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Nitin Sawhney | Entrevista

"Compaixão por nós próprios e pelo Mundo ao teu redor. Compaixão pelas crianças e pelos que estão vulneráveis. É isso que me move. Acho importante começar pela compaixão por ti mesmo e sentirmos que estamos reconciliados com a pessoa que somos."

Nos próximos dias 4 e 5 de fevereiro os palcos do CBB em Lisboa e da Casa da Música recebem Nitin Sawhney para a apresentação do seu último álbum Identity. Ana Pracaschandra conversou com o artista e aqui revelamos o desenrolar desta partilha. Fiquem atentos, ainda estão a tempo de guardar os vossos lugares nesta viagem musical colaborativa: Identity. 

O que é Casa para ti?
Nitin: Eu penso que “casa” é constantemente uma ideia fluída porque no decurso das nossas vidas nós sentimo-nos diferentes sobre o que é que “casa” representa. Mas considero que “casa” é onde te sentes mais amado, onde te sentes mais positivo, quando sentes que estás num lugar seguro e gentil. Acredito que nós somos educados com a noção de “casa” como uma “localização geográfica” mas eu acho que é uma “localização mental”, é uma “localização psicológica”.

E como é que este conceito se relaciona com o teu último álbum “Identity”?
Nitin: O álbum “Identity” é ele mesmo uma ideia fluída. De facto no fim do álbum tenho um tema com Natty, em que eu escrevi a letra e intitula-se Fluid, e ancora esta ideia de que nós estamos sempre a mudar. Eu recordo-me da faixa «Bitter Sweet Symphony» dos The Verve e lembro-me da parte em que o vocalista diz: I’m a million different people From one day to the next. A nossa identidade não é realmente definida por nós próprios a não ser que esteja a interferir na vida de outrem. Portanto eu não vejo nenhuma razão para nós não podermos ser os mestres da nossa própria identidade.

“Casa” é onde te sentes mais amado, onde te sentes mais positivo, quando sentes que estás num lugar seguro e gentil.

Em 2021 editaste o álbum “Immigrants”. Achas que este álbum conversa com este último álbum “Identity” nesta Era tão quente que estamos a viver, com tanta transformação a nível global no planeta? Como achas que estes dois discos conversam entre si?
Nitin: Eu acho que o disco “Identity” é muito mais sobre convidar pessoas que eu respeito para terem uma plataforma de expressão das suas próprias identidades. Quase sempre as identidades dos imigrantes são julgadas pelo Governo, pelas pessoas que sentem preconceito ou medo e eu penso que é importante que tenhamos espaço para nos identificarmos a nós próprios como imigrantes também. Eu nasci no Reino Unido e os meus pais foram imigrantes neste país e eu sou orgulhoso da minha herança e do contexto que vivo, mas é importante sentir que tens liberdade para expressar a tua identidade e não seres julgado pelo teu contexto, herança ou outra coisa qualquer

Foi muito interessante teres tocado neste tema da herança. A própria tua experiência pessoal afecta a tua obra artística.  Olhando para trás, desde o teu primeiro disco Spirit Dance, se tivesses de escolher uma urgência criativa comum a todos os teus trabalhos, qual seria?
Nitin: Compaixão. Compaixão pelos outros. Compaixão por nós próprios e pelo Mundo ao teu redor. Compaixão pelas crianças e pelos que estão vulneráveis. É isso que me move. Acho importante começar pela compaixão por ti mesmo e sentirmos que estamos reconciliados com a pessoa que somos. É isso que eu pretendo dizer com Identity, porque com frequência muitas pessoas fizeram sentir-te mal sobre a pessoa que és, ou tentaram fazer-te sentir mal, fizeram-te sentir inferior de alguma maneira, ou que sentir tu não és a pessoa que eras suposta ser, ou querem mudar-te. A primeira coisa que me vem logo à cabeça é que nós devíamos ser orgulhosos das pessoas que somos, e se não o somos, precisamos de descobrir o que é que precisamos de mudar para sermos orgulhosos das pessoas que somos. Depois disso, precisamos de encontrar compaixão pelas outras pessoas, nas suas viagens, à descoberta de quem querem ser.

É importante sentir que tens liberdade para expressar a tua identidade e não seres julgado pelo teu contexto, herança ou outra coisa qualquer.

