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Luca Argel @ B.Leza (23.03.2023)

Se há coisa que Luca Argel nos ensinou, durante estes largos anos que vive por Portugal, é a de que vale a pena estar com os sentidos bem alerta para todo e o qualquer projecto que assine. Desde a música à poesia, entre outras artes, o artista brasileiro é inquieto por natureza, e tem uma sensibilidade e criatividade que lhe permitem construir obras de relevante beleza e interesse.

O recente disco “Sabina”, sobre o qual o concerto no B.Leza se debruçou, é um digno passo em frente na discografia de Luca Argel, que tem progressivamente adicionado mais profundidade a uma carreira que iniciou sozinho ao violão. Desta feita, chega à sala do Cais do Sodré acompanhado por uma senhora banda, sem instrumento a seu cargo (pelo menos no arranque), produzindo uma imagem muito pouco comum para os seus seguidores, pese embora não tenha tardado a pegar na viola também. Dando a mão à sina de “Sabina” estiveram Pri Azevedo nos teclados, Júnior Castanheira no baixo, Cláudio César Ribeiro na guitarra, Carlos César Motta na bateria, e Neném do Chalé nas percussões.

Com o auxílio dos restantes músicos, Luca Argel logra catapultar as composições para uma onda afrobeat, ou para um ambiente de samba rock, que não são propriamente recriáveis quando se actua sozinho em palco. Houve inclusivamente um tratamento bem jazzy para “Vila Cosmos” na recta final da noite.

Este é o trabalho mais fora da caixa da sua discografia, a nível sonoro, no sentido em que vai beber a mais fontes, mas sempre com o sentido político-social como pilar que sustenta tudo, e que o levou até a interpretar “Os Vampiros” (perante uma estranha apatia do público), porque estas lutas são de todos. Porém, não faltaram pontos altos dos seus outros registos, tal como o sempre fantástico «Gentrificasamba», o delicodoce «Acanalhado» ou a referida «Vila Cosmos», para além dos marcos históricos que forma o magistral “Samba de Guerrilha”.
Para além de um óptimo comunicador, o músico brasileiro garante sempre um registo vocal irrepreensível, muito seguro das suas capacidades, permitindo igualmente uma transmissão bastante clara da parte lírica das suas canções, o que é super importante dada a qualidade das mesmas.

Ainda que passemos os próximos tempos a entranhar os traços característicos de «Sabina», é impossível não sentir já curiosidade sobre qual será o próximo passo na discografia e/ou carreira de Luca Argel. O único dado previsível é o de que continuará no lado certo da luta. Escutar Luca Argel vai muito para além da rica fatia sónica, porque cada tema é um capítulo de história, seja do Brasil, de Portugal, ou do mundo inteiro. Seja história passada, que nos auxilia a perceber melhor o samba por exemplo, seja a história dos nossos dias.

Alinhamento:
– Bandarra
– Sabina
– Gémeos
– Anos Doze
– Acanalhado
– Gentrificasamba
– Pesadelo
– Direito de Sambar
– Os Vampiros (Zeca Afonso)
– Peça Desculpas, Senhor Presidente
– Negro Nagô
– Tigres
– Nada Pessoal
– Imortais
(encore)
– Vila Cosmos
– Almirante Negro (O Mestre Sala dos Mares)



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