Memória de Peixe @ Musicbox (04.11.2016)
No Musicbox é raro ter muita gente à hora do concerto e é mais do que garantido que vai chegar mais pessoal já depois do concerto começar. Bem dito, bem feito. Eram 23h20 quando Miguel Nicolau e Marco Franco tomaram os seus lugares em palco. O primeiro de guitarra em punho e rodeado por pedais de efeitos e amplificadores. O segundo, sentado em frente à bateria. Na tela ao fundo do palco, surge uma projecção de Himiko, o peixe anti-gravítico.
“Himiko Cloud” é mais ambicioso que a estreia homónima dos Memória de Peixe. Convenhamos que outra coisa não seria, de todo, de esperar. Essa ambição é maior a todos os níveis e por isso a curiosidade para ver e ouvir como tudo soa ao vivo é muita.
«Supercollider» é a primeira canção do concerto e de “Himiko Cloud”. É frenética. O trabalho de pés de Miguel Nicolau, junto dos pedais, impressiona desde logo. As canções dos Memória de Peixe vivem destas variações, que as tornam mais imprevisíveis ao vivo (no melhor dos sentidos) e capazes de nos surpreender.
«Havero’s Dream» arranca quase sem direito a pausa. A bateria marca o início e depois a guitarra de Miguel Nicolau faz magia de 8 em 8 segundos (mais coisa menos coisa).
«Arcadia Garden» é o primeiro cartão de visita para “Himiko Cloud” e é perfeita para a banda sonora de um jogo de plataformas, daqueles à antiga. Se nos tapassem os olhos e nos deixassem apenas escutar estas canções, jamais em tempo algum iríamos adivinhar que estavam apenas duas pessoas em palco. E aqui o mérito vai em grande parte para o trabalho de Miguel Nicolau na guitarra e na parafernália de pedais que opera com mestria. Digo em grande porque seria uma tremenda injustiça não reconhecer o papel central que Marco Franco desempenha na bateria, sempre incansável a acompanhar todos os acordes da guitarra de Nicolau que parece falar todas as línguas.
A guitarra em «Midnight Hero» tem algo de tipicamente português. Há aqui um fado. Há uma história de contornos épicos e trágicos que nos é contada pela omnipresente guitarra.
«(The Mighty Forest Of) Tragic Sans» lembra algumas canções dos Mogwai, em especial na fase “The Hawk Is Howling” (elogio!). «Horsepedia» começa galopante mas rapidamente mostra que é bem mais que isso. Estas canções são verdadeiras montanhas-russas, sempre a seguir uma direcção diferente, sempre inconformadas.
«Immortality Drive» tem um travo jazzístico e «Herbig Hero» é o mais próximo que os Memória de Peixe têm de uma balada. É a canção que encaixa perfeitamente no genérico final do jogo de vídeo que acabámos de conquistar. Sentimo-nos flutuar.
«Fishtank» marca a primeira de três visitas ao álbum de estreia. É fácil imaginar Himiko, o peixe, a nadar por lá numa perspectiva mais Darwiniana da coisa, antes de evoluir para se tornar um peixe anti-gravítico. Nem de propósito, Himiko surge projectado no ecrã ganha cor.
«Lazeria Maps» é a canção que faltava para poder dizer que “Himiko Cloud” foi tocado na íntegra. «7/4» leva-nos de volta a “Memória de Peixe” enquanto vemos projectado um planeta a rodar e o sol que orbita a nascer, tudo deliberadamente pixelizado.
O encore foi repartido entre «DayJob», do álbum de estreia e uma nova interpretação de «Arcadia Garden».
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