“Louca” de Chloé Esposito
Inveja, crime e traição com um toque de loucura
Este livro de estreia da autora Chloé Esposito, disputado por várias editoras a nível internacional durante a Feira de Londres, cuja acção é sublinhada por uma troca de identidades que origina uma série de acontecimentos de contornos macabros na bella Sicília, no decurso de uma semana, “Louca” (Bertrand, 2018), é um thriller apimentado, com laivos cómicos e uma anti-heroína sem papas na língua.
Eu era excedentária, como uma oferta pouco aliciante do tipo “compre um e leve outro grátis. Era o cheddar por abrir que apodrece no fundo do frigorífico. A segunda embalagem de bolachas que não devíamos comer. Fácil de esquecer. Fácil de ignorar.
Chloé Esposito, utiliza um discurso sem censura, irreverente, a roçar o cómico, com diversas alusões a Harry Potter, Alice no País das Maravilhas, As Cinquenta Sombras de Grey, Macbeth, Otelo…
Em simultâneo à narrativa dos momentos presentes, ou seja, durante aqueles sete dias de loucura; Esposito introduz memórias do passado de Alvina, deixando transparecer uma infância miserável, onde ela nunca se sentiu querida ou relevante, constantemente à sombra da perfeição da angelical Beth.
Porém, existe um ponto negativo na narrativa. O excesso de partilha de informações por parte da personagem principal acaba por tornar-se um problema, dado que a meio das situações relevantes, Alvie se perde em divagações, descrições de tudo e nada, a meu ver, desnecessárias, que roubam o efeito bling inicial e tornam um pouco árdua a tarefa de terminar a leitura.
Há uma coisa que têm que saber (…) Estou invertida: sou uma aberração da natureza.(…) Elizabeth é perfeita dos pés à cabeça. Eu sou a imagem especular da minha gémea, o seu lado negro, a sua sombra. Ela é como deve ser, eu não. (…) Eu sou a irmã sinistra.
As gémeas Alvina e Elizabeth são dois polos opostos, cara e coroa de uma moeda, o branco e o negro.
Alvina, a gémea perversa, não tem grandes perspectivas na vida, sem formação académica, abomina o seu trabalho como representante de vendas de anúncios nos classificados, vive num apartamento rasca com dois companheiros, que evita ao máximo encontrar, é uma usuária crónica do Tinder e é louca pelo Channing Tatum.
Beth, por sua vez, é a menina perfeita, desfruta de uma vida de rainha na sua villa na Sicília, tem um marido de sonho e um bebé encantador, carros de luxo e roupas de marca, algo que levaria uma eternidade para Alvie poder obter.
Desempregada, falida e prestes a ser desalojada, Alvina agarra a oportunidade que o destino lhe deu, e aceita a proposta da irmã de ir passar uns dias de férias na Sicília.
Como é habitual com Alvie, várias peripécias têm lugar ainda antes de chegar à villa, mas a vida deslumbrante da irmã cega-a, e todo o ressentimento e inveja vêm ao de cima.
Quando a irmã lhe faz a proposta de trocarem de identidade por umas horas, ela demonstra alguma relutância, mas uma vez na vida de Beth, será ela capaz de voltar a ser Alvina?
A única coisa que sei é que se não fosse a minha irmã dentro daquele buraco, seria eu. Nunca saberei quão perto estive disso. Será que Beth me pediu para vir só para me matar? (…) Não. Beth não. (…) Talvez Ambrogio…
Será ao longo de estes sete dias repletos de enganos, sexo, assassinatos e encontros com a máfia, que Alvina Knightley irá encontrar-se, e encontrar a sua vocação.
Aquela parte escondida dentro de si, desponta, e revela uma verdadeira femme fatale, que adora a sua nova vida e tudo o que vem com ela.
Não, a minha irmã não era uma assassina. (…) Eu, por outro lado, estou como peixe na água. Fui feita para esta merda. Sou uma assassina nata. Nasci para isto. (…) Agora, sou eu que tenho o poder. Sou eu que controlo as coisas. (…)
Finalmente, finalmente, descobri alguma coisa em que sou boa. Alguma coisa em que sou melhor do que Beth.
Alvina Knightly: assassina.
“Louca” é um thriller alucinante e vibrante, um cruzamento entre The Lying Game e As Cinquenta Sombras de Grey, que irá ser do agrado dos apreciadores destes dois géneros literários.
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