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Murdering Tripping Blues

Henry Leone Johnson e Mallory Left Eye levam-nos numa viagem pelo universo da banda.

São de Lisboa, mas agora pretendem levar a sua música além-fronteiras. Os Murdering Tripping Blues estão prestes a relançar o seu segundo álbum com o título “Share The Fire”, e com ele lançam também o segundo single – «Broken Lovers». Para melhor compreender o universo da banda, a Rua de Baixo esteve à conversa com dois dos seus membros – Henry Leone Johnson (vozes e guitarra) e Mallory Left Eye (vozes e piano).

Como surgiram os Murdering Tripping Blues?

Henry Leone Johnson – Creio que foi por volta de 2003. Eu tinha uma banda anteriormente, que depois acabou. Comecei então a gravar músicas em casa, com um amigo meu, e daí surgiu uma pequena maqueta, mas que ficou apenas para consumo próprio.

Entretanto as nossas vidas foram-se desenvolvendo, eu fui para o estrangeiro, e ao fim de um ano, quando regressei, decidi voltar a pegar nessa maqueta e levar este projecto para a frente. Nessa altura coloquei um anúncio naqueles sites de músicos à procura de um baterista e o primeiro a responder-me foi o Johnny Dynamite. Encontramo-nos, mas ia com a ideia de que seria um puto qualquer que quer impressionar as miúdas, mas não, era o Johnny – um profissional. Marcámos um ensaio só para tocarmos juntos, para ver como é que cada um funcionava e correu tudo bem, ficámos entusiasmados. Depois começámos a ensaiar as músicas dessa maqueta, mas na altura assumimos um formato duo e por isso começámos a transformar as músicas para esse formato. Em 2007 lançámos um vinil – o EP – pela Groovie Records e pela Raging Planets e a partir daí começámos a apresentar a banda, a tocar ao vivo.

A Mallory Left Eye também surgiu nessa altura porque o primeiro concerto que demos foi num teatro e, já que estávamos nesse espaço, queríamos utilizá-lo da melhor forma, e por isso convidámo-la para fazer projecções. Como gostámos e o concerto correu bem, sempre que era preciso fazer projecções, convidávamo-la. Entretanto convidámo-la para fazer parte integrante da banda, mas na altura queríamos também integrar um teclado para acrescentar mais textura à música e perguntámos-lhe se ela queria tocar. Como a resposta foi positiva, começámos a tocar nesse formato trio.

Entretanto também já tínhamos muitas músicas para gravar um CD e gravámos esse álbum em 2008 – “Knocking At The Backdoor Music”. A partir daí fomos tocar a Espanha e quando regressámos fizemos as remisturas das músicas e lançámos o CD que teve óptimas críticas e que correu bastante bem, o que nos permitiu tocar ainda mais cá em Portugal. E a génese surgiu assim… normalmente as bandas quando começam, os membros já se conhecem há bastante tempo, ou são amigos. Neste caso foi um pouco diferente, mas funcionou também para nós e, desde o primeiro ensaio, vimos logo que havia alguma química e fomos evoluindo a partir daí. Actualmente tocamos os três, já bastante entrosados uns com os outros e isso levou também ao segundo disco.

E porquê a escolha deste nome para a banda?

HLJ – O nome surgiu também por volta de 2005. Na altura eu e o Nuno, com quem estava a trabalhar as músicas para o EP, estávamos à procura de nomes e em conversa com amigos fomos dizendo vários nomes, alguns mais estúpidos, outros menos. Depois pensámos que seria bom que o nome explicasse logo o que é a banda, ou seja, que estilo de música é que tocamos. Com isso surgiram vários nomes até este. Já não sei bem quem foi o originador disso, mas creio que fui eu. E pronto, é um nome que faz sentido, tem a ver com a música. No início estranhámos por ser um nome um pouco comprido e pensámos que o pessoal se calhar ia fazer confusão com o nome”, mas também pensámos “o que é que isso interessa”, o nome é porreiro. Depois nasceu o imaginário à volta da banda.

A escolha dos vossos nomes em Inglês serve para justificar o nome da banda?

