Music Mob

Entrevista com Vahagn Voskerchyan, responsável pela editora.

A Music Mob é uma editora discográfica com uma história ainda recente mas da qual já fazem parte nomes como Balla, projecto de Armando Teixeira, Tora Tora Big Band  e a mais recente aquisição, Telepathique, dupla brasileira de electro/breakbeat que lança este mês “Last Time on Earth” o seu primeiro disco.

Depois de a RDB ter destacado na edição de Maio os Tora Tora Big Band, fomos ao encontro da sua editora, Music Mob, num jardim recatado junto à sua sede, situada por trás da Casa dos Bicos em Lisboa. A visita guiada ao espólio da máfia foi feita por Vahagn Voskerchyan, o cérebro por detrás do engenho.

Vahagn, fala-nos um pouco sobre o início da Music Mob

Bem, desde 2000 que eu tinha um estúdio de gravação comercial e trabalhava para todas as editoras, desde Universal, EMI, Sony, etc., passando pelas independentes e também produtores, músicos… basicamente tudo.

Houve uma altura em que o Armando Teixeira (Balla) foi lá ao estúdio para masterizar o álbum dos Bizarra Locomotiva. Depois disso fizemos mais umas gravações e, através desse contacto, e à medida que iamos ficando mais próximos, ele mostrava-me as coisas que ia fazendo. Já em 2003 ele apareceu lá com uns temas dos Balla… e quando ouvi esses temas achei aquilo absolutamente genial. Houve uma canção especial que me fez logo lembrar Serge Gainsbourg  pois achei que era do estilo “neo chanson”, coisa que nem sequer é hábito fazer em Portugal. Disse-lhe logo que queria editar aquilo!

Lá convenci o Armando a editar o disco comigo e a coisa nem correu lá muito mal, até correu razoavelmente bem. Na altura, quem nos distribuia era a Ananana, e por essa altura o Armando já era um nome bastante falado, as Fnac’s deram um tratamento muito bom ao disco e foi capa de várias revistas e suplementos. Obteve também atenção especial do Blitz, para não falar de quase todas as rádios que passavam as músicas dele. Foi genial.

E o pessoal da Ananana teve muito mérito pois trabalharam muito bem o disco.

Como é que a Music Mob aparece depois de estares envolvido directamente com os Balla?

Na expectativa de continuar a lançar discos e continuar esse primeiro trabalho, as coisas começaram a ficar complicadas, os meios financeiros escassearam e o negócio já não corria tão bem, o que levou ao encerramento do estúdio em 2004.

Estive temporariamente parado, sem sequer pensar na editora nem em lançar discos.
Depois desse álbum não lancei mais nada, mas nunca deixei de ouvir, de estar atento e de pensar se isto ou aquilo valeria a pena editar mais tarde.

No fim do ano passado, o José Balbino numa conversa amigável perguntou-me se estaria disposto a dar continuação ao projecto Music Mob e foi assim que renasceu.

O vosso catálogo tem até agora 3 edições totalmente distintas. A tua filosofia passa por ter um catálogo variado ou existe mesmo um fio condutor na escolha dos artistas que assinas?

Eu nunca gostei de seguir uma linha editorial pra construir um catálogo. Acho que a própria música, a própria arte chamada música, pede variedade e a minha ideia nunca foi estar a “encher chouriços”. É sempre difícil saber o que havemos de escolher para um catálogo, há sempre uma fronteira ligeira dentro do qual tem que caber aquilo que eu edito.

Telepathique, Balla, Tora Tora Big Band ou qualquer outro que venha a ser editado pela Music Mob, tem que ser claramente de uma qualidade musical acimo do aceitável, tem que ser um produto bom, independentemente de serem comerciais ou não. O groove tem de estar presente.

E com as condições que o mercado oferece, tens algum feedback dos vossos lançamentos?

O disco “Le Jeu” dos Balla correu bem. Financeiramente recuperei o investimento que tínhamos feito e a Music Mob passou a ser uma editora conhecida no mercado.

