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Lusofonia Record Club

Fomos descobrir o Lusofonia Record Club, que celebra agora o seu primeiro ano de existência, que assinala com o lançamento muito especial de “Moacir de Todos os Santos”, de Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz.

Com o ressurgimento do vinil, apareceram também alguns modelos de negócio que procuram potenciar as características muito próprias, que este tipo de consumidor apresenta. Não é de todo pouco habitual juntar os termos coleccionador de vinil e melómano na mesma frase. É aqui que serviços de subscrição como o Lusofonia Record Club entram. Aqui o conceito de curadoria ganha uma importância redobrada, pela forma como confere ao que é oferecido, um conjunto de características diferenciadoras. E que características podem ser essas? A exclusividade da edição, a cor do vinil, o artwork, o booklet (algo que neste caso ganha especial importância dado o cariz histórico de algumas das edições), ou seja, todos os detalhes em torno da edição.

Mas voltemos um pouco atrás. Comecemos pelo princípio, porque o Lusofonia não é – de todo – uma obra do acaso, como nos conta Léo Motta, embora tenha sido “algo que aconteceu muito naturalmente, mas também já nasceu muito bem formatado. O Tomás, no final de 2020, me chamou e disse: cara, vamos fazer um clube de vinil, focado em música portuguesa e brasileira, editando o José Pinhal pra estreia? E pronto, o resto é história. Naquela altura, inscrevemos o projecto no StartUp Voucher e conseguimos uma bem-avaliada aprovação, que nos levou a investir 2021 em estudos de mercado e na formatação da empresa”

O Lusofonia Record Club é por isso o resultado de muito trabalho e um imenso amor por aquilo que se faz, e o amor tem essa característica magnífica de ser contagioso. Isso transparece no trabalho de curadoria que tem de ser levado a cabo, como nos conta Léo Motta. “A curadoria é uma parte fulcral do nosso trabalho, e representa boa parte do tempo que passamos em reuniões. Eu e o Tomás sempre trabalhamos com música no Brasil, e o Jorge coleciona vinil já há muito tempo, então à partida temos mesmo uma boa base. Mas isso não exclui o trabalho árduo de pesquisa que fazemos no dia-a-dia, sempre a descobrir cenas novas na música portuguesa (que infelizmente não chega ao Brasil) e nos universos únicos dos PALOP”. Por fim é também necessário decidir o que será editado e essa decisão “passa por imensos fatores: pensamos sempre na disponibilidade da obra, no histórico (ou ausência de) edições passadas, a relevância do artista, o valor musical e lírico, sonoridade, estética e, claro, em como isto se encaixa na grande narrativa que estamos a construir com o LRC”.

Outro aspecto não menos importante é a prensagem dos discos. Naquela altura, eram dois os principais requisitos “prazos viáveis e alinhamento à proposta”. É aqui que entra a Grama Pressing, localizada na cidade da Maia e, como nos conta Motta, “em ambos os casos, tivemos a sorte (ou será destino?) de estarmos a dar os nossos primeiros passos na mesma época que a Grama”. E não foi coisa pouca, num meio em que a escassez é nota dominante (não faltam por aí casos em que os prazos de prensagem, levam a atrasos de muitas edições), o Lusofonia Record Club, não só conseguiu garantir esta integração no seu processo que os “ajudou com tempo de produção muito melhor que o da concorrência”. Para além disso a sinergia criada “enquanto agentes da indústria do vinil no Norte de Portugal”, permitiu também “eliminar a pesada logística internacional e seus efeitos nocivos ao ambiente, além de promover a cadeia produtiva nacional”. E Motta remata reforçando que se tratou de um “caso de win-win pelo qual somos mesmo gratos e que acabou por tornar-se parte da nossa identidade”.

Dezembro é o mês que assinala o primeiro ano de actividade, que teria de ser assinalada com um lançamento especial, como é o caso de “Moacir de Todos os Santos”, de Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz. Mas antes de sabermos como é que tudo se concretizou, um pouco de história. Letieres Leite era baiano, músico, compositor, produtor e professor. “Moacir de Todos os Santos” foi o último álbum gravado pelo artista brasileiro, que faleceu em Outubro de 2021, vítima de COVID-19. O alinhamento contém sete dos dez temas que integram “Coisas”, estreia discográfica do maestro, compositor, arranjador e multi-instrumentista pernambucano, Moacir Santos, editado em 1965, e que conta com a participação de Caetano Veloso e Raul Souza e Gilberto Gil, responsável pelo texto da contracapa. Estamos por isso perante um bocado de história da riquíssima música brasileira e tratava-se de um projeto que estava no radar do Lusofonia Record Club, há algum tempo, como nos conta Léo Motta. “Quando soubemos deste ambicioso projeto, ficamos logo empolgados com a possibilidade de editá-lo pelo LRC. O match aconteceu quando o nosso sócio Jorge Falcão esteve no Brasil e visitou a Rocinante, editora e gravadora que concebeu a obra. A partir dali, foi uma questão de enquadrar o momento ideal para o lançamento, e felizmente conseguimos tê-lo como a cereja no bolo deste nosso primeiro ano de vida”.

É inevitável concluir um ano de actividade sem se fazer um balanço, que é claramente positivo. Foram seis discos editados, que pode descobrir aqui. Os clientes e subscritores vêm de países tão variados como a Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, França, Países Baixos ou Austrália, para além de Portugal, naturalmente. Para além disso, acrescenta Motta, inauguramos uma nova fase no legado de José Pinhal, com edições inéditas em vinil e 700 cópias vendidas, além de organização e distribuição digital alinhadas com a família do artista. Produzimos um evento no icónico Maus Hábitos e vimos imensa gente a se divertir com a música lusófona até às 6 da manhã”. Os problemas e desafios também existem, não se enganem. Um dos maiores desafios que identificam é o próprio modelo de subscrição que, “por ser novidade no segmento, demora um bocado a ser assimilado” e, para além disso, “nem sempre as obras que queremos editar são viáveis, pelos mais diversos motivos; o ajuste no tamanho das tiragens, a imprevisibilidade da distribuição; a coordenação dos prazos numa indústria ainda impactada pelos efeitos da pandemia e da guerra”.

2023 será ambicioso, com foco em seguir altíssimos padrões de qualidade, expandir a base de assinantes e promover uma integração cada vez maior com os mercados português e europeu”. O trabalho de curadoria terá continuidade, entre os PALOP, essa fonte quase infindável de obras e talento. O fenómeno José Pinhal, (que vos convidamos a descobrir, porque poderia dar por si só um artigo próprio), “que ainda tem volumes a serem editados e fãs ávidos para que isto aconteça”. Haverá mais surpresas mas essas por enquanto ficarão no segredo dos deuses.

Nós estaremos cá para as descobrir. Convidamo-vos a fazer o mesmo.



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