“Mais um dia de vida” | Ryszard Kapuscinski
Três meses numa cidade encaixotada
Publicado originalmente na Polónia no ano de 1976, “Mais um dia de vida” constituiu o primeiro livro de reportagem de Ryszard Kapuscinski. Diz-se que no mundo do jornalismo é difícil – ou mesmo impossível – ficar isento. Neste relato de uma viagem a Luanda, por uma cidade que apenas existiu durante três meses – entre o êxodo português e a proclamação da independência pela MPLA -, Kapuscinski mostra qual o código deontológico pelo qual se rege: ao invés de uma ligação literal com os factos de uma história, defende antes a responsabilidade do jornalista diante e dentro dessa história.
Instalado no Hotel Tivoli, em Luanda, Kapuscinski escreve sobre personagens que lhe foram apresentadas pela Dona Cartagina, uma capitã a bordo do seu navio em forma de hotel, dele inseparável até à chegada do grande naufrágio.
Depois de assistir ao desmantelamento da cidade, levada caixote a caixote para o porto da cidade, Kapuscinski trocou o rigor mortis de Luanda pela acção da linha da frente, acompanhando uma guerra louca travada entre o MPLA, a FNLA e a UNITA.
O resultado está entre uma literatura da actualidade e o jornalismo social, num livro muito pessoal sobre «a experiência de estar sozinho e perdido» e que, no final, oferece um ABC de Angola desde o nascimento do seu nome até ao ano 2000, traçando previsões sobre o que terá acontecido a todos aqueles que, durante três meses, partilharam os seus medos, anseios e sonhos com Kapuscinski. Um impressionante relato de uma cidade encaixotada.
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