“Mulheres Afegãs – Histórias Por Detrás da Burka”
Este País não é para mulheres
Há livros que são como um murro no estômago. “Mulheres Afegãs – Histórias Por Detrás Da Burka”, pequenos relatos de vidas que habitam a escuridão, é um deles.
O livro surgiu pela pena de Zarghuna Kargar, jornalista afegã refugiada em Londres, e apresenta treze histórias de mulheres afegãs – uma delas a da própria Zarghuna – contadas ao programa radiofónico “Afghan Woman`s Hour”, que esteve no ar na BBC até Janeiro de 2010. O programa tinha um objectivo bem definido: “informar, entreter e enaltecer as mulheres afegãs através do poder da rádio”.
Numa pequena introdução, Zarghuna resume sobre a forma como a situação política, social e cultural no Afeganistão tem evoluído, desde o governo de coligação apoiado pela União Soviética que vigorava no final dos anos setenta, o abandono das forças de ocupação soviéticas em 1989 – seguida da tomada de poder pelos mujahedin – a subida ao poder dos talibãs em 1996 e a queda destes em 2001.
As histórias são comoventes e revelam grandes doses de desespero, mostrando a forma desigual e tortuosa como são tratadas as mulheres no Afeganistão, um País patriarcal onde pouco espaço existe para a feminilidade.
São treze vidas que mostram o que é viver numa sociedade fechada e extremamente complexa, num dos Países mais pobres e perigosos do planeta: a tendência de os pais darem mais valor aos filhos que às filhas; o mundo dos tapetes afegãos, onde as raparigas desempenham um papel de escravas ou máquinas humanas de tecer; a dificuldade de uma mulher viúva prosseguir com a sua vida, perdendo o direito de falar livremente, vestir-se que não de preto, pentear-se ou cuidar da aparência…
Será possível que um dia a cultura afegã e a forma de olhar a mulher se transforme para melhor? Apesar de alguns progressos – “há mais de sessenta mulheres deputadas e muitas mulheres em cargos de poder, no governo local, no sistema judicial e na Comunicação Social…”, tal transformação parece não ser mais do que uma utopia. Zarghuna Kargar deixou o País de origem mas, mesmo numa cidade tão plural quanto Londres, continuou a sentir o peso da cultura afegã sob as mulheres. Onde quer que uma mulher afegã viva, a sociedade afegã e a sua cultura tratá-la-ão sempre da mesma maneira.
Retirado de “Mulheres Afegãs – Histórias Por Detrás Da Burka”
“Aproximadamente 57 por cento das jovens afegãs casam-se antes dos dezasseis anos (segundo o Ministério para os Assuntos Femininos do Afeganistão e várias organizações não governamentais).
O tráfico de droga afegão gera milhares de milhões de dólares por ano e o País produz anualmente cerca de 90 por cento do ópio mundial.
A produção de ópio contribui actualmente com cerca de 4 por cento para o PIB anual do Afeganistão.
As Nações Unidas calculam que aproximadamente 48 por cento das mulheres afegãs são analfabetas.
No Afeganistão, é proibido as mulheres falarem da sua herança.
Segundo um relatório da ONU, um terço da população afegã vive abaixo do limiar da pobreza.”
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