Memória de Peixe
Miguel Nicolau diz que ainda precisa de comer muita sopinha, mas nós achamos que está bem crescidinho, para quem fala de uma memória tão curta.
Na nossa estão bem presentes os loops da sua guitarra, e queremos mais.
Segunda-feira, dia 21 de Novembro, vem quente aquele que será o seu primeiro single, com Da Chick, e por isso mesmo denominado «Fish&Chick». Estamos muito curiosos. Já vimos concertos do Miguel, do Miguel e do Nuno, do Miguel, do Nuno e Da Chick. Memória de Peixe tem essa capacidade de se “transfigurar” e de proporcionar diferentes experiências. Já deram vários concertos pelo nosso país, mas é no dia 15 de Dezembro, no Musicbox, que apresentam o EP de estreia, numa noite que promete fazer-nos esquecer o frio Outonal. Memória cheira a Verão, a mar, a boa disposição. E o Miguel é o tipo mais simpático que se pode entrevistar. Estão todos convidados à festa nas “Noites da Rua”.
A Memória faz-se da tua guitarra e da bateria do Nuno Oliveira. Foi dos dois que surgiu a ideia deste projecto?
A vontade em fazermos algo juntos já se manifestava há algum tempo, visto que somos os dois da mesma cidade (Caldas da Rainha) e já termos alguns projectos em comum, mas não foi propriamente premeditado. Memória começou com uma improvisação de um loop, no Hotel Fontana Park, gravado pelo David Francisco (MoopieVideos), com o intuito de concorrer a um concurso da Berklee College of Music, depois de já ter feito um workshop de improvisação, em que também usei o loop, e ter ganho uma bolsa. Tinham que ser vídeos explicativos do nosso percurso musical e um tema gravado. Dos cinco vídeos mais votados era seleccionado um. Como não consegui angariar votos suficientes e não fui dos mais votados, fiquei com aquele registo para mim e foi um excelente pretexto para começar um projecto. Claro que, pouco tempo depois, falei com o Nuno e começámos a trabalhar juntos.
Há quanto tempo começaram a compor estas músicas?
Numa fase inicial, muitas das coisas que foram sendo compostas eram trocadas por email. Eu enviava-lhe loops que considerava interessantes e ele compunha as dinâmicas rítmicas com a bateria. O loop permite-nos ir adicionando progressivamente, e em tempo real, as camadas/frases que se quiserem (overdub) durante determinado tempo. A grande questão é que pode ser terrivelmente repetitivo apenas desta forma. Tentámos, portanto, tornar o mais interessante possível o resultado final. Agora já não é à distância, já não pode ser.
Como é o método de composição?
Fazemos vários loops que estão interligados e que têm sentido entre si à medida que a música evolui, permitindo-nos ter várias partes diferentes e uma estrutura mais aproximada ao formato canção. Há muita improvisação e experimentação. Depois vem a estruturação. Claro que implica uma grande dose de memorização de todas as camadas que entram, tendo sempre a noção de que, se falharmos, o erro fica memorizado. É desafiante a todos os níveis.
Porquê o nome “Memória de Peixe”?
Os loops que fazemos partem sempre de frases com cerca de 8 segundos. A associação que se faz à memória de um peixe é que ambas são curtas. Não é necessariamente uma verdade, já nos informámos, mas é tida como uma memória que dura muito pouco. Tendo em conta que o nosso projecto assenta na constante repetição de melodias, que ao serem adicionadas criam outras novas, é quase como um peixe a viver o seu constante esquecimento.
Memória de Peixe Day job from Nuno Neves on Vimeo.
Como surgiu a participação da Da Chick?
Conhecemo-nos num outro projecto, Cavaliers of Fun do Ricco Vitali. As músicas ganham uma dimensão maior, a Chick faz a diferença quando entra, pelo seu carisma e talento. Ficámos com vontade em fazer mais coisas, e no momento em que o decidimos fazer nasceu a «Fish&Chick». Demorou muito mais a produção da música do que a sua criação. Assim que pudermos vamos começar a pensar numa outra participação.
Há outras participações no álbum?
O Ricco Vitali faz uma aparição com a sua nave espacial num synth-solo eighties, em plena «Fish&Chick». Espero que em breve se possa saber e confirmar a outra participação. Não quero lançar foguetes antes da festa.
O vídeo do novo single com a Da Chick, que sai já dia 21, foi realizado por ti, não foi? Fala-me um pouco sobre ele e sobre essa tua faceta de realizador.
É a minha formação académica, e poder aliar as duas áreas dá imensas possibilidades. Principalmente porque gosto de tentar idealizar conceitos que se adaptem à minha leitura da música. Ligo muito à parte estética da imagem, deve ser cuidada, mas se conseguirmos fazer passar alguma mensagem na mesma, é-me mais desafiante. Quando falo em conceito, não significa que tenha de seguir necessariamente uma linha diegética, é a criação de uma identidade para a música e para a banda. Mesmo tendo em conta a significativa sopa que ainda tenho para comer a todos os níveis. Mas neste caso específico, idealizámos uma história que se pudesse integrar no espírito da música, que fosse divertida, que fosse simples e que criasse, ao mesmo tempo, um elo com o projecto e com a música. Foi um vídeo com poucos meios, mas que deu muito prazer fazer e foi extremamente divertido de se rodar. E nenhum peixe foi mal tratado, ficou o Nuno com um e eu com outro, e como se costuma dizer, estão ambos vivinhos da silva, e num aquário rectangular.
Como gravaram o álbum?