HLJ
– Sim, a escolha dos nomes veio por consequência do nome da banda. Mas o nome da banda transmitia vários imaginários, por exemplo, o Murdering parte da vertente literária de Henry Miller, não que ele escreva sobre assassinos ou romances criminais, mas sim por ser muito carnal e impulsivo. Tripping veio do Sergio Leone que fazia westerns spaguetti e que tinha um método de filmar os filmes muito hipnótico, a meu ver, e muito imagético, e o Blues, não só pela parte musical que é uma influência bastante grande, mas também com o imaginário comum, se bem que nós transportamos isso para a nossa realidade e actualidade. O nome dos membros veio um bocado por aí em que pensámos “ok, também era engraçado termos vários nomes que pegassem também nessa linha”.

Uma espécie de alter-ego?

HLJ – Sim e que as personagens, digamos assim, apesar de serem honestas porque elas são nós próprios – não são uma invenção qualquer – fossem mais exageradas nas emoções.

Gravaram um EP chamado “Blah Blah Bang” em 2007 e no ano seguinte sai para o mercado o vosso primeiro álbum, “Knocking At The Backdoor Music”. Quais foram as reacções a esse álbum?

HLJ – Quisemos lançar o EP em formato vinil por fetiche próprio, mas também porque fazia sentido com o imaginário da banda e era um bom cartão-de-visita.

[O EP] é também o resultado desse início bastante cru e tem essa energia implícita da excitação do começo de alguma coisa boa. Como disse, serviu-nos de cartão-de-visita e deu-nos a conhecer várias pessoas dentro daquele meio com que inevitavelmente estamos mais próximos, que acaba por ser um meio mais underground digamos assim, e assim suscitamos alguma curiosidade para um próximo trabalho. Esse trabalho surgiu, o “Knocking At The Backdoor Music”, e aí já aparecia o teclado mas ainda não fazia parte da composição dos temas porque já os tocávamos há algum tempo e o disco foi um bocado como “ok, tivemos a apresentação, agora vamos marcar um pouco a posição da banda” e isto serviu para isso e serviu bem. As pessoas foram percebendo melhor o que era a banda e fomos angariando cada vez mais experiência e público que nos segue.

Como foi a experiência de gravar as vossas músicas no concerto “3 Pistas” por convite do Henrique Amaro (Antena 3)? Porque às vezes é um processo mais complexo…

MLE – Foi menos complexo até porque foi reduzir ao máximo as coisas para caberem em 3 pistas, não foi muito diferente… A grande diferença foi pegarmos numa outra música que não era a nossa e aí sim reduzi-la ao mínimo. Mas ao fazê-lo acabamos por aprender também um pouco mais sobre a construção de cada música e quando pegas numa canção de uma pessoa, mais interessante se torna saber como é que aquilo começou a construir ou a desconstruir a canção.

Quanto à experiência com o Henrique Amaro, é claro que é uma pessoa que eu respeito desde muito nova, porque cresci a ouvir rádio e ter sido convidada por ele para mim é excelente. A oportunidade que nos tem dado para mostrar o nosso trabalho tem sido excelente, seja pelo os “3 Pistas”, seja pelas músicas tal e qual como elas foram construídas. Mas foi bastante interessante fazer as músicas de uma maneira diferente.

HLJ – Serviu também um bocado como teste porque já estávamos a trabalhar em músicas para o «Share The Fire» e então pudemos explorar coisas novas no 3 Pistas, ou seja, ter abordagens que se calhar à partida o público que nos conhece não estava à espera, mas quisemos experimentar um bocado e até utilizámos alguns loops e alguns sons menos comuns e foi importante para a banda fazer essa experiência para aquilo que viria a ser depois o segundo álbum. O processo foi interessante porque queríamos realmente assumir isso como experiência [de desconstrução] porque chegarmos lá e montar três microfones mais afastados para gravar a sala e tocarmos da mesma maneira não era interessante para nós. Quisemos mesmo assumir esse desafio, não queríamos fazer desvios fáceis.

No ano passado (2010) lançam «Share The Fire» que agora terá uma nova reedição para ser lançado nos mercados internacionais. Como esperam ser recebidos?

MLE – Muito bem e de braços abertos (risos).

HLJ – Nós já tivemos uma pequena experiência em Espanha em que fomos bastante bem recebidos. Fomos lá tocar a um festival e demos alguns concertos, mas agora esperamos o lançamento do disco na Escandinávia, Benelux e outros países próximos. Esperamos ser bem recebidos e é um mercado que acho interessante para nós, pela sua história de rock mais alternativo. Acho que é um ambiente bastante positivo para nós e vai-nos permitir crescer e internacionalizar a banda.

