Mazgani

Depois da Les Inrockuptibles, a Rua de Baixo.

À primeira vista… uma conversa descomprometida entre Jeff Buckley e Devendra Banhart. Por entre copos de tinto teriam combinado colaborações várias, certamente. Teriam improvisado qualquer coisa ali mesmo, ao balcão de um qualquer Zapa Club de Inverno, recôndito, debaixo dos olhares, também eles descomprometidos, alheios, brilhantes, dos demais. Na mesa do canto poderiam ter estado Shahrgar Mazgani (voz, letras e guitarra acústica), Sérgio Mendes (guitarra eléctrica), Sofia Batista (baixo) e Rui Luís (bateria).

Uma parceria talvez já antes imaginada por alguns, mas também nunca antes navegada por tantos outros. Os Mazgani puseram-na em prática, ou pelo menos mostraram-nos como seria um ensaio conjunto à queima-roupa. São apenas três canções as que dão forma à maqueta “These Stones Used To Be”, a mesma com que agora se dão a conhecer à sua terra natal, depois de terem sido destacados pela revista Les Inrockuptibles, que os incluiu no CD que foi oferecido com o número de Dezembro/2004 da publicação francesa. No alinhamento foram integradas 21 bandas europeias (finalistas de um total de 7000), em disputa pelo primeiro lugar do concurso CQFD (Ceux Qu’il Faut Découvrir), para divulgação de novos talentos.

Os Mazgani são portugueses, de Setúbal, mas foi depois do reconhecimento francês que começaram dar que falar em território nacional. Será que volta assim a confirmar-se a profecia de que nós, portugueses e portuguesas (como dizia/escrevia o outro) só damos valor ao que temos depois de alguém de fora o fazer primeiro? Andaremos nós mais atentos ao que escrevem os outros sobre nós, do que em escrever sobre nós próprios? Ou será que, também é possível, andamos simplesmente mais interessados em mostrar além-fronteiras o que valemos, do que em continuar a insistir em mudar dos destinos da nação musical? Adiante…

Dúvidas à parte, o certo é que os Mazgani com apenas três canções, nomeadamente “Bring Your Love”, “These Stones Used To Be” e “Unageing Games”, aconchegam o alento de quem prefere a simplicidade pop do formato canção, à grandeza de uma super produção feita de pormenores ostensivos. De quem prefere a modéstia de uma canção pela palavra, que nos conquista à primeira vista sem que saibamos explicar porquê. Porque aparentemente não tem nada de especial. Mas ao mesmo tempo, não nos sai da cabeça. Faz-nos sentir cada vez mais próximos da última etapa da demanda diária em busca da melodia perfeita. Tem de existir uma. Estas têm momentos muito próximos.



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