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MOTELx 09

9000 no escuro.

Festivais de cinema em Lisboa já se sabe, são sempre um sucesso antes de terem começado. Percebe-se porquê, não vale a pena dizê-lo, e o discurso é sempre o mesmo na cerimónia de abertura. Seja pelo número de filmes apresentados, convidados, apoios, até pelo simples facto de existir mais uma edição. Na de encerramento o discurso repete-se, já com números, e na última edição do Motelx, que terminou no Domingo passado, foram mais de 9000 espectadores que encheram as duas salas do São Jorge, número muito superior ao de 2008.

Há algo de extremamente amador neste festival que só joga a seu favor. Por não ser tão grande como os outros, por ser inteiramente dedicado a um género de cinema que se tende a ver como menor, menor da mesma maneira que as comédias não ganham Oscars de Melhor Filme e por aí adiante. Ou seja, não há grande aparato, há uma espécie de labour of love (com isto não quero dizer que os outros não o tenham) que não pede por grandes festividades na cerimónia de encerramento, mas um ar inteiramente despreocupado, distraído e nada ensaiado. Percebia-se o nervoso, mas também o facto de ninguém saber muito bem como fazer aquilo ou até o que dizer. Genuinamente desenrascado, sem isso cair mal nem se adequar propositadamente aos moldes do festival. Digamos que aquelas pessoas são assim. O Motelx é assim. Se crescer ainda mais, e tem tudo para isso, ninguém levará mal o facto de ser mais formal. É normal.

Também se sabe que os festivais não são feitos para pessoas que trabalham oito horas por dia mais descontos. Por isso, não deu para ver todas as curtas portuguesas em concurso, já agora, o primeiro prémio atribuído pelo Motelx na sua curta vida. Digamos que é óptimo ver tanta gente a querer participar, menos bom quase toda a gente queixar-se da falta de apoio do estado, etc., etc., etc. Hoje em dia é mais lamentável a queixinha do que a ausência de apoio. O discurso agrada sempre aos mesmos, não faz as coisas mexer. A persistência nisto, só torna o cinema português mais próximo da pré-época do Benfica e de todas as manchetes de jornais associadas.

A Menção Honrosa caiu em “Papá Wrestling” de Fernando Alle, que pôs a sala da sessão em que o vi completamente histérica. Não era para menos, há uma imprevisibilidade e um exagero neste trabalho que puxam por isso numa sessão em grupo. Está bem conseguido, há uma genuinidade e honestidade que conquistam sem grande esforço, e engatam o espectador, dando-lhe tudo e muito mais do que está à espera. O prémio foi para “Sangue de Frio” de Patrick Mendes, produção associada à O Som e a Fúria, filme-situação, vago, com muitos espaços em branco para preencher. A incerteza e a imaginação fazem o resto numa transfusão de sangue inserida num ambiente de conto popular macabro sem moral, estranhamente ritualista.

O resto cumpriu. John Landis, bem-humorado, apresentou uma versão limpinha de “An American Werewolf In London”; menos limpo, “Re-Animator” valeu pela experiência no cinema de um clássico eterno; houve também oportunidade para perder tempo com “Yoroi: Samurai Zombie”. Bom bom, do que se viu, foi “Manhunt” de Patrik Syversen, slasher que não perde muito tempo com introduções e nos enfia num jogo de caça, ao longo de hora e picos; “Martyrs”, de Pascal Laugier, pode ser aquela dose extra de feijoada para quem tem o estômago fraco, mas mais do que isso é um excelente exercício de narrativa no torture porn. Mais do que guardar um segredo, consegue omitir o real propósito do filme ao longo de uma hora, sem um tom repetitivo ou um decréscimo da violência. A novidade não está nesta ser crescente, mas em começar com uma alta dose, para depois explorar com mais ou menos sangue, mais ou menos carne, a nossa capacidade. E, claro, “Not Quite Hollywood: The Wild, Untold Story Of Ozploitation!” de Mark Hartley, do qual já falámos aqui.



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