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Monstra 2011

A Animação volta a Lisboa.

No ano passado, trouxeram Bill Plympton a Lisboa e fizera uma retrospectiva do nosso próprio país; bateram recordes naquela que foi a edição mais bem-sucedida, com masterclasses e sessões cheias, sempre com aplausos no final, com ou sem ovação de pé, e um público fiel que ano a ano visita o São Jorge e todas as outras salas. Este ano, promemetem fazer o mesmo, apresentando uma programação que supera a anterior tanto a nível de qualidade quanto a nível de inovação. A MONSTRA está de regresso e, mais uma vez, parece pronta a superar-se a si mesma.

A grande novidade é, sem dúvida, a secção de competição de Curtíssimas, dedicada às obras com menos de dois minutos. As inscrições foram abertas a todo o público, e de entre as centenas e centenas de candidaturas foram escolhidas algumas dezenas que irão competir entre si. Numa altura onde há concursos cada vez mais frequentes do género “Faz com o teu telemóvel” ou “Nós damos a personagem e tu fazes o filme em três minutos”, o festival revela estar assim atento ao que o rodeia, inovando-se a si mesmo. Afinal de contas, é preciso grande originalidade e controlo para conseguir fazer algo com princípio, meio e fim em menos de dois minutos; principalmente quando tal é feito em Animação, um meio tecnicamente difícilimo. Irónico que tal inovação seja feita num ano ímpar; ou seja, ano em que o festival se dedica às longas-metragens.

Nas longas, o destaque vai imediatamente para o novo filme de Pritt Parn, o mestre do metafísico e do denso no cinema de animação actual, que este ano nos traz “Life Without Gabriela Ferri”, a sua mais recente longa-metragem. Venceu no ano passado nas curtas, e esteve presente no festival para uma (excelente) retrospectiva e uma masterclass. Este ano, voltamos a encontrar-nos com ele. Além do novo de Pritt Parn, há que destacar também “O Mágico”, de Silvain Chaumet, recente nomeado para o Óscar de Melhor Filme de Animação (perdeu para Toy Story 3). Filme espantoso e obra-prima absoluta, que passou no final do ano passado pelas nossas salas. Chaumet, realizador do também magnífico “Belleville Rendez-Vous”, criou um filme de grande poder, tão triste quanto belo, a partir dum argumento de Tati que o próprio não chegou a realizar. É facilmente um dos filmes do género da última década, e absolutamente obrigatório. Poder vê-lo mais uma vez em sala é uma grande oportunidade.

Mas uma oportunidade que em nada se compara à mais interessante e importante retrospectiva que irá passar este ano pelo festival, e que permitirá ao espectador rever ou ficar a conhecer quatro das obras-primas (duas delas nunca antes passadas cá numa sala de cinema) daquele que é, a par com a Pixar, o grande estúdio da Animação contemporânea: Studio Ghibli. A MONSTRA irá passar quatro filmes de Hayao Miyazaki, considerado por muitos (e com razão) como um dos maiores cineastas actualmente em actividade. “My Neighbor Totoro”, “Laputa – Castle in the Sky”, “Porco Rosso” e “Princesa Mononoke” foram as quatro obras escolhidas, revelando um gosto apurado em relação à filmografia do realizador. “Laputa”, é (a par com “A Viagem de Chihiro”), o mais arrebatador dos seus filmes, de uma ambição imensurável tanto a nível visual quanto de argumento (é a história mais complexa do realizador, e o seu filme mais longo). Não é apenas o seu melhor filme (mais uma vez, lado a lado com Chihiro); é, talvez, simplesmente um dos mais belos filmes alguma vez feitos. “Porco Rosso” é, por seu lado, talvez o mais subvalorizado, revelando o cineasta em todo o seu esplendor, numa das suas mais belas e originais obras. E “Totoro”, claro, é simplesmente um dos filmes de Animação mais aclamado de todos os tempos, frequentemente considerado como o melhor filme de anime alguma vez feito. É uma obra lindíssima, tão perfeita e enternecedora que se torna inexplicável de explicar por palavras, sobre duas jovens irmãs num mundo tipicamente à Miyazaki, onde os Totoros (grandes e adoráveis criaturas) existem. O amor e a infância traduzido em imagens.

