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Milhões de Festa 2011

Milhões de voos.

Na edição deste ano do Milhões, que se realizou a 22, 23 e 24 de Julho em Barcelos, voltou-se a espalhar amor. Amor à música e aos amigos de sempre, e o sol, tão tímido neste Verão, apresentou-se radioso nestes três dias de festival.

O festival

Desta vez houve mais dois palcos que no ano passado, um em cada margem do rio Cávado, cerca de meia centena de propostas musicais, menos propostas de restauração dentro do recinto. Houve uma barraca de gomas para as gulodices do final da noite, houve ainda os míticos panados gigantes do Xispes, daqueles que eclipsam a tua cara, algumas borlas, muitas surpresas e tardes agradáveis à beira da piscina.

O Milhões tem esta relação de proximidade entre os músicos e o público super especial, e tem aquilo que é mais incrível num festival – a percepção de quão felizes somos, todos, músicos e meros ouvintes, por estarmos ali.

O primeiro dia

Depois de um breve reconhecimento do espaço mais movimentado das tardes de Barcelos nestes três dias, a piscina, onde tocavam os Black Bombaim, fizemos a primeira paragem, no Palco Lovers & Lollipops (L&L). Muito calor, pouca sombra e algum pó mas com um dos melhores cenários de sempre, idilicamente posicionado mesmo à beira do rio Cávado. Ouvia-se Black Koyote numa ambiência dançante de Verão com camadas de som intercaladas por beats fortes a marcar o ritmo. Seguiu-se Botsawa, num concerto em casa, com Joca a cantar no chão entre nuvens de poeira. Dirty Beaches entrou logo a seguir, vindo de um concerto fabuloso na ZDB na noite anterior. Apresentou novos temas, mais ritmados mas mantendo a mesma voz distorcida tão característica do seu som. Alex Zhang Hungtai dançou, cantou no meio do público e encantou com a sua pinta rockabilly deambulante sob o sol tórrido de Barcelos.

As noites do Milhões fazem-se entre o Palco Milhões e o Palco Vice. Os suecos Graveyard, pela primeira vez em solo tuga, entraram em palco com rock bastante pesado, com abanões de cabelo a animar a primeira noite do Milhões. Os If Lucy Fell ofereceram o corpo e a alma num dos mais calorosos reencontros da noite. O público respondeu ao incentivo do baterista Hélio, e foi responsável por uma das maiores façanhas do vocalista Makoto em palco – ser levado até à mesa de som em suspensão. Um concerto em família com a presença dos amigos de sempre na retaguarda do palco e a participação de Cláudia na guitarra (Linda Martini). No mínimo apoteótico.

No Palco Milhões os Liars deram um belo concerto num line-up consistente, focado essencialmente no seu último álbum “Sisterworld”, com a voz de Angus Andrew a conquistar as meninas no Milhões.

Mais dois reencontros nos dois últimos concertos da noite, primeiro Veados com Fome com um concerto enérgico mas pouco caloroso.

Lobster foi rock, suor e amor. A descrição não podia ser mais lamechas, mas não podemos deixar de ser sentimentais naquele que foi um dos melhores concertos do festival. Depois desta grande pausa, a necessidade de os ver juntos era grande e aos primeiros sons extraídos da bateria de Ricardo e da guitarra de Guilherme, o público entrava em delírio e multiplicavam-se os voos. Guilherme fez parte do set carregado pela multidão em frenesim, e foram muitas as interrupções pelas pessoas que caíam em cima da bateria. Nada interessava, o importante era estar-se ali, de preferência na linha da frente, a ver um dos duos mais queridos de sempre. A noite acabou, depois de agradecimentos suados, pela mão do gang dos Discotexas.

O segundo dia

O dia começou na piscina de Barcelos, com um atraso de uma hora antes dos Traumático Desmame entrarem em cena, num descarado contrasenso com o ar videoclip MTV que se vivia na piscina, a destilar sons guturais e cânticos tendenciosamente xamânicos. Mr Miyagi deram um grande concerto na borda da piscina com direito a mosh dentro de água, mergulhos do vocalista e acrobacias em cima das colunas. Os Long Way to Alaska entraram em seguida com um mood relaxado, perfeito para uma piscina ao final do dia.
Tirámos a toalha da espreguiçadeira para dar lugar à multidão que esperou horas eternas para entrar na piscina. Fomos ver Filho Da Mãe ao Palco L&L, num concerto repleto de participações especiais – Gaza (If Lucy Fell) no baixo acústico, Makoto (Paus/If Lucy Fell/Riding Panico) no baixo eléctrico e Jonas (Riding Panico) na guitarra. Foi bonito, apesar de alguns problemas com o som, num cenário espectacular de final de tarde emoldurado pelo rio Cávado.

Tigrala, a banda de Norberto Lobo, Guilherme Canhão e Ian Carlos Mendonza, apresentaram-se duas vezes no Milhões. A primeira no sábado num estilo mais electrónico e a segunda no domingo em modo acústico. Uma bateria em transe suportada pelo baixo e pela guitarra, num som que tinha qualquer coisa de ritualista. Seguiu-se Casa Sui ainda com um público que ia chegando aos poucos, entre a volta da piscina e a saída para o jantar.

O jantar no Bar do Xano em Barcelos foi sonorizado pelo incrível tributo ao Chungwave, malhas psicóticas pontuadas por uma caixa de ritmos desvairada em modo consola nintendo e a voz histérica num ritmo alucinante.

“Yo stage man” foi assim que os tão aguardados Anti-Pop Consortium (APC) abriram a noite no Palco Vice onde deram um concerto com beats fortes e scratchs ritmados. Um ultra-simpático M. Sayyid com um hip hop muito anos noventa, apresentou uma série de novos temas de ritmo dançante.