No disco Identity como começaram a borbulhar as ideias na tua mente, corpo e/ou dedos? Como surgiram os convites que realizaste a artistas como Natacha Atlas, Guy ou Joss Stone?
Nitin: Natacha Atlas, Guy ou Joss Stone são todos meus bons amigos por isso não é difícil, conheço-os a todos há bastante tempo e eles são sempre muito abertos e disponíveis quando os convido para uma colaboração; é maravilhoso ter pessoas que eu admiro e respeito tanto com tanta motivação para colaborar. Isso é incrível, mas neste disco eu acho que foi tudo sobre o tópico da Identidade, por isso, encontrei artistas como I Am Roze, que é um cantor brilhante, e tantos músicos que eu considero excepcionais a expressarem as suas próprias identidades. Por exemplo Ankita Joshi que é uma cantora incrível, que teve formação com um dos maiores cantores de sempre na India, e eu tive muita sorte de a conhecer, de trabalhar com ela, assim como músicos excepcionais que eu tive a oportunidade de conhecer durante a viagem que foi produzir este disco. Estou muito feliz e também satisfeito que tenho uma banda, ainda que com cinco elementos, mas exactamente pelos músicos que são, somos capazes de tocar algumas faixas do álbum. São músicos e cantores muito versáteis, por isso estou muito feliz em ir a Portugal actuar. Teremos oportunidade de tocar faixas do álbum Identity mas também outras de outros álbuns, que já tocamos ao longo dos anos em Portugal e noutros destinos. Eu adoro Portugal! Portugal é sempre um país incrível para mim e estou sempre entusiasmado para ir lá.As pessoas são tão simpáticas e eu sinto-me verdadeiramente compreendido quando vou a Portugal. Não sei porquê nem como, mas sinto uma conexão profunda com o povo de Portugal.

Voltando um pouco atrás, como foi o espaço criativo entre o lançamento de “Immigrants”  em 2021 e agora o disco Identity em 2023?
Nitin: Depois de produzir o disco “Immigrants” com a Sony Masterworks que foi uma boa experiência, em que me senti bastante apoiado, eu acho que queria fazer uma coisa diferente. Queria fazer um disco que não fosse apenas focado em mim, claro que o “Immigrants” também tem vários convidados, mas eu queria fazer um disco ainda mais colaborativo. Eu aprecio verdadeiramente as colaborações e aprendo muito com os artistas com quem trabalho. Então do meu ponto de vista eu queria encontrar uma plataforma de expressão da Identidade, porque há tanta discussão nas redes sociais, na imprensa, que está realmente a condenar as identidades das pessoas. Por alguma razão as pessoas sentem necessidade de atacar as identidades de outras pessoas, e eu não estava a observar muitas abordagens positivas do tema Identidade, pelo contrário, estava a observar muitos ataques, seja relativamente à identidade sexual, racial, identidade nas suas diferentes formas. Senti uma atmosfera de desaprovação em vez de uma atmosfera de experiência positiva e orgulho, e isso era o que eu realmente queria fazer.

Do meu ponto de vista eu queria encontrar uma plataforma de expressão da Identidade, porque há tanta discussão nas redes sociais, na imprensa, que está realmente a condenar as identidades das pessoas.

Nitin, tenho um desafio para ti: podes expressar em três frases diferentes quem eras tu em Beyond Skin, Human e Identity?
Nitin: Em Beyond Skin eu estava a tentar reconciliar-me com o passado, e a olhar para ideias como nacionalidade, religião e raça parecem aprisionar-nos, e como é importante descobrir-nos a nós próprios para além dessas prisões.
O Human foi um disco autobiográfico, em que eu olhei para toda a minha vida e as minhas experiências e fiz um álbum que foi realmente uma viagem através da minha vida.
Com Identity é um álbum colaborativo em que eu quis convidar pessoas para termos uma plataforma juntos para expressar o que eles são.
Todos eles estão conectados mas são diferentes de várias formas também.

Por último e não menos importante, como vão ser os concertos em Portugal?
Nitin: Estou muito entusiasmado, somos só cinco em palco, mas estou muito confiante, são bons amigos e artistas incríveis, por isso estou muito orgulhoso em apresentar este espectáculo em Portugal. O concerto vai ser uma combinação do disco Identity, Immigrants mas também será uma viagem entre música e sentimentos que eu espero que toda a gente se queira juntar!



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