Nine Inch Nails @ Coliseu

Sobrevalorizados ou subvalorizados?

Ainda estamos no início do ano, mas 2007 parece estar já a querer ficar para a história no que diz respeito a actuações musicais no nosso país. A oferta é cada vez maior, tanto em quantidade como em qualidade, os festivais parecem florescer em cada esquina e os principais projectos internacionais demoram cada vez menos tempo a chegar ao nosso país.

Inaugurando estas festividades estiveram os norte-americanos Nine Inch Nails, que decidiram satisfazer os ensejos dos fãs nacionais ao encetarem a nova digressão europeia no nosso país. E logo com três datas consecutivas, como que a compensar os vários anos que demoraram a cá chegarem.

Essa opção por três datas comporta, obviamente, prós e contras. É que se por um lado Portugal é um país pequeno, que não tem uma procura suficiente para encher três coliseus consecutivos, por outro lado permite um maior ecletismo entre as três actuações, permitindo três alinhamento completamente diferentes, que chegaram mesmo a inserir algumas pérolas, como a estreia absoluta de “Last” ao vivo, na primeira noite.

A Rua de Baixo esteve presente apenas no segundo dia que, ao que consta pelas opiniões de quem esteve nos outros, foi mesmo o melhor dos três. Bem diz o povo que a virtude está no meio. Somos uns sacanas com sorte…

Os Nine Inch Nails são, na verdade, Trent Reznor e Trent Reznor é os Nine Inch Nails. Reznor é o compositor, o produtor e o músico por trás do projecto Nine Inch Nails e só quando o transporta para o palco é que se rodeia de outros músicos numa formação tradicional – bateria, guitarra, baixo e voz. Reznor é conhecido por ser extremamente metódico e perfeccionista e, por isso, costuma reunir para tocar consigo os melhores profissionais. Assim, para esta digressão Trent Reznor convocou o ex-baterista dos Vandals, Josh Freese; o ex-baixista de Marylin Manson, Twiggy Ramirez; e o guitarrista dos Icarus Line, Aaron North. Tivesse sido um mau concerto e já compensaria o facto de podermos ver em palco a actuação deste homem, um verdadeiro monstro na guitarra.

Os Nine Inch Nails destacaram-se no seio do rock internacional pela capacidade de fundirem a música industrial com uma estrutura orgânica, apoiada em melodias pop e numa capacidade letrista poética, tornando-a acessível às grandes massas. Esta faceta intrigante e romântica de Reznor deum-lhe desde logo um alcance iconográfico, como uma espécie de Jim Morrison gótico. Por isso, os Nine Inch Nails tanto despoletam grandes paixões como ódios incontroláveis – são um alvo fácil para atacar.

Serão então os Nine Inch Nails sobrevalorizados ou subvalorizados? Quem terá razão no meio desta disputa? A dose tripla de concertos em Lisboa era uma boa altura para dissipar dúvidas. E eu posso já adiantar a minha conclusão, bem antes de chegar ao final desta prosa. Os Nine Inch Nails nem são tão maus como alguns os pintam, nem tão bons como outros fazem querer parecer. São um projecto bastante interessante, que fica algures num meio termo.

A segunda noite dos Nine Inch Nails, num Coliseu longe de estar cheio, iniciou-se de uma forma pouco ortodoxa. Com as luzes acesas, a banda irrompeu em palco ao som de “Somewhat Damaged” apanhando muitos desprevenidos. Com uma fúria inesperada, a banda mergulhou rapidamente num negrume próximo de uns Bauhaus, marcando o passo pela cadência da maquinaria e pelos vários strobes em palco, que mantinham os músicos em contra-luz num interessante jogo de luzes.

Ao vivo, o universo sonoro dos Nine Inch Nails perde muita da sua faceta industrial e ganha uma pele muito mais orgânica, transformando-se mais numa espécie de rock/metal com sintetizadores. Em “Closer”, o primeiro momento alto da noite, Trent Reznor desceu do palco e mergulhou na multidão, que entoou a letra em uníssono, mostrando a outra faceta do grupo (a menos interessante), que quando é exagerada chega a roçar a pieguice e a cartilha do hardcore.

Sempre com a mesma entrega, os quatro músicos discorreram pelos quatro álbuns da banda, incluindo claro, o último registo de originais – “With Teeth”, com direito a interlúdio e tudo, foi outro dos momentos mais intensos. Logo de seguida, uma homenagem à banda favorita de Reznor, os Joy Division, com uma versão de “Dead Souls”.

Perto do final, surgiu o momento que todos aguardavam – “Hurt”, a canção que Johnny Cash se apoderou descaradamente, tomando-a como sua e levando-a a outro patamar. Mesmo assim, continua a ser o momento mais íntimo da carreira musical dos Nine Inch Nails e, nesta segunda noite, parecia ser o final ideal para o concerto. Puro engano, porque logo depois os strobes regressariam em força, com a poderosa “That Hand That Feeds”. E a catarse final de “Head Like A Hole” até fez com que todos se esquecessem do encore.

Foi assim a estreia dos Nine Inch Nails em solo português: intensa.



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