Nepal, a vida criativa
A vida reinventa-se nas pequenas coisas
25 de Abril de 2015. Carlos Brum Melo e Ana Catarina Silva acordaram com a notícia de um terramoto de 7.8 na escala de Richter, em Gurkha, no Nepal. Apesar da tristeza, sentiram-se aliviados – tinham sido poupados da enorme catástrofe que ocorrera dias antes da previsão da sua chegada ao país. 12 de Maio de 2015: segundo terramoto, de 7.3 na escala de Richter, desta vez na cidade de Dolakha. Intensificou-se o desassossego, o sofrimento e a profunda vontade de ajudar. Partiram rumo ao Nepal com o intuito de conhecer e ajudar o povo asiático e decidiram aprofundar a sua intervenção: criaram a campanha Açores pelo Nepal, da qual faz parte uma exposição fotográfica com alguns dos momentos que marcaram a sua experiência de viagem junto do povo nepalês, neste contexto de catástrofe. Nepal, a vida criativa fica no Instituto Camões até 18 de Março e os fundos que dela somarem revertem para a intervenção da AMI (Assistência Médica Internacional) no país. Um pequeno passo que esperam contar muito para a mudança global.
Que contam as fotografias da vossa exposição?
Contam histórias de pessoas simples, humildes e autênticas que superam de forma corajosa os efeitos dos terramotos devastadores de 25 de abril e de 12 de maio de 2015 no Nepal. Desse conjunto de fotografias e narrativas sente-se a reinvenção do conceito de criatividade, que mais do que engenho, é a capacidade de encontrar soluções aliada à vontade de mudar o mundo.
Onde vive a criatividade, no Nepal?
A criatividade vive em todas aquelas pessoas que, após as catástrofes, reinventaram prioridades, projetos e sonhos, com mais ou menos perda, com mais ou menos ajuda, com mais ou menos sucesso.
A criatividade é movida pela esperança? É um exemplo para todos nós?
Completamente! A esperança é que o que nos permite traçar rotas para o sucesso, encontrar caminhos para a realização das nossas metas, seja na superação de desafios, seja na conquista de resultados desejados. E é nesse movimento de busca por soluções e alternativas que surge a criatividade, uma força vital que envolve risco, dedicação, sacrifício e trabalho. O Nepal é, sem dúvida, um exemplo de esperança e criatividade que nos convidou a uma viagem de amadurecimento e autoconhecimento.
O que se traz de uma viagem como esta?
A certeza de que independente dos nossos desejos ou sonhos, das nossas angústias ou sofrimento, há sempre uma possibilidade de superação. Uma vida criativa leva-nos à totalidade e à visão ampliada das nossas potencialidades, permitindo-nos ser quem realmente somos, livres de expectativas! Além disso, esta viagem fez-nos refletir sobre a felicidade, que mais do que uma busca individual de fontes de plenitude, é sobretudo um bem comum, coletivo e partilhado. Desde os adultos às crianças, escutamos histórias de reaproximação da comunidade, desde vizinhas ou amigos que estariam zangados até famílias que não se falavam, e que depois das catástrofes se reconciliaram e se uniriam… São, sem dúvida, as relações positivas que nos permitem ter vidas repletas de sentido, afinal somos porque intersomos!
Que história de vida vos marcou mais?
Todas as histórias nos marcaram à sua maneira, e sobretudo mostraram-nos que no Nepal se haviam sumido as memórias de uma manhã, de uma tarde ou de uma noite. Existia agora um novo tempo, antes e depois do terramoto… Mas, sem dúvida, que acabamos por recordar sempre com especial afeto os diálogos que tínhamos com as crianças. Estes caçadores de soluções explicavam-nos que aqueles sismos aconteceram por causa de monstros gigantes de dentes afiados que batiam furiosos com os pés debaixo da terra. E se os mais velhos os corrigiam falando de placas tectónicas, que de vez em quando chocavam ou mexiam, os mais novos não perdiam tempo e questionavam o motivo pelo qual não colavam essas placas, pois se estivessem coladas deixaria de haver sismos!
Em que consiste a campanha Açores pelo Nepal?
A campanha de angariação de fundos «Açores pelo Nepal» tem como objetivo apoiar as vítimas dos terramotos de 25 de abril e de 12 de maio no Nepal. Para tal desenvolveram-se diversas iniciativas, das quais todas as receitas reverteram para a missão da AMI – Assistência Médica Internacional naquele país. Com efeito, os Açores e o Nepal partilham de idênticas fragilidades ao nível sísmico, pelo que esta campanha visou igualmente sensibilizar para os cuidados a ter durante estes fenómenos, recordando boas práticas de segurança e refletindo quanto a respostas necessárias. Em agosto e setembro de 2015 percorremos as zonas afetadas, e procedemos a uma recolha documental das mesmas nos distritos do Vale de Kathmandu e Dolakha. Desse trabalho resultou uma exposição fotográfica acompanhada de textos, intitulada «Nepal, a vida criativa», que inaugurou a 22 de fevereiro do ano corrente, no Instituto Camões, em Lisboa e, posteriormente, seguirá para Aveiro e Ponta Delgada.
De que forma pretendem contribuir com esta exposição?
Com esta exposição através da fotografia, falada e sentida, pretendemos apoiar o povo nepalês, mediante donativos diretos para a AMI ou pela aquisição de fotografias e/ou livro deste trabalho documental. Além disso, procuramos incentivar mais pessoas a querer intervir de forma local, resgatando assim a esperança do poder dos pequenos atos numa mudança global.
Quem são o Carlos Brum Melo e a Ana Catarina Silva?
O Carlos Brum Melo é licenciado em Direito e mestre em Relações Internacionais. Desempenha funções na Secção Regional dos Açores do Tribunal de Contas e lançou um livro sobre «Despedimentos coletivos na União Europeia». Guarda a chave da sua expressão na fotografia documental, humanista e de viagem, onde busca contribuir para mudanças globais com pequenos gestos locais, através de mensagens que advogam a defesa dos direitos humanos. E é neste caminho que se sente verdadeiramente livre, ou não fosse um orgulhoso açoriano, que desde cedo aprendeu que «antes morrer livres do que em paz sujeitos». Além dos seus trabalhos documentais, leva a cabo o «instant moments project // photography worth spreading», de partilha de fotografias instantâneas em viagem, e colabora com Ana Catarina Silva no «Viajário ilustrado».
Links:
www.carlosbrummelo.com
www.facebook.com/brumphotos
https://pt.linkedin.com/in/carlosbrummelo
A Ana Catarina Silva escolheu a Psicologia por considerar que é na vida diária que surgem as melhores histórias e, por sua vez, os verdadeiros desafios. Acredita ainda que as conversas transformadoras são uma forma privilegiada de recuperar possíveis sentidos de vida, devolvendo a esperança no indivíduo, mas também na comunidade. Com formação na área clínica, conta já com alguns anos de experiência na área social/comunitária. Atualmente a desempenhar funções na Equipa Multidisciplinar de Assessoria aos Tribunais (EMAT), é também formadora em comunicação e gestão de equipas. Em criança devorava histórias e sonhava ter uma vida cheia delas. Inspirada nesta ideia criou o «Viajário ilustrado», em colaboração com Carlos Brum Melo. Um projeto no qual as imagens flanam por entre histórias reais e imaginárias!
Links:
https://viajarioilustrado.wordpress.com
www.facebook.com/viajarioilustrado
https://pt.linkedin.com/in/anacatsilva
Instituto Camões
Av. da Liberdade, nº 270
Segunda a Sexta | 9h30-13h30; 14h30-18h30
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