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Movimento Alternativo Rock

Em 2008, três amigos pertencentes a outras tantas bandas decidem “criar um movimento que apoiasse uma determinada forma de encarar a música e que salvaguardasse os interesses de projectos e músicos que se enquadrassem numa mesma forma de pensar.” Esse movimento chama-se Movimento Alternativo Rock e as palavras são de Bruno Broa, uma das mentes por detrás da criação da associação. No próximo dia 21 de Março comemoram-se dois anos de existência. A celebração acontece uma semana depois, dia 27, no Bacalhoeiro. Pretexto para entrevistar Bruno Broa.

União e amizade

O Movimento Alternativo Rock (MAR) foi então criado por três membros de três bandas. A associação surgiu de uma conversa entre as tais três mentes fundadoras “cuja motivação era estabelecer uma plataforma, em que a união, a amizade e a partilha formassem um caminho menos atribulado [que o das editoras], com o objectivo de chegar a um maior número de pessoas, angariando os meios necessários e passando a mensagem através dos seus concertos”. Dito assim parece coisa meio religiosa, com missas e padres ao barulho, mas não é.

Entretanto, ao longo destes dois anos de existência, outros projectos foram-se juntando. “Achamos que possa ter sido devido à honestidade dos princípios do movimento e ao facto de a ideia consistir na formação de uma plataforma construída e constituída pelos próprios músicos. [Além disso], o MAR ainda engloba em si determinados factores como o facto de ser constituído por bandas/projectos que não têm contratos assinados com editoras, que cantem temas originais e que o façam em português. Estes factores acabaram por se tornar pilares da própria estrutura actual do movimento”. Faz sentido referir que este tipo de associações normalmente surge como uma reacção a qualquer coisa. O MAR não é excepção. Neste caso foi uma reacção ao facto destas bandas terem andado durante “duas décadas habituadas a vaguear sozinhas, num estranho fenómeno de competição fomentado por determinadas entidades que procuravam apenas o lucro e que estavam desabituadas a olhar para os músicos em geral como colegas”. O discurso torna-se mais duro nesta fase: “Pessoas que estão num mesmo plano, interligadas por algo tão único como fazer música e tudo o que criativamente gravita em [seu] torno. Não faz sentido absolutamente nenhum existirem ganhadores ou perdedores quando se trata de algo como [fazer] música.” De facto, a união e a amizade entre todos os membros do MAR é o mais importante. Existem reuniões pontuais em conjunto, criam-se eventos comuns, existem “delegações de trabalhos em determinadas áreas e ainda estruturas administrativas – desde o simples e-mail a uma rede complexa de canais de comunicação e parcerias com entidades de divulgação, salas de espectáculo, artistas fotográficos, etc”.

Movimento de músicos nacionais

No site oficial do movimento lemos que o MAR não é uma “agência, promotora ou editora”. Perguntamos: o que é então o Movimento Alternativo Rock em concreto? A resposta inclui várias respostas dentro. “O MAR é um movimento de músicos nacionais que interiorizaram nos seus projectos individuais a necessidade de criar ligações com colegas do mesmo meio. A intenção é poderem promover juntos a nova música nacional cantada em português. É um movimento que quer recuperar o elo físico entre o público, a banda e a sala de concerto. Um espaço de interacção cultural, desligado na sua essência de factores políticos e religiosos. Uma casa de músicos, feita por músicos para músicos e não só. O [MAR] não promove. Promove-se através da utilização das bandas, do espírito e da filosofia do movimento. Não agência, mas é agenciado pelos músicos quando falam do movimento. [O MAR] edita de todas as formas possíveis não oficiais com o intuito de fazer chegar em vários formatos às casas de todos os que gostam de música, às rádios, às agências, às editoras, às salas de espectáculo e a outras bandas”. Para já o MAR não é uma agência, promotora ou editora, mas é o próprio Bruno Broa que não coloca a ideia de evolução para uma promotora ou editora de parte. “Se um dia o MAR for uma promotora ou uma editora – talvez o mais acertado será mesmo dizer produtora – é porque naturalmente evoluiu para isso e concerteza manterá a intenção de continuar a crescer num espírito de família onde todos se sentam à mesma mesa descomplexadamente e usufruem do que ali está exposto.”

Cantar em português

Nos últimos anos, Portugal tem sido palco de uma grande discussão acerca do facto de se cantar ou não em português. Procurámos saber qual a motivação do MAR relativamente ao slogan “canta em português”. Bruno Broa recusa entrar pela parte polémica da coisa: “é uma discussão em que não queremos entrar. Cada um é livre de fazer [música] da forma que acha que a expressa melhor. É uma distracção que desvia o olhar dos verdadeiros problemas que os músicos enfrentam e nem sequer falamos de questões como a falência do formato CD, o fecho das editoras internacionais ou dos downloads ilegais. Queremos antes de tirar de casa os portugueses e lembrar-lhes que somos um conjunto de gente curiosa e que vale a pena ir socializar com os [seus] semelhantes, em locais interessantes para ouvir música nova e poderem livremente opinar sobre o que gostam ou não gostam.” A questão de cantar em português “é uma falsa questão que acaba por ser mais um mecanismo de discórdia e volta a sentar músicos em lugares opostos na mesa para ter uma discussão de surdos e mudos quando no fundo fazem todos o mesmo”. Então porquê tantas menções ao facto de se cantar em português no site oficial do MAR? Bruno Broa explica: “A chamada de atenção do movimento para o [facto de] cantar em português,  é simplesmente [um] factor de união que permite construir e ajudar com maior propensão do que se fossemos generalistas. Ajudar toda a gente faria com que não ajudássemos ninguém.” Mas o movimento recebe trabalho feito em inglês. Bruno explica o que acontece a esse material: “quando recebemos trabalhos de música cantada em inglês, essa música não fica nem parada na prateleira e muito menos é devolvida ao músico que tanto trabalhou para a criar. É antes reencaminhada para os nossos amigos e parceiros que concerteza ajudarão essas bandas no seu percurso. Não somos a última paragem de comboio nenhum e muito menos inimigos de outras formas de expressão. Somos colegas de colegas, músicos amigos de músicos.”

