Mão cheia de livros | Março 2017
Livros para todos os gostos
Registo de estreia no universo da ficção por parte do brasileiro Raduan Nassar, Menina a Caminho (Companhia das Letras), editado pela primeira vez na década de 1960, serve de ponto de partida para as obras posteriores do autor. Em género de conto, acompanhamos o percurso de uma rapariga pelas ruas de uma pequena cidade do interior, palco de sucessivas situações quotidianas. Tal como ela, o leitor ruma a um final que se encontrava disperso ao longo do trajeto. Além dos contos que compunham a primeira edição da coletânea, a presente edição apresenta dois bónus nunca antes publicados em Portugal: “Monsenhores” e “O Velho” – e um ensaio – “A Corrente do Esforço Humano”.
Os fãs de (bons) thrillers têm uma surpresa. Porquê? O Fugitivo (Topseller), de Manson Cross está nas prateleiras das livrarias e espera-se mais uma perseguição sem tréguas. Desta vez, Cross faz-nos recuar cindo anos, altura em que Carter Blake abandonou a organização secreta governamental para a qual trabalhava, a Winterlong, com uma condição: não divulgar o tipo de operações duvidosas que realizavam e em troca deixavam-no viver em paz. Mas a liderança da Winterlong mudou e agora Blake é um elemento a eliminar. É então que Blake passa de caçador a presa e tudo muda. Restam-lhe duas opções: fugir para sempre ou virar o jogo a seu favor e acabar de vez com a Winterlong. O confronto com o passado é inevitável, mas conseguirá ele sobreviver?
Dez anos depois da queda de Darth Vader e do Imperador em O Regresso do Jedi, uma Nova República foi formada, mas a galáxia ainda não está livre. E, desta vez, o poder obscuro por detrás do Império ressurgente tem os olhos postos num novo alvo: o filho recém-nascido de Han e Leia. Se este plano for bem-sucedido, a galáxia mergulhará numa nova era de trevas. Sim, já adivinharam! Star Wars – Trilogia do Império Negro (Planeta), de Tom Veitch e Cam Kennedy, reúne as histórias originais que ajudaram a lançar um novo capítulo na saga Star Wars – Império Negro, Império Negro II e O Fim do Império Negro e foram agora reunidas pela primeira vez num único volume, de capa dura, que os colecionadores não vão querer perder.
Para os fãs de Brad Thor, todos os seus livros são alvo de uma especial devoção. De espírito assumidamente cinematográfico, o autor norte-americano que trabalhou no Departamento de Análise de Segurança Interna, faz de cada título que publica uma aventura repleta de emoção em forma de thriller. Ato de Guerra (Bertrand), o seu mais recente exercício literário não foge a essa regra. Desta vez estamos perante a operação mais perigosa da história dos EUA está nas mãos de Scot Harvath. Um agente da CIA morre misteriosamente no estrangeiro e a sua colaboradora faz alegações terríveis. Há só um problema: ninguém sabe se ela é de confiança. Mas quando seis estudantes de intercâmbio desaparecem, dois aviões de passageiros trocam de destino e um exilado político é preso, dá-se início a um encadeamento fatal de acontecimentos. Com o país na iminência de ser alvo de um ataque arrasador, o novo presidente da América tem de apelar a Scot Harvath, o inigualável agente de contraterrorismo, para o ajudar a conduzir duas das operações mais perigosas da história do país. Com o nome de código “Pó Dourado” e “Melro”, estas operações estão envoltas em sigilo total, uma vez que, se descobertas, cada uma delas será considerada um ato de guerra.
Se é fã de Bryan Cranston, pare, leia e descubra um livro que vai, obrigatoriamente querer. Protagonista de Breaking Bad, uma das séries mais aclamadas de sempre na história da TV, Cranston atira-se de cabeça em Uma Vida de Histórias (Marcador), fascinante exercício de memórias, no qual conta a sua viagem pessoal e profissional: de filho abandonado pelo pai a estrela de Hollywood, recordando as atribulações dos seus múltiplos papéis, na vida real, antes do sucesso – distribuidor de jornais, ajudante agrícola, segurança de supermercado, conselheiro matrimonial, suspeito de homicídio, estivador, amante, marido e pai. Expondo e analisando a sua vida como poucos homens fazem, descrevendo o seu ofício como poucos atores conseguem, Cranston tem muito a dizer sobre criatividade, entrega e arte. Mas, mais do que tudo, Uma Vida de Histórias é um relato acerca da arte de viver e da dedicação àquilo que mais amamos.
