“NAKED”, de Mike Leigh
Não há como ficar imune.
Falemos de Mike Leigh. Se foi “Life is Sweet” que o lançou para as luzes da ribalta, foi através de “Naked” que indubitavelmente ficámos a conhecer a subtileza do seu cinema, sempre envolto em atmosferas que nunca nos fazem procurar (ou sentir falta) de coerência narrativa.
Tivemos a oportunidade de (re)assistir a esta obra-prima no Leffest, no âmbito da retrospetiva ao seu trabalho, e, apesar de não se tratar de um filme recente (1993), achámos que merecia a nossa atenção e respetivo destaque – ou não lho tivesse dado o próprio festival.
O filme gira em torno de Johnny (David Thewlis), um vagabundo que é também o personagem principal e que nos apela a tudo, menos à identificação. Do alto dos seus 27 anos, rapidamente percebemos que este terá já alcançado a maturidade que o permite compreender que também Deus tem direito a ter dias menos convidativos. Ele personaliza o que é o vazio e o fracasso, e a forma como é possível preencher esse espaço por uma tal de “supremacia intelectual” que não mais é do que uma arma que nos prende, desprende, e deixa nus. E é assim, despidos, que vamos assistindo ao desenrolar das horas na vida de Johny, um ser simultaneamente humano e fantástico, divino e maldito. O filme segue, assim, a trajetória deste anjo (ou demónio) errante, pelas ruas de Londres, onde somos importunados por cada uma das suas interpelações incomodativas.
Há a violada, a namorada, o guarda e a ultrajada. Já Johnny vira ora monstro, ora vítima, dependendo de quem se cruza no seu caminho.
Um filme que é um exame desta solidão vazia de todos nós e que por isso mesmo nos deixa assim, tão nus.
Em Naked, não há como ficar imune.
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