tours, a dimensao não é comparável e os objectivos não seriam certamente os mesmos. Portanto, talvez o que muitas vezes parece ser arrogância da banda, naõ seja mais do que o ar de quem fez a travessia do deserto para chegar ao oásis e simplesmente não está para se preocupar ou sujeitar com determinadas coisas e tem todo o direito de fazêlo.
Na sua biografia, nenhum dos membros pede desculpa por ser quem é e ainda bem, pois é difícil ler a sua história sem sofrer pelo menos parcialmente o injustificado desprezo a que foram votados apenas por tocar metal e não música pimba, fado, ou qualquer outro género de mais fácil aceitação de massas. Afinal, se dermos importância ao que os mass media veicúlam, os concertos dos Tonis Carreiras desta vida para emigrantes em Paris. parecem ser mais importantes do que as constantes tours de Moonspell no estrangeiro. Moonspell esses que são uma das poucas bandas que, apesar de cantar em inglês, dizem mais sobre o que é ser Português do que a maioria das bandas que actuam na nossa língua.
Por entre esse sentimento geral de frustração, não faltam também as típicas cobóiadas das tours de músicos com uns copos a mais que de vez em quando flirtam com drogas, assim como há espaço e tempo para arrufos amorosos entre membros e para a mudança que chega com a família e os 40. E por entre tudo isso, há um desfilar de quem é quem no Heavy Metal, desde os Bathory até aos Iron Maiden.
O melhor de tudo neste livro é que os tempos em que os Moonspell se formaram se lêem quase como uma história do metal em Portugal, onde nomes como Decayed, Thormenthor ou Fillii Nigrantium Infernalium se cruzam com o da banda de Fernando Ribeiro. Essa é sem dúvida, uma das partes mais interessantes do livro, que não obstante uma escrita demasiado seca e directa compreende um irrepreensível trabalho de recolha e montagem que nada fica a dever às melhores biografias musicais. Se “Lobos que foram homens” peca por algo, é por o próprio objecto merecer ser mais acarinhado pela editora Saída de Emergência, com uma edição de capa dura e fotos a cores que apenas iriam valorizar ainda mais o seu conteúdo. Gostem ou não de Moonspell, se chegarem ao fim do livro sem conhecer um novo fundado respeito pela banda e uma vontade de (re)visitar a sua obra, precisam de o ler outra vez.
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