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Lobster

Crónica de um regresso ansiado.

Ricardo e Guilherme, baterista e guitarrista de Lobster, são “só” super simpáticos, mas são para além disso grandes músicos, cada um deles com imensos projectos, e esta entrega é que faz deles tão queridos de todos. Falámos com eles antes do concerto de regresso de Lobster programado para a primeira noite do Milhões em Festa (22 de Julho). O concerto estava marcado para as quatro da manhã, mas ainda assim, e depois de um dia a ouvir música desde as duas da tarde, ficaram muitos resistentes. E, ao primeiro acorde, já sabíamos que tudo tinha valido a pena; a viagem acumulada, as horas de sono perdidas, porque aquilo a que assistimos no Palco Vice foi das mais incríveis e maiores vagas sónicas de que Barcelos terá memória.

Ricardo, agora a viver em Barcelona (que é como quem diz, um dos três melhores sítios do mundo: Barcelos, Barcelinhos e Barcelona) continua a tocar “para não perder o ritmo” e porque tem imensos projectos por cá: “Adorno e Cangarra, I Had Plans e mais umas quantas bandas”. Guilherme continua a tocar em Tigrala e Sunflare.

Antes do concerto, Guilherme apenas desejava “ver o nosso concerto chegar ao fim com todas as músicas a chegarem ao fim também”. Só tinham conseguido ensaiar há uma hora atrás, mas ainda esperavam “dar mais uns toques”. As razões porque quiseram tocar juntos de novo são simples, e sem grandes mitos: “foi por nos apetecer tocar outra vez, e fogo, os Veados tocarem”. Guilherme acrescenta que “o Fua fez a proposta numa altura boa” e Ricardo continua: “nós estávamos com vontade de tocar, já não tocávamos há montes de tempo e foi bué fixe, apareceu na altura certa.” “E serviu de impulso para começar a tocar.” conclui Guilherme.

As passagens de Lobster em Barcelos são míticas. Depois de um primeiro concerto no auditório municipal quase vazio, e de um segundo na repleta cave do Bar do Xano interrompido à terceira música pela chegada da polícia, quisemos saber se este ia chegar ao fim. “Claro que vamos, sem polícia, se calhar com algumas pessoas aleijadas” e Guilherme informa “Polícia é amanhã”. E de facto foi. A polícia apareceu na Rua da Palha durante o tributo ao Chung Wave mas sem problemas de maior.

Quanto às expectativas para o concerto dessa noite, “vai ser bom, temos aí os amigos todos, está toda a gente com ideias, vai ser muito tarde, mas agora a seguir vamos dormir uma sesta”, brinca Ricardo.

Antes de interromperem Lobster, Ricardo e Guilherme tinham outros projectos juntos, Indians e Living Dead Orchestra. “Tínhamos cinco músicas de Indians” esclarece Ricardo, que ainda chegaram a gravar, e “Living Dead tinha sete ou oito músicas”. Mas ambos não previram terminar. Aliás, a resposta de Ricardo é clara: “nós não estávamos a prever nada, por isso, aliás, nem sequer estávamos a prever tocar agora, nem sequer sabíamos, nunca nos preocupámos muito, naquela, isto que agora o pessoal todo pergunta porque é que voltaram, porque é que acabaram, eu acho que nem nunca acabámos, nem estamos a voltar agora, o que é estranhíssimo.”

Perguntámos-lhes se os projectos paralelos têm influência na música de Lobster. “É estranho, a linguagem é completamente diferente das coisas que nós andamos a fazer, acho” afirma Ricardo, e Guilherme acrescenta que “até temos dificuldades em tocá-las neste momento”. “Já não tocávamos há bastante tempo, se calhar são coisas, se calhar algumas das coisas que fizéssemos hoje faríamos diferentes, por outro lado dá-nos muito gozo tocar, percebes? Também nos leva para um, sei lá, faz-nos entrar num ambiente qualquer estranho que nos faz sentir bem, não sei” continua Ricardo, e Guilherme explica que “é tal e qual como ver um álbum de fotografias antigo tipo, hey isto era assim? Nós estávamos a tocar assim? Tanto no bom como no mau sentido.” Ricardo termina afirmando que “quando decidimos tocar estas músicas outra vez, estivemos a ver o que é que nos lembrávamos relativamente, o que não nos lembrávamos, inventar assim um bocado, engrupir um bocado a cena. E se calhar às vezes temos um bocadinho das coisas que estamos a fazer agora, mas apenas como manta de retalhos para aquilo não soar como uma grandessíssima porcaria”.

Não soou. Foi um concerto para a vida.



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