As Vivian Girls desapontaram com um concerto pouco entusiasmante. Apresentaram-se com a nova baterista, Fiona Campbell, a quem fizeram declarações de amor, num concerto focado no novo álbum “Share the joy”. Os Zu, pelo contrário, deram um concerto inesquecível – diz quem esteve nas filas da frente que foi a experiência da vida deles, com  vagas sonoras de ruído na cara. Os Zu apresentaram-se com um som bem mais agressivo que o último concerto que deram em Portugal, e proporcionaram outro dos grandes concertos deste festival.

Depois desta aula de noise, os Secret Chiefs 3, no terceiro concerto em Portugal este ano (depois da ZDB e do FMM Sines) encantaram com as suas capas entre nuvens de fumo com um som potente de uma world music que se encantou pelo rock.

No Palco Vice, outro dos grandes concertos do Milhões, Bob Log III (the third) como se auto-intitula, apareceu no seu famoso outfit de capacete e fato brilhante e deu literalmente um show de rock’n’roll. Absurda a rapidez dos seus movimentos, dignos de um super-herói da guitarra. O seu heroísmo valeu-lhe um beijo no capacete de um dos integrantes de Hill a quem prometeu não voltar a lavar o capacete. Apresentou-nos a sua banda (o dedo, o pé esquerdo, o pé direito) sempre com solos inimagináveis, e claro, como era de esperar, pediu a duas meninas para se sentarem no seu colo enquanto tocava «I want your shit on my leg». Teve sorte e não foi dificil convencer as meninas do Milhões. No meio desta festa só faltou o scotch e as maminhas em «Boob scotch».

Depois, Man Like Me, com um festão entre batidas grime e coreografias de ginásio de um vocalista em boxers, um teclista de calções rosa e dois sopros.

O terceiro dia

O terceiro e último dia do festival voltou a iniciar-se na piscina, desta vez com mais gente mas menos tempo de espera. As Kim Ki O abriram a tarde de concertos na piscina com as suas baladas melancólicas que deram o mote para jogos de vólei e braçadas nas bóias. Os MKRN, depois de terem ficado sem instrumentos no dia anterior, conseguiram finalmente tocar no Milhões, com um concerto que foi a banda sonora perfeita. Músicas leves, dançáveis, tiveram direito a uma coreografia executada na piscina e a um comboio aquático. Num registo de electrónica mais pesado vieram os Narwhal com camadas minimais de som, seguidos dos Nazka que apresentaram uma onda muito mais espacial, com a voz arrastada do seu vocalista a fazer lembrar um músico grunge perdido entre synths. As Pega Monstro, das últimas a entrar em palco, com canções leves mas desiludidas e uma voz demasiado desafinada, foram pouco convincentes.

A abrir o Palco Milhões estiveram os Dear Telephone, que por culpa da piscina cantaram para um grupo reduzido de pessoas. Foi um concerto tranquilo com uma boa mistura das duas vozes, masculina e feminina. Throes + The Shine inauguraram em estilo rockduro o Palco Vice numa parceria simpática entre rock e kuduro que fez Barcelos kuiar e dançar até mais não.

Os meninos de Papa Topo entraram no Palco Milhões com uma electrónica pop inocente. Tiveram direito a coreografia no público e bolas de sabão e presentearam-nos com uma versão de «Ça pleine por moi», eternizada pelos Sonic Youth.

Voltamos ao Palco Vice, e encontramos um grupo de nerds de informática prontos para transformar o Milhões numa grande rave. De fazer suar. Os falsetes incríveis dos dois vocalistas lembravam Scissor Sisters. As versões loucas de Guns’n’Roses ou Rage Against the Machine, acabaram por estoirar por três vezes o quadro eléctrico, mas o entusiasmo não desmoreceu e FM Belfast foi sem dúvida um dos grandes concertos da terceira noite do festival.

Seguiu-se We Trust no seu primeiro concerto. Começaram tímidos mas foram mostrando grande consistência em palco, com o single «Time» a fazer mexer o público. Uma pausa relaxada na pós-loucura dos FM Belfast. Os Green Machine entraram em seguida para mais um reencontro no Milhões. O concerto foi grande, cheio de energia e muitos voos, Joca de penteado novo mas com a mesma força de sempre, matou os Green Machine no final do concerto com um “Green Machine is dead”.

As Electrolane mostraram-se num ambiente dançante, numa fusão entre o rock e a electrónica, com músicas bonitas para sonhar.

Star Slinger, pela segunda vez em Portugal, apresentou um set de músicas boa onda, com beats esquizofrénicos e fez o Milhões dançar, num dia em que não queríamos mais do que isso. Washed Out entenderam isso mesmo e foi dançar, dançar, dançar…

Num mood desvairado-tribal, surgiram os Foot Village com um dos melhores concertos da noite. As quatros baterias entravam em transe e a vocalista possuída gritava com uma voz de robot, a combinação perfeita para 50 minutos de êxtase delirante. Foram seguidos pelos Radio Moscow com o seu rock psicadélico a incitar o crowd surf aos Milhões e o abanar sincronizado de cabeças no público. Comanechi logo depois, com a vocalista Akiko em body e aos berros a dançar como louca, sustentada por uma bateria e uma guitarra em ritmos caóticos e extra barulhentos. Um concerto extra enérgico, com muito mosh e muitos voos, indispensáveis no Milhões. A fechar em grande os Secousse fizeram jus ao nome do festival; com um set cheio de preciosidades africanas do kuduro ao funaná, acabaram com uma multidão em palco a dançar e fecharam o Milhões já de dia, com um “Portugal est fatigué, fatigué, fatigué” a embalar os últimos resistentes.



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