Nina Nastasia @ Culturgest (01.03.2023)
“Riderless Horse” é um álbum especial. Primeiro porque marca o final de uma longa ausência de Nina Nastasia no que a edições diz respeito, doze anos volvidos sobre o seu último álbum de estúdio. Para além disso marca uma nova fase na vida da cantora norte-americana, a reerguer-se após os traumáticos incidentes que marcaram a sua vida no início de 2020, quando deixou o seu companheiro, manager e parceiro criativo desde há 25 anos, para fugir a uma relação tóxica e abusiva, que não só a afastou da música como da própria família. Nina deixou-o, e Kennan Gudjonsson suicidou-se no dia seguinte, no estúdio que ambos partilhados. Talvez o mais incrível em “Riderless Horse” seja mesmo a forma como Nina Nastasia lida com a situação; o amor por Gudjonsson também se sente nas palavras que canta, porque nem todos os momentos foram maus, mas há dor, perda e tristeza.
São 21h e a sala está longe de estar cheia e a média de idades é manifestamente elevada. Em palco está apenas uma cadeira e uma viola que aguarda por Nina Nastasia. A norte-americana é recebida calorosamente e logo se joga às suas canções folk cruas, despidas e com uma carga emocional intensa, mas bela. Em «This Is Love», Nina Nastasia canta “Drawing blood until we both see black / We’re depleted, but we stay on track / Holding hands through every violent blast”. É uma viagem repleta de altos e baixos (emocionais) aquela em que Nina Nastasia nos leva. É uma forma de catarse para si. Pelo meio há momentos de descompressão, como aquele em que lamenta “sinceramente” não saber falar português, ou quando questiona se o investimento imobiliário ainda garante cidadania, ficando “desiludida” com a resposta que recebe da plateia.
Em «I Go With Him» do álbum “The Blackened Air” canta “I serve him right / I go with him”, como que à procura de salvação. As canções vão-se sucedendo, uma após a outra, sempre curtas, mas sempre ardendo intensamente. É a duração exacta.
É o primeiro concerto da tour e está excitada. É um regresso aos discos e aos palcos, lugar onde se sente bem e capaz de exorcisar os seus demónios interiores e seguir em frente, sem que isso implique deixar de encarar o passado. Fá-lo e sem rodeios. É um momento de reconstrução pessoal e de reencontro com aquilo que a realiza e completa.
Reina a simplicidade em palco, quase sempre apenas com um foco de luz, apontado de cima para e baixo e, ocasionalmente, dos lados. Ao fundo, numa tela, vão surgindo várias cores, porque estas canções não monocromáticas.
Nastasia está a criar um tour diary, com recurso ao seu Instagram, pelo que há tempo para experimentar tirar e colocar uma foto do concerto em tempo real, enquanto vai descrevendo ao público as suas ações antes de se atirar a «Just Stay in Bed» e nos puxar o tapete, “I like it here in bed, alone when I’m feeling dead”.
A folk de matriz americana está vincada em todos os momentos e em «What’s Out There», canção de “Outlaster”, editado em 2010, há uma ansiedade quase palpável, quase no limiar do angustiante. “If I could go back in time / If I could be real mean / Would I ever think to leave”. O silêncio que se sente é quase comovente. Existe reverência. Arrepiante. Seguem-se «Jimmy’s Rose Tattoo» do álbum Dogs, «In The Evening» de “You Follow Me”, que Nina Nastasia editou com Jim white em 2007 e «Ocean» de “The Blackened Air”.
Segue-se uma breve saída do palco e o concerto prossegue para mais algumas canções, porque todos precisamos disto ali e agora. Em «All Your Life» há uma falsa partida com alguns acordes falhados, que não do que a prova de que somos falíveis e Nina Nastasia não é excepção. A parte boa é que isso nos deu direito a escutar mais umas canções recaíndo as escolhas em “Desert Fly” e “In the Graveyard”.
Obrigado e volte sempre. Definitivamente.
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