Não sou Santo
Yonamine, o artista que não é santo nem o quer ser
A campainha toca e a porta abre. A amplitude e a iluminação que invade o espaço de Cristina Guerra Contemporary Art faz-nos querer ficar tanto quanto possível. Logo à entrada, somos invadidos pela ideia de sobreposição e acumulação de sentidos que pretendem ser comunicados a quem observa as obras de Yonamine Miguel, na sua mais recente exposição: “NÃO SOU SANTO”.
De origem angolana, Yonamine viveu em Angola, Zaire, Brasil e Reino Unido. Dividindo atualmente a sua vida entre Lisboa, Luanda e Berlim, fazendo da arte contemporânea africana o seu campo de expressão e batalha individual.
Num processo de desconstrução e fragmentação aleatória, reunindo várias técnicas artísticas ao mesmo tempo (colagem, graffiti, impressão serigráfica, recortes, pintura, desenho, entre outros), Yonamine critica os parâmetros políticos, económicos e socioculturais sob os quais Angola e o mundo em geral se regem. A ideia do capitalismo, da corrupção e da opressão comunicativa estão patentes em cada detalhe e simbolismo das suas peças.
“NÃO SOU SANTO” funciona como jogo de sentidos, conduzindo-nos primeiramente até uma vasta parede forrada com tostas (como se de azulejos se tratassem), onde o rosto de José Eduardo dos Santos e elementos numéricos como o 0, 1 e o 8 surgem numa repetição provocatória. Zero, como a tradução do vazio e da ausência; Um, a referência ao estatuto governamental do Presidente; Oito, o valor associado ao poder e ao totalitarismo. Na continuidade de todo o espaço surgem telas forradas a serapilheira que se expressam através de uma semiótica urbana, num estilo quase marginal e underground, em apontamentos visuais que nos levam até a memórias de referências artísticas como Jean-Michel Basquiat. No piso inferior da galeria surge uma projeção videográfica, “M de M2”, apresentada pela primeira vez em território nacional. É uma composição de palavras cumulativas e associativas entre si, como um poema visual onde o M é a letra de ordem.
Yonamine não tem medo de se aventurar e de levar ao limite os seus próprios ideais. Fomentar a perspetiva de auto-destruição daquilo que cria e fazer chegar ao público essa realidade e impacto são fundamentais para a própria anulação do entorpecimento intelectual e reativo das sociedades de hoje.
Exposição patente até 9 de Março de 2016
Morada: Rua Santo António à Estrela, 33 (Lisboa).
Terça-feira a sexta-feira das 12h às 20h
Sábado das 15h às 20h
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