Porque é que decidiram “isolar-se do mundo” para compor e gravar as músicas deste álbum? E como foi a experiência de trabalhar com o produtor Boz Boorer?

HJL – A composição do álbum já estava concluída, ou melhor, já tínhamos as músicas feitas. Mas para já decidimos gravar com um produtor estrangeiro porque queríamos ter uma abordagem um pouco diferente. Existem produtores em Portugal muitos bons, mas queríamos trabalhar com alguém que tivesse já uma grande experiência.

MLE – Sim, experiência com tipos de música diferentes e com artistas que nós respeitássemos e que estivesse também ao nosso alcance…

HJL – Alguém que não estivesse influenciado pelo mercado ou pela música portuguesa, que não tivesse alguns vícios que alguns produtores têm, mas mesmo a nível musical e de produção achámos que seria a escolha acertada para trabalhar connosco. Contactámo-lo, ele gostou da banda e marcámos as coisas para gravar com ele. O que acontece é que ele tem o estúdio no Algarve, que está no meio da Serra e isolado de tudo, o que até foi bom.

MLE – Para gravar em sete dias acaba por ser essencial, porque se houvessem outras distracções não conseguiríamos fazer o trabalho.

HJL – Também queríamos afastar-nos um bocado da cidade e dos amigos… queríamos estar focados no disco e, como pretendíamos gravar e misturar em sete dias, não era possível de outra maneira. Mas foi um processo bastante interessante porque ele tinha ouvido previamente as músicas, e basicamente chegámos lá e gravámos tudo ao vivo e todos ao mesmo tempo a tocar. Posteriormente foram gravadas vozes e instrumentos de percussão, entre outros, mas o processo foi todo muito rápido o que também foi interessante apesar de, às vezes, ser um pouco angustiante porque inevitavelmente olhava para o relógio e pensava que só faltavam três dias e ainda não tínhamos começado a misturar. Mas acho que este processo também ajudou um bocado ao disco e tornou as músicas mais instintivas e mais à flor da pele. Quando estávamos a gravar os temas, por parte do Boz também havia um misto de surpresa e excitação porque não somos um tipo de banda que ele esteja habituado a gravar.

Quando o álbum foi lançado, o single foi «Come Into My Waters». Agora em Maio foi lançado o single «Broken Lovers» que tem passado nalgumas rádios e que pretende ser um refresh do álbum. Porquê a escolha deste tema e quais as expectativas que têm em relação ao mesmo?

HJL
– «Broken Lovers» é o segundo single do disco. O primeiro, escolhemos porque achámos que era a música que ainda estava no limbo entre o álbum anterior e o novo. Já era a nosso ver bastante diferente do que tínhamos feito anteriormente, mas não era violentamente diferente e era um dos temas mais radiofónicos, e também o mais imediato. Agora decidimos lançar este segundo single para reavivar um pouco a memória e também para a promoção internacional. É um tema que mostra um pouco da outra vertente da banda, apesar de não ser assim tão distante. Achamos que funciona bem como single porque no fundo este disco não é tanto de canções como o anterior.

Li numa notícia que Paulo Furtado vos considera uma das bandas mais interessantes da música portuguesa da actualidade. Isto deve-se ao facto de a vossa sonoridade pertencer a um circuito menos mainstream?

MLE – Sim, isso foi através do MySpace, onde foi editor por um dia, e falou de nós e de outras bandas. Estivemos com ele quando estávamos a gravar e agradecemos. Não chegamos a perguntar o porquê da escolha (…)

HJL – (…) Terá escolhido a banda… porque assim o decidiu e achou que tínhamos qualidade e mérito e ficámos muito contentes por essa escolha. Claro que o som que nós praticamos, muitas das influências que temos também à partida serão influências suas… Acho que fez uma boa escolha (risos).

Para terminar, como é que se definem enquanto banda e o vosso estilo?

MLE – Uma grande confusão.

HJL – Aqui podia reportar um pouco à história de como surgiu o nome da banda (risos).

MLE – As coisas entretanto já se transformaram. As músicas em que estamos a trabalhar estão a ser outra vez um bocado diferentes. É sempre um bocado geral de mais dizer que é rock porque o rock abrange muitas coisas e existem cada vez mais sub-estilos…

Anota na tua agenda: os Murdering Tripping Blues vão estar em Esposende, no dia 2 e Julho, e no Festival Souto Rock Barcelos a dia 9 de Julho.



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