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Lucrecia Dalt + Pedro Alves Sousa & Violeta Azevedo @ B.Leza (03.04.2023)

O mês de Abril arrancou com mais uma quinta-feira estimulante à beira Tejo, na sempre acolhedora sala do B.Leza, num ritual que tem vindo a tornar-se numa tradição durante os tempos mais recentes. Em grande parte fruto da associação entre o B.Leza e a Galeria Zé dos Bois, que já cultiva este hábito de distribuir os seus eventos por outros locais da cidade há uns bons anos.

Desta feita, a noite era dada a sonoridades mais experimentais e ambientais, e a abri-la experienciámos o debute em palco da dupla Pedro Alves Sousa & Violeta Azevedo, que conjuntamente fabricaram uma peça sónica que nos levitou durante cerca de vinte minutos. Entre o saxofone de Pedro e as flautas de Violeta, com alguns apetrechos electrónicos que ajudam a tecer a manta de drones, parecíamos estar envolvidos por uma instalação artística qualquer, para a qual esta banda-sonora havia sido concebida. Bateu certo como música ambiental desta noite ventosa, com os sons que ecoavam do palco a remeterem-nos para os ruídos metálicos dos barcos do Tejo a encostarem-se às suas estações fluviais, e para os pilares da ponte a ranger enquanto arcam com o peso de quem a atravessa.

Seguidamente, Lucrecia Dalt assumiu o palco como figura da noite, acompanhada meramente pelo percussionista Alex. É interessante como a sua voz consegue emanar calma, mesmo quando adquire contornos fantasmagóricos por meios dos efeitos especiais que a própria lhe imprime, e irrompa por meio do controlado caos sónico que a envolve. A veia fantasmagórica é igualmente alimentada pelos teclados que se vão sedimentando durante as composições que se entranham de forma estranhamente familiar.

Quase parece que a música de Lucrecia Dalt é confeccionada para estimular essas dicotomias, existindo a sensação de que nos encontramos num ambiente rural enquanto escutamos sonoridades claramente modernas e sofisticadas, dando azo a momentos de trip-hop e dub decorados com motivos tribais e campestres.

Tais sensações advêm em grande parte da sensibilidade do percussionista Alex, a quem a protagonista alcunha de alienígena rítmico. Não passou despercebida a simbiose entre ambas as partes enquanto se movem pelas diversas ambiências que vão gizando. Tal como a disposição do seu set, dado não encaixar nos cânones habituais, composto por congas e pratos, entre outra parafernália.

Dadas as suas origens colombianas, toma-se como bastante normal detectarmos misticismo a sobrevoar as paisagens que Lucrecia tece. A brilhante “No Tiempo”, do mais recente trabalho «¡Ay!», surge bem no final como uma espécie de sumário de tudo o que relatámos e observámos anteriormente, abarcando todos os traços (ou quase) que enumerámos.

Foi uma daquelas noites que, para além de magicamente encantadoras, parecem renovar a alma e os ouvidos de quem as testemunha, regressando a casa já mortinho por novas aventuras sónicas.



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