“Nas bocas do mundo” | Joaquim Vieira e Reto Monico

A última revolução europeia

Durante nove meses, entre o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975, Portugal ocupou primeiras páginas de jornais, capas de revistas e aberturas de noticiários radiofónicos e televisivos um pouco por todo o planeta, naquela que então foi considerada a última revolução europeia.

Entre o entusiasmo e a condenação, o mundo assistia ao desenrolar do PREC – Processo Revolucionário em Curso -dedicando-lhe milhares de manchetes, reportagens, análises, editoriais fotografias e imensos cartoons. Ao contrário do simples registo da queda de uma ditadura europeia, o acontecimento permaneceu em destaque na imprensa internacional ao longo de mais de ano e meio, num processo de evolução política cujo desenlace ninguém conseguia prever.

Vivia-se um confronto intenso entre a direita e a esquerda, mas também se começava a clarificar o próprio conceito de esquerda, entre aqueles que queriam uma revolução profunda – e violenta, caso fosse necessário – e os que preeriam um processo de libertação através de uma via alternativa.

A cobertura pela imprensa internacional foi acompanhada como o enredo de uma telenovela de qualidade, onde heróis e vilões, nem sempre com o mesmo papel, suscitavam relações de empatia ou rejeição, imputando-se ao Estado Novo as responsabilidades pelos 48 anos de ditadura que haviam conduzido a tamanha convulsão política e social.

Através da consulta de publicações de vinte diferentes países, Joaquim Vieira e Reto Monico escreveram “Nas bocas do mundo” (Tinta da China, 2014), livro que apresenta, em cerca de quatrocentas imagens, as diferentes perspectivas com que a última revolução europeia foi olhada pela imprensa internacional, juntando à componente visual artigos de opinião, comentários e análises de várias tendências. Um documento fantástico que nos permite um outro olhar sobre nós mesmos, enquanto país e democracia em formação.