MIL Lisboa | Dia 1 (28.09.2023)
Após uma estreia bem quente de temas de Legenday Tigerman no Musicbox, no serão anterior, onde pontificaram os novos apontamentos com sintetizadores e teclados, a vertente de concertos do MIL Lisboa 2023 arrancava em grande escala na quinta-feira, como é usual.
O nosso périplo começou por uma deslocação ao espaço do B.Leza para a actuação do camaleão João Borsch, que apesar de ter a voz danificada foi enfrentando os desafios do alinhamento, adaptando-se como podia, sem que aquela condição prejudicasse realmente o desenvolver das suas estonteantes composições. O madeirense foi serpenteando pela sua obra existente e pela que está prestes a chegar.
Saímos antes do final, porque as dinâmicas de um festival assim o exigem, e descemos à cave do Roterdão para um passeio pastoral à boleia do maravilhoso momento de forma vocal de April Marmara, embalada pelos seus acordes folk, enriquecidos pelos trejeitos de Jasmim na guitarra eléctrica a seu lado. A aventura musical de Beatriz Diniz oferece composições cada vez mais sumptuosas, que tanto visitam o legado da folk britânica como ganham uma alma ainda mais densa, patenteando um cunho pessoal da sua autora. Um concerto de voz cheia.
Regressámos ao outro lado da linha do comboio para assistirmos às explanações sónicas do trio Société Étrange no Titanic Sur Mer. Com o ambiente electrónico vindo sempre a partir dos sintetizadores, a dupla responsável pelo ritmo dos franceses vai marcando um compasso num jeito de jam session, embora não se trate de improvisações, que demonstraram alguma repetição apesar do interessante travo a krautrock.
Seguia-se a visita ao Estúdio Time Out para a mui aguardada prestação de Júlia Mestre, um dos nomes brasileiros que tem surfado uma onda de hype por terras lusas, mercê dos registos assinados pela sua banda Bala Desejo (Zé Ibarra e Dora Morelebaum, que ainda fez dueto em palco num dos temas, estavam presentes na plateia). No projecto a solo a compositora dá asas aos seus gostos mais pessoais, logicamente, fazendo uma verdadeira caminhada, tranquila e relaxada, pela América Latina, fazendo ressoar diferentes rumos sonoros dessa zona do globo. Uma actuação bastante adorável, como era previsível.
Retornámos ao Titanic para assistir a um dos mais recentes fenómenos da música nacional, Ana Lua Caiano, que se apresta para soltar o seu primeiro longa-duração, após um suculento EP e alguns singles. É bastante apreciável, e palpável, a energia que coloca na sua música, de um jeito natural. Além dessas oferendas, ainda tem tempo para um ligeiro workshop acerca do modus operandi das suas composições por intermédio da loop station. Foi a grande enchente do Titanic neste dia, por uma pequena multidão de letras na ponta da língua, que não se calou mesmo em temas que estavam a ser debutados.
A segunda ida ao Estúdio Time Out serviu para voltar a escutar um dos discos portugueses mais entusiasmantes de 2023, “Supermarket Joy”, concebido por Margarida Campelo (ver artigo acerca do concerto de apresentação no B.Leza). E o melhor que pode afirmar-se é que foi uma performance que tornou as canções do álbum tanto ou mais apetecíveis, num desfile de R&B luxuoso, maioritariamente entoado em português, e com os interlúdios que transitam que nem OVNIS e nos viciam quase sem darmos por isso.
Para os primórdios do after-hours fomos ao novo espaço Lisa, onde abanámos com as remisturas do funk originário das ruas pelos pratos de King Kami, e entrámos no Musicbox para escutar um pouco do que o metrónomo de Anna Prior marcava.
Leiam aqui a reportagem do segundo dia de festival.
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