“Morreste-me”
Uma ode ao amor
Quando morre um pai não morre só um nome, um corpo. Morrem também as outras vidas. Morrem também os outros nomes, mesmo que não seja por tempo indeterminado. Morrem os filhos. Um bocadinho todos os dias, até não poderem morrer mais e terem que voltar a aprender a existir. A única coisa que não morre são as memórias. Essas, que primeiro ajudam os filhos a morrer, são as mesmas que os ajudam a sobreviver, quando já não há mais dor para vasculhar. Porque são elas que trazem de volta tudo o que se aprendeu com esse nome que lhes morreu. Todo o amor que se lhe tem. Ao pai.
Inquietante, não é? Sandra Barata Belo e Cátia Ribeiro também acharam quando leram a obra de José Luís Peixoto. “Como encaixotar memórias e seguir caminho, mesmo quando se perde um pai? De onde vem a coragem para seguir, como se avança”? Foi este o ponto de partida para que as duas encenadoras fizessem a adaptação de “Morreste-me” para um belíssimo monólogo, interpretado por Sandra Barata Belo, que a leva (e nos leva) de viagem até ao Alentejo.
Lugar de raízes, onde estão a casa, a família e as recordações, é aqui que toda a acção se desenrola. Começamos por assistir a uma filha inquieta, ansiosa, frustrada com a morte de seu pai, de umas das bases da sua existência. O corpo acompanha o discurso em permanente conflito. Também nós, meros espectadores, nos reconhecemos em memórias de infância, memórias de um pai que ensinou tudo o que podia ensinar. Mas, ao mesmo tempo, é nelas que esta filha vai buscar de novo os alicerces para se recompor, para voltar a aprender tudo o que já aprendeu anteriormente. Para fechar um capítulo e deixar com ela as imagens do que a fizeram crescer.
“Morreste-me” está em cena no Teatro do Bairro até 3 de Fevereiro. De quarta a domingo, às 21h e domingo às 17h. O bilhete custa 12,5€.
Fotografia de Luís Ferreira
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