Matt Walsh
Diário de um DJ.
Hoje é fácil encontrar vários exemplos de como não ser DJ; é uma classe que já foi mais valorizada e méritos que recolhia estão hoje banalizados. Por isso, encontrar quem faça um compromisso entre a sensatez e a qualidade não é tão comum quanto se possa pensar.
Matt Walsh é um DJ britânico que assume a sua actividade de maneira sincera. A sua honestidade reflecte-se no seu discurso e na maneira como trabalha em função da música. Influenciado pela Londres magnânima e pela explosão rave dos anos 90, move-se entre o New Wave, Acid House e Disco, House e Techno tradicional, complementando a sua linguagem na área da produção, edição e promoção de projectos seus ou descobrindo novos talentos.
No seu myspace e blog empenha-se na divulgação musical, actualizando com regularidade as suas escolhas mensais; DJ sets, comentários e pedaços do seu dia-a-dia profissional. A sua dedicação à causa é reconhecida pelos seus pares, tendo sido encontrado a lado-a-lado de nomes como Tiga, Brodinski, Alter Ego, Zombie Nation, Tomboy, Popof, Simian Mobile Disco, Boys Noize, Pilooski, Cut Copy, D.I.M., Padded Cell, Mock n’ Toof, Dixon, Carl Craig, Andrew Weatherall ou Erol Alkan. Percorre o circuito londrino entre o T Bar e Durrr, passado pelo Wax:on e Fabric e é residente das tours da Turbo e Bugged Out!
O ano de 2008 foi particularmente fértil em datas um pouco por todo o globo e nas edições pela Turbo das suas remisturas como Clouded Vision para «I love to move here» de Moby, «Oblivion» de Brodinski e Toob.
A RDB enviou algumas questões ao Matt, que nos esclareceu melhor as suas origens e algumas das actividades que tem vindo a desenvolver.
RDB – Qual é o teu background musical – que artistas, discos e movimentos exerceram em ti maior influência?
Matt Walsh (MW) – Esta é aquela pergunta onde uma pessoa tem de soar “cool” não é? Penso que é muito raro que a primeira música que ouviste seja do “underground” – a não ser que se tenha tido muita sorte em ter um DJ “underground” como Pai ou Mãe.
Diria que, depois de crescer ouvindo a colecção dos anos 80 do meu pai, os primeiros LPs que realmente comprei foram de Blur e The Prodigy. “Modern Life is Rubbish” e “Experience” foram os primeiros dois discos que consegui comprar às minhas custas. Ambas as bandas são de Colchester, em Essex onde vivia, portanto partiu também um pouco daí. Depois chegou o “Screamadelica” de Primal Scream, que resumia bem o meu gosto musical na altura. A maior parte dos meus amigos de escola ou gostavam de Indie e Britpop ou de Hardcore e Drum n’ Bass, não havia nada intermédio. Achava ambos os lados interessantes e comecei a pesquisar da forma mais abrangente possível; usando todo o pouco dinheiro que ganhava em bilhetes de comboio para Londres e comprando aí discos.
RDB – Como começaste a tua actividade como DJ?
MW – Foi apenas quando entrei para a faculdade, para estudar Desporto (surpreendentemente) que tentei a actividade de DJ. Vivia com três colegas e todos tinham um par de pratos, enquanto eu só tinha um. Um deles passava Hard House, outro Trance e o outro House Progressivo; acabei por estabelecer uma relação de amizade mais próxima com o último e comecei a pedir-lhe os pratos emprestados para tocar os meus discos e os dele e eventualmente acabei por compra outro prato.
Depois comecei uma noite num bar em Colchester chamada “Electricity” e pediram-me para organizar uma festa semanal num Club. Nesta nova noite – “Milkshake” – actuava como DJ juntamente com bandas como The Noisettes, The Mistery Jets ou Get Shakes. Comecei entretanto a ser convidado para outros Clubes locais onde passava mais House e Techno. Através de idas às minhas noites favoritas em Londres e ter feito aí muitos amigos, tive a oportunidade de começar uma noite no T Bar, em Shoreditch e há 3 anos convidaram-me para a minha favorita, o Bugged Out!
RDB – Qual foi a influência das noites de Essex comparando com Londres?
