Miss Jappa, ou o Japão à distância de uns pauzinhos
Há um restaurante nipónico perfeito para quem não se contenta com menos que o melhor dos sabores do Japão
O calor e o sol convidam a um passeio pelo Príncipe Real, zona lisboeta onde todas as culturas e artes se encontram em perfeita comunhão. É aí que surge o Miss Jappa, que nos transporta daqui até ao coração mais eclético do Japão.
Neste restaurante há espaço para tudo: um néon a dizer “Miss Jappa” recebe-nos à porta, a fazer lembrar as grandes luzes comerciais em Tóquio, subimos um par de escadas e estamos na primeira sala, decorada como se de um supermercado japonês se tratasse, com mercadoria asiática e muita, muita bebida típica.
As madeiras familiares relembram-nos a ligação mística do Japão com o bambu e a terra e sua leveza contrasta com a restante decoração, que nos faz lembrar que os japoneses são um povo excêntrico, mas regrado: há gaiolas a fazer de candeeiros, bailarinas a espreitar do tecto e o verde da vegetação prolifera lá fora, roubando protagonismo pela janela.
Esta dicotomia também se serve à mesa, com uma carta que se reveza entre o tão adorado sushi, as icónicas tigelas de ramen e a mais tradicional (e menos conhecida dos portugueses) “fast food” nipónica.
Pensada para partilhar, esta carta serve qualquer propósito: delicia os mais conservadores apreciadores de comida asiática (com sushi e ramen e até cachaço de porco, sempre com um “twist”) e dá asas a quem gosta de experimentar novos sabores, com o salmão, o , a beringela e a rúcula a comungarem com amendoins com caramelo de miso, chocos de amêndoa, panquecas de couve, rebentos de mizuna e até pickles de daikon.
Entre ervilhas de wasabi, optamos por bao de salmão teriyaki (um tipo de pão a vapor semi doce que se desfaz na boca, embebido no molho do salmão, e nos abre o apetite para o prato principal) e por nasu dengaku, parte da nova carta do Miss Jappa, que consiste numa deliciosa beringela grelhada com molho dengaku e onde o bacon crocante se destaca.
Estavamos mais que prontos para o prato principal… e se o sushi bar tinha de ser experimentado, o cachaço de porco também nos intrigou. Optamos pelos dois e fomos presentados com uma interessante mistura de sabores e texturas.
Por um lado, o sushi, à escolha do chef (e convém relembrar que a carta é assinada por Anna Lins, a primeira portuguesa a receber um certificado da associação japonesa de sushi) e que fazia lembrar um jogo de bingo, com as peças espalhadas pela tábua, levou-nos numa viagem pelos principais valores desta autêntica arte culinária e relembrou-nos que sushi é bem mais que peixe cru.
Já o cachaço de porco, banhado a molho de soja, mirin e gengibre, desfazia-se na travessa e obrigou-nos a pedir mais bao (o tal pão a vapor) pelo menos uma vez. Os cogumelos salteados que o acompanhavam estavam igualmente apetitosos e casavam na perfeição com a carne e o molho que ia escorrendo dos pães, comidos com bastante gula (há que o admitir).
Tudo isto foi sendo acompanhado por outra das grandes surpresas do Miss Jappa: cocktails. Escolhemos um dos mais pedidos da carta, o Tokyo Garden, que leva lemongrass, lima, gengibre, gin, ginger ale e, pasme-se, coentros. Esta delícia vinha servida num copo de metal, acompanhada de hortelã e muito gelo, para fazer frente ao calor. Para além do “old school” (que também tem uma versão sem álcool), pedimos ainda um dos novos cocktails da carta, o Mr Murray, que também é confecionado com gin, a que se junta sakê, limão, sumo de yuzu e manjericão. Os mais gulosos vão gostar de saber que, para além de ser uma excelente aposta para o verão, este cocktail vem acompanhado de um pequeno cone pejado das famosas ervilhas de wasabi, que tanto furor fazem no Miss Jappa.
O almoço já ia longo e a barriga já estava pesada, mas não havia maneira nenhuma de sairmos do Miss Jappa sem provarmos as sobremesas. Optamos por duas das mais curiosas apostas, o Yokan, uma marmelada de azuki com requeijão de cabra e nougat de noz (que não recomendamos a quem não goste de testar o palato com sabores diferentes) e um dos mais pedidos itens da carta, o Taruto, uma torta de laranja de textura surpreendente, que se desfaz e mistura na perfeição com o gengibre, shisô e a maravilhosa espuma de amêndoa que a acompanham.
Em suma, há no Miss Jappa um Japão à medida de todas as bocas, que serve os mais audazes e os mais conservadores palatos e nos transporta, nem que seja por uma tarde, até aos destinos mais exóticos. Adeus, restaurantes asiáticos de esquina… Depois de uma autêntica visita aos verdadeiros sabores do Japão, quem se contenta com o normal?
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