MEO Kalorama 2022 | Dia 2 (02.09.2022)
Caso ainda subsistissem dúvidas acerca do sucesso do primeiro MEO Kalorama no seio do panorama festivaleiro nacional, o facto das entradas para o segundo dia terem esgotado terá aniquilado as mesmas. Ainda que, claramente, à boleia dos magnânimos Arctic Monkeys, o cartaz de sexta-feira apresentava variados pontos de interesse na tríade de palcos montados no Parque da Bela Vista.
O sol ainda ia alto quando as Golden Slumbers se fizeram à Colina. A actuação acabou por ser morna, muito por culpa do volume extremamente diminuto que ecoava do palco, quiçá com o intuito de prevenir novos conflitos de som como o descrito no dia antecedente. Se as melodias vocais se ouviam, das poucas vezes que as manas Falcão se dirigiram ao público, pouco ou nada foi perceptível devido a isso. Ainda assim, não deixou de ser agradável testemunhar a evolução da sonoridade das Golden Slumbers, que têm tido o dom de a ir enriquecendo de álbum para álbum com ramais adicionais.
Já o sistema de som do Palco MEO teria um teste de fogo logo de seguida, porque Legendary Tigerman veio acompanhado da banda inteira, e com as veias a transbordar rock n’ roll. Sim, sabemos que o corpo de Tigerman é maioritariamente feito de rock, mas a persona musical criada por Paulo Furtado apresentou-se de forma especialmente vigorosa no MEO Kalorama. Com o público cada vez mais embrenhado na energia que vinha do palco, o final de tarde acabou de forma apoteótica, com Tigerman a passar os últimos dez minutos de concerto fora de palco, bem junto da audiência, ora discursando, ora bradando “ROCK N’ ROLL”, com a banda a reagir sempre a este grito com mais uma descarga de som. Memorável.
Passando pelo Palco Futura, que exigia que nos movêssemos com alguma antecedência, caso quiséssemos vislumbrar minimamente os artistas, desfrutámos um bocado do concerto da esplendorosa Alice Phoebe Lou. Se o ângulo de visão era bem reduzido, deleitámo-nos com a sua maravilhosa voz, sempre embrulhada em arranjos contidos, mas encantadores, que nos fazem sempre ansiar por aquilo que acontecerá ao virar da pauta. Além da hipnotizante luz natural da artista neozelandesa, claro está.
No palco principal, os Blossoms mostraram ser uma escolha acertada, na perspectiva de serem a banda a abrir (não oficialmente) para os cabeças de cartaz da noite, os Arctic Monkeys. E, recorrendo ao chavão que diz tudo sem dizer nada, o agrupamento de Stockport foi igual a si próprio: super competente ao longo da exibição do seu glamouroso indie rock. Um destaque especial para a recta final, onde brilhou o presumível “Charlemagne” e uma versão “Don’t You Want Me”, dos Human League, que lhes fica muito bem.
No inclinado Palco Colina, Róisín Murphy abordou de modo equilibrado uma performance em registo festival: jogou trunfo atrás de trunfo, quer os seus em nome próprio, quer os assinados por Moloko; e não deixou em corpos alheios toda a vanglória do seu guarda-fato, mesmo com tempo reduzido, como é usual em eventos destes moldes. De um explanado “Overpowered” aos sempre irresistíveis “The Time Is Now” e “Sing It Back”, a máquina de Róisín nunca encravou, numa prestação bem conseguida e colorida.
De quando em vez, apesar da constante procura pela diferença, é bom experienciar a performance de uma banda na verdadeira acepção da palavra. Os Arctic Monkeys são hoje em dia dos maiores nomes planetários, uma verdadeira banda de estádio. E, se noutras ocasiões, o público português se queixou da alguma leviandade de certos membros ao vivo, desta feita os rapazes de Sheffield não vieram para brincar. Desde logo, há que salientar o extraordinário momento de forma vocal de Alex Turner, que aborda todas as composições como uma firmeza e confiança notáveis, desaguando numa actuação sem mácula. E detêm um catálogo tão rico que lhes permite arrancar com o seu sucesso mais galáctico de todos (“Do I Wanna Know?”), sem medos que lhes falte material para ir mantendo a chama do interesse da multidão aceso. Chega até a ser curioso que, sendo um grupo que tem os seus fiéis fãs sempre na mão, os Arctic Monkeys não necessitam de grandes fogos de artifício para garantir que os ouvidos estão todos à escuta, mantendo sempre a compostura enquanto percorrem todos os recantos da sua obra (prestes a ser aumentada com «The Car», não tendo deixado de interpretar em Lisboa o já conhecido avanço “I Ain’t Quite Where I Think I Am”).
Encerrámos a noite no Palco Futura, deglutindo pela enésima vez o manjar exótico de Bruno Pernadas e companhia, num concerto que se alongou mesmo para lá da hora marcada, o que só por si será sinal da qualidade do mesmo.
Reportagem do primeiro e terceiro dia, respectivamente.
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