Mola Dudle
Depois de mostrarem a “Mobília” voltam a surpreender e a provar que não existem limites para a criatividade.
A sua invulgar denominação compara a forma e o ruído de um objecto artesanal (Mola), com a expressão visual de um risco – garatuja (Dudle).
Surgiram em 2001 através de uma parceria entre Nanu e Miguel Cabral e tinham o propósito de usar a música como elemento estruturante de outras manifestações artísticas; como um lugar de parcerias que levasse a música a confluir com outras (e noutras) linguagens, usando a metáfora da ‘casa’ – por apetência, o lugar mais imediato – como ponto de partida.
Através da Ananana, editaram “Mobília”, o primeiro registo de originais e um disco que foi bastante aclamado pela crítica devido à sua originalidade.
Mobília, paradoxo de algo estático impossível de se movimentar, permitia construções e desconstruções de ambientes interiores físicos e psicológicos em formato de micro-canções. Na prática, usaram-se cadeiras, estores, talheres, ábacos, canos, máquinas de barbear, lápis, panos, colchões, escovas de dentes ou interruptores como matéria de combustão. Cada música procurava ser uma espécie de representação de um objecto (passível de ser observado de qualquer ângulo) e o seu acabamento passava pelo uso de tecnologia de programação e alguns instrumentos convencionais. Música de qualidade a roçar o experimentalismo.
Em 2003 regressaram com “O Futuro Só Se Diz Em Particular”, mais uma vez editado pela Ananana. Quando se pensava que iriam continuar a linha do anterior álbum de originais, os Mola Dudle apresentam-se com um conjunto de faixas que se enquadram perfeitamente no formato de canção que todos conhecemos.
Apresentando os mesmos dois elementos, criam ambientes que nos fazem lembrar o início do século, o preto e branco e os salões de chá. Os textos utilizados são, em grande parte, excertos de publicações da época, criando assim um revivalismo que dá a conhecer de alguma forma como era visto o futuro no passado. Confuso? Já pensaram como seria visto o nosso presente pelos nossos antepassados? Provavelmente existem muitos pontos em comum e os Mola Dudle deixam algumas pistas àqueles que estiverem interessados.
Sons da época misturados com programações e outros efeitos, criam 12 faixas muito sugestivas e interessantes que se demarcam dos sons retro que dominam a actualidade, pois os samples são trocados pela invenção de material sonoro. Não existe nenhuma faixa que mereça ser destacada, pois o álbum deve ser visto como um objecto único, para ouvir do princípio ao fim.
Neste novo registo, existem participações de peso, como por exemplo Manuela Azevedo no tema “Árvore”, o multi-facetado Armando Teixeira no tema “Radioplástica” e na co-produção do álbum, ficando a produção para Mário Barreiros. Nome importantes num álbum por si bastante interessante, que convida a uma viagem ao passado sempre a olhar para o futuro.
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