Escolhemos o percurso mais longo. Quer pelo tempo de maturação que foi existindo entre gravar uma música e outra, quer pela fórmula que usámos para chegar ao objectivo. Fomos gravando aos poucos, em estúdio (Lisboa Estúdios), e não gravámos os dois simultaneamente. Foi difícil transpormos para o formato disco um projecto instrumental, feito só com loops de guitarra e bateria. Torná-lo fiel e executável, sem cair na previsibilidade. Esperamos que tal não aconteça. Mas fundamentalmente, primeiro gravámos guitarras, pista a pista, e em separado as baterias. Há músicas que chegam a ter 50 pistas de guitarra, e quase todas têm uma razão para lá estarem, nem que a sua função seja meramente a de sustentar uma outra guitarra. Foi um autêntico pesadelo para o nosso estimado grande produtor Nuno Monteiro.
Quantas músicas vai ter e para quando o lançamento?
O nosso EP de estreia vai ter cerca de seis músicas. O lançamento está pensado para inícios de 2012, algures em Janeiro.
O que está pensado/programado para a apresentação desse trabalho?
Temos o nosso concerto de apresentação do projecto Quinta-feira, dia 15 de Dezembro, no MusicBox, e estão a ser confirmadas mais datas para esse fim-de-semana no Norte, bem como outras datas futuras que estão a ser fechadas e que vamos fazer questão de partilhar.
A vossa editora é a Lovers & Lollypops. Como se deu essa colaboração? Uma vez que vocês são de Lisboa…
Foi tudo via email. Ou terá sido telepaticamente? Achamos que a Lovers&Lollypops tem desenvolvido um excelente trabalho, e o espírito da editora e os gostos da mesma encaixam na perfeição com o que nos identificamos e gostaríamos também de poder estar associados. Essencialmente, para além da boa música e das excelentes iniciativas, a Lovers foi desde o início espectacular connosco. Foi um caso muito feliz, porque da nossa parte não houve dúvidas, e eles foram muito receptivos. É realmente curioso, porque não há o factor proximidade em termos geográficos, mas não nos sentimos nada distantes. São excelentes profissionais e acima de tudo excelentes pessoas.
Nos vários concertos que já deram pelo país, como sentes ser a relação do público com a vossa música?
Sem pretensiosismo, a frase do Fernando Pessoa para a Coca-Cola tem-se adaptado até à data: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Felizmente tem acontecido isso, mas há sempre a possibilidade de correr mal – o que já aconteceu – e aí é só estranho do princípio ao fim. Mas como referi, esse é um risco que gostamos muito de correr e está directamente relacionado com o título do EP, que será divulgado em breve.
Essa relação é diferente quando estás só tu e quando estás com o Nuno? Por que é que em alguns tocaste sozinho?
Dei alguns concertos no início sem o Nuno pela necessidade que havia também em experimentar se a fórmula inicial resultava. Houve outros também em que não conseguimos conciliar agendas e os concertos tinham que existir na mesma. Lembro-me que o primeiro foi na abertura de Balla, no Lux, e deu-me imensa força para continuar. Em suma, apesar dos loops serem constituídos por guitarra, a bateria do Nuno é indispensável, não fossem a maioria das músicas compostas e pensadas para guitarra e bateria.
Quais as tuas maiores inspirações/influências? Aquelas coisas que, por mais anos que passem, ouves sempre e o que andas a ouvir agora?
É difícil enumerar… Sonic Youth, My Bloody Valentine, Radiohead, The Smiths, Miles Davis, Kurt Rosenwinkel, John Scofield, Tom Jobim, Chopin, Carlos Paredes… O que ando a ouvir actualmente e já há algum tempo passa por Battles, Deerhunter, Liars, Gauntlet Hair, Health, Tyondai Braxton, Blonde Redhead, Animal Collective, Broken Social Scene, Foals, Women, e por aí fora.
Com que idade começaste a tocar guitarra?
Aos 10 anos comecei a experimentar acordes que ouvia o meu padrasto tocar. A minha formação é maioritariamente autodidacta, embora tenha tido algumas experiências de ensino que me forneceram certas bases importantes. Mas é um processo contínuo que está longe de estar acabado. Tem de se ir fazendo.
E desde quando te sentiste atraído pelos loops?
Desde cedo me apercebi que essa técnica existia, mas só me senti realmente tentado a usá-la há cerca de 3 anos, quando comprei o meu primeiro pedal de loop.
Pretendes continuar a explorá-los?
Sim, nesta fase é algo que me entusiasma, enquanto achar que potencia as ideias que procuro no processo criativo.
Em que outros projectos participaste/participas?
Ao longo do meu percurso participei em vários projectos como guitarrista em Spartak!, Loto, Norton, e actualmente participo em Cavaliers of Fun, Balla e Gomo.
O que tens a dizer sobre o panorama actual da música portuguesa?
Penso que presenciamos uma fase em que nascem bastantes e variados projectos interessantes. Na minha perspectiva, creio que, aos poucos, tornamo-nos mais exigentes e demonstramos conseguir produzir música de boa qualidade, independentemente dos géneros. Talvez porque agora temos mais e melhor acesso à informação, a bons festivais e iniciativas que desafiam não só o público como os próprios músicos. É um processo, mas creio que está a acontecer pouco a pouco, e bem.
A primeira apresentação de Memória de Peixe é já no próximo dia 15 de Dezembro, inserido nas “Noites da Rua @ Musicbox”, que contam com o apoio da Lacoste L!VE. A entrada custa 6€, com direito a uma bebida, e pode ser adquirida na blueticket, FNAC e locais habituais.
Memória de Peixe – Fish&Chick (feat. Da Chick) from BODYSPACE TV on Vimeo.
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