Mononoke foi o filme que apresentou Miyazaki ao Ocidente, e é ainda hoje um dos seus filmes mais adultos e importantes: grande parte da alma moral do cinema do cineasta está aqui. Obrigatório e intemporal (mas não são todos…?).

Aliás, o cinema de Animação japonês estará em destaque numa outra retrospectiva que pegará em vários dos cineastas da geração actual e os apresentará ao público. De entre tanto por onde escolher, dá-se destaque às duas obras de Motohiro Shirakawa, nome promissor que começa a gradualmente ganhar um pequeno culto. Outros dos nomes soam familiares, outros não, num equilíbrio entre promessas e nomes desconhecidos que agora nos são apresentados, numa selecção que certamente se revelará interessante. A retrospectiva irá decorrer toda ela no Cinema City Alvalade.

E, mais uma vez, a MONSTRA tem um país convidado, dedicando-se a mostrar a sua obra. No ano passado foi o nosso próprio país, este ano é a Holanda. Retrospectiva de vários dos seus cineastas (Paul Driessen, Michael Dudok de Wit, entre outros, estando estes dois presentes no festival), com vários ciclos. Mais uma vez, uma magnífica oportunidade de se ver o que se faz além-fronteiras (fora dos Estados Unidos e afins, diga-se…), tornada ainda mais especial pelo simples facto de ser possível ver alguns dos filmes com os próprios realizadores na sala.

Mas Portugal voltará a estar também em destaque. Não esquecendo o centenário da Républica, passará no MONSTRA a obra 10 por Cem, realizada por vários artistas (animadores, músicos, entre outros), e que passará em dez minutos pelos cem anos celebrados, prestando homenagem aos artistas que marcaram o período da Primeira Républica. Será sem dúvida uma obra fascinante, resultante de vários talentos provenientes de várias áreas.

Os estudantes voltam a ter, mais uma vez, uma parte activa no festival. Haverá, mais uma vez, uma secção dedicada às curtas enviadas por estudantes de todo o mundo, com um júri próprio para as avaliar. O júri principal, por seu lado, será constituído por Georges Sifianos, Piotr Dumala, Monique Renault, Pedro Serrazina e Tentúgal, possivelmente com nomes ainda por anunciar (o mesmo se pode dizer em relação a todos os outros júris). Afinal de contas, o festival está ainda quase a um mês de distância, e muito pode ainda ser anunciado.

De resto, a MONSTRA traz-nos tudo aquilo que dela esperávamos. Teremos o regresso da Monstrinha, mostras dedicadas a pais e filhos, que desde o início foi uma das fortes marcas do festival, e da secção Transversalidades, dedicada ao unir da Animação com outras artes, com a realização de projectos dentro do experimental; neste caso, além de cine-concertos dados por músicos da Academia JBJazz, veremos “A Fábrica”, projecto que une a Animação à dança, e que será criado num workshop a ter lugar nos dias 12 e 13 de Março dado por Fernando Galrito, a mente por trás de todo o festival, e Marina Frangoia, dançarina profissional, com o resultado a ser mostrado na sessão de abertura do festival.

Pelo meio haverão workshops, masterclasses, uma retrospectiva dedicada a grandes clássicos do género (Dumbo, A Bela Adormecida, entre outros), convidados que ainda poderão vir a ser confirmados, e um poço de descoberta de um dos mais belos meios artísticos. No ano passado, superaram as expectativas e deram-nos verdadeiramente alguns momentos inesquecíveis (veja-se a Masterclass do Bill Plympton, por exemplo); este ano, parece que voltarão a fazer o mesmo. Cada vez mais a MONSTRA melhora na qualidade do que mostra e faz, e este ano não será excepção. E cada vez mais é um prazer ir àquele que é um dos mais únicos e vanguardistas festivais de cinema dentro das nossas fronteiras. A viagem começa dia 21 de Março e termina dia 27. E, mais uma vez, é obrigatória.



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