MW – Havia uma grande “cena” Rave na minha cidade, Clacton-on-Sea. “Oscars” o pontão local tinha um dos maiores Clubes de Rave legais e as pessoas vinham de Londres para ver os primeiros DJs de House e Techno como um jovem Andrew Weatherall e Justin Robertson. Infelizmente encerrou pouco depois de eu ter idade suficiente para ter ido lá umas vezes e a cultura de música de dança ficou reduzida a festas ocasionais em nome dos velhos tempos.
Sensivelmente cinco anos depois, como em muitas cidades pequenas, a música tornou-se demasiado comercial. Os Clubes preferiam estar lotados, ignorando o tipo de música e focalizando-se no dinheiro ganho. Tive a sorte da minha noite se ter tornado muito popular e isso deu-me a confiança para tentar quebrar a mentalidade de terra pequena.
RDB – Como surgiu a tua faceta de produtor? Explica-nos em que consiste a Clouded Vision.
MW – Clouded Vision sou eu juntamente com o Steve Cook. O Steve foi a muito mais festas que eu enquanto jovem e viu muito do que eu perdi. Conhecemo-nos através de um amigo comum e falamos sobre o “Acid”. Decidimos fazer uma faixa [satur8] Acid tradicional e depois enviei-a ao Tiga que a passou no seu Podcast “best of 2007”.
RDB – Em termos de produção, de que forma constroem as faixas e que meios utilizam?
MW – Penso que toda a gente tem o seu próprio meio de construir um disco e se trabalham como par precisam de querer o mesmo resultado. Os elementos favoritos utilizados não são necessariamente os que algum de nós possui mas têm-se tornado viciantes e determinados pelo espaço no estúdio.
RDB – Como entraste para Turbo e que tipo de trabalho desenvolves aí?
MW – Conheci o Tiga há cerca de 2 anos no T Bar fazendo o warm-up para seu set numa segunda-feira louca. Demo-nos bem, ele gostou das minhas escolhas e a partir daí mantivemos contacto. Depois conheci o irmão dele [Thomas von Party] através do fantástico iChat e este pediu-me que produzisse um Podcast para a editora. Gostaram das faixas que escolhi e perceberam que eu não estava numa de martelar os êxitos do momento e ofereceram-me de seguida um lugar de residente na “Omnidance Tour”, na América do Norte, nos inícios de 2008. A partir daí tenho produzido Podcasts como Clouded Vision e temos três remisturas no catálogo da Turbo Recordings.
RDB – Qual é a tua opinião acerca da música de dança a ser produzida e a “cena” Clube correspondente?
MW – A música de Clube mudou bastante nos últimos 2 anos; a média de idades dos “clubbers” está muitas vezes entre os 17 e 20 e muitos apenas ouviram os últimos sons através de blogs e forums. Isto tem reflexo em alguma da música produzida e tocada, mas penso que a última metade de 2008 foi marcada por uma mudança de volta às sonoridades mais tradicionais do House, Techno e até Disco, o que só pode ser bom sinal.
RDB – De tempos em tempos alguém prevê o fim do discos de vinil, com tanta tecnologia recente acreditas que o formato prevalecerá?
MW –Para todos os Clubes onde toco ainda levo alguns discos juntamente com CDs; no entanto, é normal tocar um e a agulha deslizar de uma ponta à outra do disco… Nos tempos que correm os pratos servem mais de prateleira para pastas de CDs e bebidas. São tempos tristes.
RDB – Qual é a tua motivação para os próximos meses?
MW –Terminar um EP com o qual fique plenamente satisfeito, finalmente!
RDB – Sabemos que tens um blog que actualizas frequentemente, revela-nos um pouco sobre ele e sobre o que pretendes da tua presença online no futuro.
MW – A blogosfera é enorme nestes dias e pensei que já era altura de me juntar a esta. No entanto, o meu blog assume mais uma forma de newsletter e não quebra direitos de autor! Pergunto sempre ao artista se quer que coloque o seu set online e divulgo o ficheiro com uma bitrate mais baixa para evitar cópias ilegais. Publico sets que gravo ao vivo em Clubes vídeos dessas noites; também convido pessoas a enviarem os seus sets e charts se me identifico com o seu gosto.
No futuro gostava de ter o meu próprio site a funcionar… talvez devesse fazer disso uma resolução de fim de ano!!
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