Quanto às edições deste ano, ainda é um pouco prematuro falar sobre isso. Mas estou muito satisfeito em relação a qualquer um dos projectos.

A Music Mob, e é importante referir isto, desde o seu primeio dia nunca editou discos para Portugal e esta filosofia continuará para sempre.

Os discos são editados em Portugal e lançados em Portugal porque é o sítio onde vivemos, onde trabalhamos, onde temos a maior rede de contactos e onde as coisas mais facilmente acontecem, mas nunca são direccionados para Portugal, são sempre discos que espero um dia vender e distribuir lá fora.

Os Tora Tora Big Band, Balla e Telepathique são projectos bastante internacionais, são um exemplo claro disso

Sim. No caso dos Tora Tora Big Band já estamos na fase final de negociação para licenciar o disco para a Europa.

Com o disco do Armando Teixeira ainda fiz algum esforço numa ida a Paris na tentativa de apresentá-lo a algumas editoras alternativas, também ligadas à música electrónica, mais independentes, mas nunca consegui nada, se bem que com o formato das canções do disco, tinha que ser direccionado para todo o lado menos França. Mais facilmente se venderia no Japão do que em França. E ao longo destes três anos [desde que o álbum foi editado], eu nunca desisti de pegar no disco e apresentá-lo lá fora.

A Music Mob está bastante activa no que se refere a outras iniciativas. Dela fazem parte o colectivo Music Mob DJ’s e existem planos para a edição de algumas colectâneas. Que iniciativas são essas?

Isso foi sempre uma ideia para a editora. Há já quatro ou cinco anos que trabalho como dj, em paralelo, e nunca deixei de ver a possibilidade de ter mais uma componente na Music Mob.

Mas tenho em mente alguns nomes que, espero, façam parte do colectivo e vamos também trabalhar na contratação de dj’s estrangeiros para trazê-los a Portugal e fazer noites a meias, sendo uma produção nossa. E já temos alguns nomes em lista de espera.
A Music Mob fez também uma proposta ao Manuel Calapez e ao bar lisboeta Lounge, no sentido de dar mais seriedade a um evento que acontece no Lounge todas as primeiras quarta-feira de cada mês, que consiste na apresentação e execução pública de trabalhos de novos artistas que vão chegando às nossas mãos, muitos deles acabados de fazer. É uma iniciativa que está mais virada para a electrónica e nós queremos juntar alguns desses novos artistas e fazer uma colectânea, sem grandes ambições de mercado, quase um serviço público para mostrar o trabalho desses artistas.

Neste momento temos um plano bastante aliciante que é uma colectânea de breakbeat, com nomes do panorama musical brasileiro, incluindo Dj Periférico (Telepathique) entre outros. Um trabalho transatlântico, em que as coisas vão ser feitas daqui para o Brasil, mas ainda nada delineado.

O que pensas sobre a Internet e os novos movimentos musicais que nela surgem?

Isso é uma iniciativa que as próprias bandas têm que ter.

Sou anti-pirataria, mas concordo plenamente com a partilha de ficheiros quando autorizada pelo artista. Ainda há dias fui ao Myspace de uma banda e a quantidade de ficheiros que estão ao nosso alcance é impressionante.

Pessoalmente eu encorajo todos os artistas a terem o seu site, o seu espaço, pois mais facilmente chegas lá fora através deles, do que através de um esforço milionário que eu poderia fazer para distribuir a coisa lá fora.

O exemplo disso são os Arctic Monkeys. A Music Mob terá o seu site pronto no final do Verão.

A Music Mob faz a festa de lançamento do primeiro álbum dos brasileiros Telepathique “Last Time on Earth” no dia 9 de junho no Indústria (Porto) e dia 10 de Junho no Clube Mercado (Lisboa). Os Tora Tora Big Band apresentam-se no dia 15 de Junho na galeria Zé Dos Bois em Lisboa e dia 22 em Torres Vedras.



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