“Luís Guerra de Laocoi”
Os nossos Navegadores deixaram escapar um…
Para me preparar para este espectáculo, fiz o que qualquer pessoa faria… pesquisei a net! Esta, em toda a sua sabedoria anglo-saxónica, informou-me que se tratava de um projecto de dança. A vida ensinou-me duas ou três coisas sobre espectáculos de dança: 1) se for Ballet clássico tem o título de um conto de fadas; 2) se for Jazz não é nunca Jazz clássico; 3) Se for Street Dance ou Hip Hop não aparece nos meios de comunicação social mais do que duas singelas vezes. Estremeci ao aperceber-me que se deveria tratar de dança moderna ou contemporânea (acho que ainda tenho as mãos marcadas na cara de a ter tido tanto tempo apoiada, numa expressão infantil de quem é obrigado a almoçar, lanchar e jantar sopa durante uma semana seguida).
Porque sou uma mulher de coragem, decidi ainda assim estar presente numa apresentação do espectáculo… Das duas, uma: ou tinha razão e saía de lá sem ter “ganho” nada de novo, ou estava errada e fiz bem em “dar uma hipótese” ao trabalho. Seguiu-se a questão incontornável: o que é um “Luís Guerra” e o que faz o Laocoi com um? Pareceu-me uma questão importante…
Durante 45 minutos estiveram em cena apenas duas pessoas, um violino, uma peça rectangular de linho (?) rendilhado e uma projecção de imagens… Não havia para onde deixar a atenção fugir. O bailarino é acompanhado pela voz da violinista e apenas permite que nos deixemos de concentrar nele quando há algo a reter da projecção de fotografias que decorre por cima de ambos.
Em conversa com Luís Guerra (autor, coreógrafo e bailarino intérprete) percebemos o que faltava… Laocoi é um local, um arquipélago imaginado a noroeste da península ibérica, com a sua cultura própria, linguagem, crenças e povo. Um local perdido no tempo, entre as invasões árabes e o êxodo hebraico da Inquisição. A violinista fala-nos e canta-nos sobre Laocoi (numa voz que transcende o seu corpo), enquanto o violino parece esconder as suas coordenadas num código melódico. O bailarino descreve, em movimento ritmados de uma fluidez intangível, o mapa de Laocoi, a linguagem de Laocoi e a sua história… Se tivessem o palco coberto de areia, conseguiríamos certamente ver os rostos dos seus habitantes.
Este projecto nasce do desafio de um encontro de poesia para criação de um projecto de expressão artística para o qual Luís Guerra coreografou uma peça de dez minutos. O tempo passou e a necessidade de contar uma história com princípio, meio e fim, cresceu…
Este não é um espectáculo para qualquer pessoa, mas para aqueles que quiserem ver dançar. É o movimento numa forma técnica prestina, limpa e directa. Senti falta do uso do espaço disponível e de alguma emoção mas não posso deixar de salientar que estamos ali para presenciar um conto visual sobre uma terra distante: corpo e voz são a metáfora que narra a história do personagem principal – Laocoi.
QQYWQU’DDYLL’O’ by Luis Guerra de Laocoi from BS Cultural on Vimeo.
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