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Michael Kiwanuka @ Campo Pequeno (24.09.2022)

Palavras simples e rimas que podiam facilmente cair no cliché adquirem sentido e verdade quando se encontram com a criatividade musical de Kiwanuka.

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A Reflexão da Condição Humana em Forma de Música

Michael Kiwanuka é mais um dos artistas a ser recebido em Portugal este ano depois de vários adiamentos provocados pela maleita da década. O Palácio de Cristal, no Porto, e o Campo Pequeno, em Lisboa, ficaram preenchidos de fãs para cantar e dançar ao som de temas do seu último álbum – Kiwanuka – assim como dos dois trabalhos anteriores.

Canções pelas quais é mais afamado como «Home Again», «Cold Little Heart» e «Love and Hate» foram engenhosamente guardadas para o encore. Se é ou não estratégia para manter o publico preso até ao fim não temos como certificar, mas todo o concerto foi repleto de belas imagens ilustradas por um trabalho de luzes que proporcionaram um ambiente cativante e acolhedor, mesmo para aqueles que se sentaram mais afastados do palco.

Enquanto se esperava pelo artista da noite era possível assistir ao concerto da carismática Mychelle. Ainda que esteja no início da sua carreira, já conta com alguns singles como «Closure» ou «Pressure» e, apesar do seu concerto ter menos aparato, pode-se dizer que é uma artista promissora em virtude da sua voz encantadora e do seu jeito natural para falar com o público.

Revisitando o histórico de alguns músicos verificamos que é muitas vezes nestes concertos de abertura que se revelam grandes talentos. O próprio Michael Kiwanuka acompanhou em tour a inigualável Adele em 2011, para quem fez concertos de abertura e em quem se inspirou, testemunhando que a cantora canta com o coração (da tradução “sing from her heart”). A primeira faixa do álbum homónimo de 2019, “You ain’t the problem”, reflete a sensação de libertação da síndrome de impostor e de sentimentos de inferioridade que o próprio afirmou carregar, enquanto se adaptava ao meio artístico.

Durante cerca de duas horas o músico oferendou-nos com momentos de quase culto fazendo-se acompanhar de excelentes músicos, com destaque para as coristas, cujas vozes pareciam abduzir as nossas almas e que, merecidamente, tiveram o seu momento de aplausos. Ainda que isto não seja perceptível em concerto, há uma mestria crescente em termos de composição e arranjos musicais do primeiro para o último álbum. Palavras simples e rimas que podiam facilmente cair no cliché adquirem sentido e verdade quando se encontram com a criatividade musical de Kiwanuka que, apesar de não ter muitas capacidades como entertainer, revela-se bastante ciente das suas raízes e das adversidades da vida através das suas canções.

Texto por Rosária Rocha e fotografia por Andreia Carvalho.



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