Internet

O MAR tem vindo a sobreviver ao longo destes dois anos sem apoios. Impõe-se a questão: sem a Internet seria possível a uma associação como o Movimento Alternativo Rock sobreviver? “É complicado responder a essa questão, visto a Internet ser tão comum como o telefone, ou como era o acto de escrever uma carta nos anos 50 ou 60”, atira Bruno Broa. E completa: “Se não houvesse Internet temos a certeza que o MAR sobreviveria e cresceria da mesma forma, adaptando-se às realidades vigentes. O mundo associativo tem uma força e uma dimensão que escapa à maioria das pessoas. E penso que o MAR não foge a essa dimensão e a essa força. Agora resta quebrar o paradigma que se tem estabelecido no mundo associativo cultural que é a desunião entre associações, entre agentes e promotores culturais. É com esse caminho que procuramos parcerias para as nossas iniciativas, procuramos novos caminhos para alargar o MAR e para continuar a sobreviver, não só através da Internet, mas privilegiando o contacto com as pessoas.”

A Internet serviu também para editar uma colectânea. O movimento editou 150 cópias da Colectânea Subcutânea 2009, onde juntaram 18 temas de 9 bandas. O MAR pensa editar um dia em formato físico. “Será sempre esse o objectivo a seguir. A Internet tem as suas vantagens, e permite-te colocar a música em todo o lado apenas com um click, mas, ao mesmo tempo, afasta as pessoas de saborearem realmente a música, afasta-as do consumo daquilo que produzimos. A edição física é sempre uma mais-valia, até porque «obriga» as pessoas a pelo menos ouvirem uma vez o produto que acabaram de adquirir.” Em relação à Colectânea Subcutânea 2009, ao que consta foi um sucesso. “Colocámo-la para «download» gratuito – continua a estar disponível – e em apenas 15 dias atingimos os 200 «downloads». Foram distribuídas em formato físico a várias entidades de divulgação, a amigos, a estranhos e público em geral que deixaram de ser estranhos a esta forma genuína de mostrar o que de novo se faz por este país fora.”

Futuro

Festejado o segundo aniversário, o que prepara a MAR para o futuro? Logo depois da celebração segue-se a “construção de um site que englobe, acima de tudo, uma ligação mais centralizada de todas as plataformas. A intenção é reestruturar a imagem do site para dar uma nova cara do MAR em 2010.” Seguem-se os concertos de divulgação do projecto Venham mais 5 – pela celebração dos 80 anos do Zeca Afonso, em que, a convite da FEEDback Música, vários músicos de diferentes bandas do MAR se misturaram para recriar cinco temas.” O resultado poderá ser experimentado “tanto na Fnac do Colombo, em data a anunciar, como na Sociedade Guilherme Cossoul, no dia 23 de Abril, em formato acústico mais um debate e conferência sobre a música portuguesa em geral e ainda na grande estreia com muitas mais surpresas e outros temas no dia 24 de Abril no Santiago Alquimista. Em Maio vamos participar num evento co-produzido com a sociedade Guilherme Coussoul, apelidado do Mês de MAIO da Nova Música em Português, com o objectivo de ajudar na reestruturação do novo espaço da Guilherme Cossoul e onde, desta forma, o MAR e as bandas a ele associadas contribuirão na íntegra com todas as entradas para esse propósito de ajudar a construir um novo pólo cultural no centro de Lisboa dedicado a todas as Artes. Entre o mês de Março e Julho estaremos a aproveitar em pleno as parcerias que temos com salas como o Teatro Casa da Comédia em Santos e o Bacalhoeiro em Lisboa. Em Junho e Julho apresentaremos a colectânea de 2010 com novas bandas e novos temas, desta feita com extras surpresa e novidades na forma de divulgação.

Neste primeiro semestre vamos também catalizar o máximo possível a imensidão de novos trabalhos das nossas bandas que estiveram em gravações para novos trabalhos entre Novembro e Março deste ano e que estarão, a nível nacional, a promover esses mesmos trabalhos. Bandas como Blá Blá Blá, Alf, Cinza, Ninfo, Bar e Pássaro juntam-se agora a Nervo e Matilha que lançaram no início do ano os seus singles e álbuns por sua iniciativa própria. E também por estar em vias de se juntarem a este já animado grupo outras grandes e novas bandas portuguesas que ainda não podemos adiantar mais de que cantam… em português”. E conclui com referindo que “para um primeiro semestre já é uma trabalheira genial”.



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