Mazgani
Santiago Alquimista, 6 de Maio de 2010.
Escutar as novas canções de Mazgani é perceber como um produtor pode influenciar decisivamente a música de um artista. Desde que a produção passou a estar a cargo de Pedro Gonçalves (ele, metade dos Dead Combo) que a sonoridade e a musicalidade de Mazgani se alteraram, sem que isso tenha, contudo, alterado a autenticidade da sua música.
Ou seja, ouvindo o debutante “Song of the new heart” e agora o novo “Song of distance”, reconhecemos Mazgani como um compositor exímio, que dá grande valor à palavra e à canção, com claras reminiscências dos grandes compositores norte-americanos e com predominância para cantar o amor. Não é por acaso que no interior do novo álbum encontramos uma fotografia de Mazgani, em pose Robert Mitchum, com as palavras “song” and “love” tatuadas nas mãos. No entanto, enquanto “Song of the new heart” é um disco de canções envoltas em arranjos orquestrados, acenando a mestres como Leonard Cohen, “Song of distance” é um disco de canções descarnadas até quase ao âmago, que invoca Johnny Cash ou Nick Cave.
“Song of distance” soa, por isso, a blues e a folk e nunca as raízes do rock’n’roll estiveram tanto na música de Mazgani como agora, cada vez mais um cowboy forasteiro em terras insuspeitas como é Setúbal. Basta ver como abriu o concerto de apresentação deste novo álbum: a banda em palco sozinha, com Marco Franco a marcar o ritmo na bateria, e Mazgani a surgir no topo da mezanine de megafone em punho, evocando Moisés e Jesus no gospel «Thirst», enquanto descia por entre o público. Eis a entrada em palco mais inusitada de sempre do Santiago Alquimista.
Mazgani canta blues sem ser um bluesman. As canções de amor são agora murder ballads trazidas pelo vento do oeste americano, com slide guitars e ecos dos coros dos escravos negros dos campos de algodão do Mississipi. E se já aqui falei da importância de Pedro Gonçalves nesta depuração do som, há que destacar o papel de relevo de Marco Franco (vénia). É impressionante a forma como mantém o ritmo sem uma única falha e com uma despreocupação que até a nós, que estamos do lado de fora, nos deixa nervosos. E quando trocou a bateria pela guitarra e a banda se juntou num momento mais intimista, Mazgani voltou a fazer realçar a sua voz de arauto, assumindo o seu papel de autor de grandes canções de amor.
Mazgani tem presença e domina o palco, mesmo quando a música irrompe em catarse de guitarras cheias de reverb. O concerto foi, portanto, a imagem de Mazgani e o reflexo do que é a sua música, que invoca uma determinada forma de estar, criando um estilo e uma estética cada vez mais próximo da “americana”, mas com um modo muito próprio de a interpretar e a reproduzir.
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