Do reino da ficção para a realidade. Património de riqueza impar, a língua portuguesa é, muitas vezes, alvo de constrangedores atropelos. A melhor forma de o evitar é saber como dominar a sua arte, nomeadamente através da escrita. Nesse contexto, Como Escrever (Tudo) em Português Correto – Dicas e conselhos práticos para escrever 20 tipos de texto, (Manuscrito), da autoria de Sara Almeida Leite, professora de português e consultora linguística, explica, de forma simples, como redigir um bom um recado, uma redação, um resumo da matéria, a ata da escola ou da reunião de condomínio, uma carta formal de apresentação e um curriculum vitae, um relatório para apresentar no trabalho ou um requerimento formal. Neste livro vai encontrar um conjunto de informações, ferramentas, estratégias, exercícios e modelos que o orientarão desde o início até ao fim do processo de redação de qualquer texto.
Os ecos da Segunda Guerra Mundial, e o seu rasto de violências, continuam, teimosamente, na memória coletiva. Em História Natural da Destruição (Quetzal Editores), o alemão W. G. Sebald apresenta uma tese uma tese provocadora: a literatura alemã falhou perante o horror da guerra aérea. Com agudeza analítica e uma grande riqueza de material, Sebald rasga uma ferida na literatura do pós-guerra que até hoje não fechou. Os escritores não souberam lidar com a destruição das cidades, com as vítimas civis, os órfãos e os que perderam tudo. Em forma de exorcismo, Sebald oferece um extraordinário exercício reflexivo sobre um dos períodos mais negros da cronologia literária do mundo que, nas suas palavras, se «foca e se desvia…no seio de uma sociedade que, moralmente, está de todo desacreditada».
No dia 30 de Abril de 1945, Adolfo Hitler suicidou-se. No dia seguinte, Joseph Goebbels, o seu ministro da Propaganda também, e o Terceiro Reich, em derrocada, ficou entregue ao almirante Karl Dönitz. A situação dos nazis parecia desesperada. No entanto, surpreendentemente, a guerra no resto da Europa continuou por mais dez dias. É sob este contexto nefasto que Michael Jones pensou Depois de Hitler – Os Últimos Dias da Segunda Guerra Mundial na Europa (Bizâncio), uma narrativa que aborda esses dias, em contagem decrescente, dia-a-dia, mas enquadra-os igualmente na história global mais vasta de uma guerra europeia que assistira a algumas das batalhas mais ferozes da História. As relações entre os «Três Grandes» – Estados Unidos, Grã-Bretanha e União Soviética – quase atingiram, subitamente, o ponto de rutura.
Um dos autores norte-americanos contemporâneos mais influentes, Charles Bukowski é um nome incontornável da literatura mundial e cada livro assinada por si significa um misto de aventura, obscenidade, divertimento, desespero e lirismo. Factotum (Alfaguara) segue essa bitola, é o segundo romance do autor, nunca antes publicado em Portugal, sendo também uma espécie de retrato do artista enquanto jovem. O mote assume a forma de Henry Chinaski, um jovem marginal, solitário e irremediavelmente bêbedo, vagueia pela América dos tempos da Segunda Guerra, saltando de cidade em cidade, de emprego em emprego, cada um mais degradante que o anterior, apenas para poder sustentar as noites de mulheres e álcool. Enquanto se afunda numa espiral de vícios, vai alimentando (ou adiando) o sonho de ser escritor. Alter ego de Bukowski, Chinaski é a perfeita encarnação de um “factorum”, um moço de recados ou “pau-para-toda-a-obra”, tão inconstante e volúvel quanto é eterno o seu criador.
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