“Morte numa Noite de Verão”
Um “clássico” vindo do Norte
Ainda que não estejamos perante um livro novo – a edição norueguesa deste título data de 2000 – “Morte numa Noite de Verão” (Porto Editora, 2014) traz, finalmente, ao mercado editorial português, K. O. Dahl, um dos mais respeitados autores de policiais oriundos das prolíferas paisagens nórdicas.
Com um início de carreira que nos remete para os primeiros anos da década de 1990, seria com “Morte numa Noite de Verão” que Dahl arrecadaria o galardão do Melhor Policial Norueguês do Ano e seria também nomeado para o Brage Literary Award, assim como para o Glass Key Award e o Martin Beck Award.
Ainda que sem edição nacional, Dahl é dono de vários títulos interessantes com destaque para as aventuras do detetive Frolich que em “Morte numa Noite de Verão” tem como companheiro o solitário Gunnarstranda, um personagem fruto de muitas influências noir de autores como Dashiell Hammett ou Raymond Chandler, que combate a solidão através de monólogos com Kalfatrus, um peixe de aquário, mas que não renega o exílio da sua cabana no seio da floresta junto de Oslo.
A trama de “Morte numa Noite de Verão” remete-nos para Katrine Bratterud, uma bela e sedutora jovem que está perto de conseguir o pleno da sua reabilitação face às drogas. De forma a comemorar tal feito, Katrine e o seu namorado Ole, são convidados de Annabeth e Bjorn, o casal que dirige o centro de reabilitação, para uma festa privada em casa desses.
A noite vai longa mas Katrine não se sente bem e abandona o local, sozinha. Na ressaca, a jovem procura um ombro amigo e quando procura refrescar-se junto de um lago, depois de momentos de luxúria, é vítima de uma morte brutal que leva a uma série de interrogações e dúvidas sobre o seu passado longínquo e recente.
O caso traz à ação a dupla de inspetores Frolich e Gunnarstranda, dois experientes agentes policiais que refutam coincidências e afastam do cenário da morte de Katrine uma questão relativa à falta de sorte.
A investigação leva Frolich e Gunnarstranda a difíceis puzzles pessoais e de uma densidade assinalável que estão para além das ligações de Katrine a redes de prostituição e droga. Os suspeitos crescem a cada página. Ninguém está a salvo e a violência do assassino apenas encontra paralelo na intensidade com que Folich e Gunnarstranda se embrenham num caso que os leva a uma viagem que atravessa gerações.
As páginas fluem com uma cadência quase “teatral” onde cada capítulo pode ser entendido como um “ato” cuja sumula vai ao encontro da globalidade de um romance dividido em três partes. O enredo é satisfatoriamente intrincado e resulta numa amálgama de desilusão, problemas que derivam da adição a drogas e questões sociais diversas.
Dahl, serve-nos um romance cativante e sólido onde a música e a literatura são referências (Tom Waits, Mozart e Arundhati Roy são algumas referências) mas os principais ingredientes são uma típica poesia nórdica e um élan emocional que está intrinsecamente associado aos metidos da investigação policial.
Para além disso, Folich e Gunnarstranda transpõem para a ação a complexidade das suas relações pessoais que juntamente com o mistério do assassinato em si mesmo tornam o livro numa peça mais una e interessante. Outra das particularidades da escrita de Dahl é a forma como nos apresenta Oslo, como dá a conhecer facetas “turísticas” da cidade, algo que é uma das mais interessantes imagens de marca dos títulos entendidos como policiais nórdicos.
Ainda que, em 2014, “Morte numa Noite de Verão” não seja uma “lança em África” no que toca aos romances policiais oriundos do norte da Europa, não deixa de ser um livro obrigatório para os amantes do género.
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